"Aquela noite"
Quando minha irmã nasceu eu tinha 10 anos,não eramos irmãos do mesmo pai,e o namorado da minha mãe na epoca não era muito bom pra ela, então desde que a Meggie nasceu,minha mãe cuidou dela sozinha. Depois de uns 3 anos,não sei se por interesse ou amor,minha mãe resolveu voltar com o meu pai. Acho a primeira opção mais certa,eles nunca se deram bem e a pensão que o pai da Meggie mandava não era muita.
Quando a Meggie nasceu,eu me sentia responsável por ela,sentia que precisava olhar ela o tempo todo,ajudar ela quando precisasse,acho que pensava por me responsabilizar um pouco por ela crescer sem o pai. Em uma discussão vi o Baastô,meu antigo padrasto,falar que não precisavam de duas crianças,que eu era o "suficiente",ele sugeriu um aborto,mas minha mãe recusou,e o trato foi que ele ficaria até o final da gestação,iria ajudar com roupas,hospitais e coisas para o bebê,mas depois que ela nascesse ele iria embora. Pelas palavras dele: "Não vou aguentar dois filhos seus na minha vida,já basta as merdas que eu tenho que passar por você!".
Me lembro como se fosse ontem da noite que a Meggie morreu. Minha mãe,Delly,ficou arrasada. E eu também. Ela foi atacada por um bando de cachorros de rua enquanto passávamos pelo parque. Eu estava com ela no momento exato em que aconteceu,e eu não fiz nada... Isso foi a 3 anos,a Meggie tinha 5 e eu 15,já fazem anos e eu ainda não superei. Levei uma mordida de um dos cachorros,e toda vez que eu olho pra a cicatriz,eu lembro dela,lembro do dia,lembro da culpa,lembro do funeral e que a única coisa que minha mãe conseguiu falar além de chorar foi gritar bem alto: "Traga a Meggie de volta,filho,por favor!"
Eu não podia e nem posso trazer ela de volta,mas meu sonho era que eu pudesse,de algum jeito.
Nesses três anos,quase morri de orvedose duas vezes,entrei para a terapia,e comecei a ter sonhos constantes com a Meggie,ela sempre tentava falar alguma coisa,eu sentia isso,mas so nós encaravamos e eu sentia mordidas em todo meu corpo,talvez ela queira que eu sinta a mesma dor que ela,talvez a culpa seja realmente minha...Acordo na cama de casal,felizmente esses sonhos tem parado um pouco,minha camisa branca está desabotoada,sinto as meias da mesma cor esquentar meus pés no meio do frio do quarto,minha calça jeans preta se destaca em meio a tanto branco,quanto do quarto e das minhas vestimentas. Meu cabelo preto está caído sobre meus olhos fechados,mas quando abro,um castanho escuro aparece e vejo o sol entrando pela janela. Está sol,mas o frio é inexplicável.
Me viro e olho para o teto,fecho os olhos e respiro fundo,as vezes é triste ver que você acordou denovo.
Sinto uma ardência nos pulsos,olho para eles e vejo vários cortes que eu faço em mim mesmo com minhas próprias unhas enquanto durmo,quando sonho com a Meggie é tão real que faço coisas que não queria dormindo,por isso faço terapia,tentei vários tratamentos para Sonambulismo mas nenhum deles funciona. Esses casos são normais pra "pessoas como eu",todos os médicos falaram isso,odeio quando falam como se eu não fosse normal.
Meu celular toca,pego-o encima da cabeceira.
-Alô?- Falo com voz sonolenta enquanto me sento na cama.
-Oi,Trevor?- Uma voz feminina fala no telefone,estou com sono de mais pra calcular quem é.
- É ele,quem que tá falando?- Pergunto apoiando minha cabeça em braço e esfregando o olho para acordar.
- É a Michaelis,cabeção!- Michaelis é uma das minhas melhores amigas,conheço desde dos 5-6 anos. Desde então nunca nos separamos,sempre ajudamos um ao outro com qualquer coisa,gostamos das mesmas coisas,discutimos por motivos mais idiotas que existe e depois voltamos a nos falar,quando criança nossos pais faziam brigadeira de que íamos nos casar,mas nunca passou de amizade verdadeira.- Ah,é você- Falo em ironia no telefone.
- "hahaha" tô morrendo de rir.- Ela responde da mesma forma,consigo imaginar ela revirando os olhos atrás do telefone. -Então,como você está?- Ela me pergunta e suspira.
-Tô bem,por que?- Ouso ela travar a voz antes de prosseguir.
-Nada,é por que... - Ela pausa novamente,procurando a palavra certa. - Sabe que dia é hoje?- Paro pra pensar,na última vez que eu olhei o calendário era 15 de abril,não sei quanto tempo eu durmi.
-Não,não sei.- Falo me levantando e indo até o espelho do banheiro do meu quarto.
-17 de abril...- Ela para esperando eu lembrar,sem resposta diz.- Amanhã faz 4 anos que a Meggie morreu,vai visitar sua mãe,né?- Apoio as mão na minha.-Puta merda- Resmungo baixo.
-Você se esqueceu?- Ela quationa no telefone.
-Não,é que eu durmir por 2 dias...-
-Sério,Trevor? Não pode fugir dos seus problemas, você sabia?- Ela grita comigo.
-Tudo bem,relaxa,eu vou ver minha mãe. E aliás,não precisa me lembrar que dia é 18 de Abril,eu sei exatamente que dia é e o que aconteceu nesse sábado a 4 anos as 13:56 da tarde.- Falo com um pouco de raiva.Odeio quando alguém me avisa sobre uma data ou feriado importante,se essa merda fosse importante não precisaria avisar,e se ainda preciso trabalhar ou ir pra universidade,pra mim não é feriado.
Mas esse dia... Esse dia,essa data ficou marcada na minha vida,foi quando tudo começou a dar errado,quanto tudo começou a girar ao meu redor não do jeito positivo. Senti tanto ódio,tanta tristeza,eu não sabia como reagir,mas nesses anos,eu nunca consegui chorar pela morte dela,não enquanto estive sóbrio,pelo menos.
O pai dela não apareceu no funeral,e ele nunca veio ver o memorial dela,ele fica no escritório antigo da minha mãe,todo noite ela vai lá e acende uma vela ao lado de sua foto,só fui lá 3 ou 4 vezes,isso só no começo,as vezes acho que estou superando a morte dela,não do jeito "Segue em frente,ela ficaria feliz...",não,só jeito:"Por que eu fiquei triste com isso,já passou,não tem o que fazer,me preocupar pra que?" Quem eu quero enganar? Eu penso nela todo dia...
Já que amanhã é o grande dia,resolvi ir a terapia,preciso muito falar alguém sobre isso,e com minha mãe e com meu pai que não vai ser.
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CONEXÃO
FanfictionDepois de se culpar bastante pela morte de sua irmã mais nova,o filho de uma família muita rica resolve entrar em contato com sua irmã através de rituais,mas descobre coisas que talvez tornem a morte de sua irmã,não mais um acidente. +16 Linguagem i...