Noite das garotas

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Victória mal sentiu as pernas quando se jogou no sofá de casa, no domingo à noite. De manhã, fora para a escola com Brenda porque precisavam consertar o estrago que fizeram com as tintas nas paredes. A amiga contou que Teresa estava muito brava com ela, por causa do que aconteceu e mal estavam se falando. Para variar, a obra demoraria alguns dias para ficar pronta. Como se não bastasse, quando Victória chegou em casa, teve que se arrumar às pressas para ir trabalhar. 

Porém, algo diferente acontecera. Servira o novo prato do cardápio para um grupo de empresários e, no final, eles mandaram chamar Monique. No começo, Victória achou que tinha algo errado. Mas quando a mãe apareceu, os caras quiseram cumprimentá-la e encheram a comida dela de elogios. Victória ficara no canto, observando. Em algum momento, fora tomada por uma emoção nova, diferente. Quis sorrir para a mãe e dizer coisas como “estou orgulhosa de você”, mas não fez nada disso. 

De alguma forma, os elogios fizeram Monique passar o dia todo alegre e agitada. Seus olhos ainda brilhavam quando elas estavam no carro mais tarde, voltando para casa. Victória quis tanto falar algo, mas se viu incapaz. Era horrível nessa coisa de demonstrar sentimentos. Então, quando Monique sugeriu que elas deviam sair para comemorar, a menina não se opôs. Por mais cansada que estivesse, daria essa felicidade para a mãe.

Agora, estava descansando por dez minutos antes de se arrumar para ir onde Monique quisesse. 

— Quer vir com a gente? — perguntou a mulher, quando viu Emily entrando na sala. A garota realmente cumpriu com sua parte no acordo e pintou os cabelos de preto. De alguma forma, conseguira ficar ainda mais bonita. Ela contou às pessoas que quis mudar o visual, mas por outro lado, Monique não fazia ideia de que Emily passara uma noite na casa de um garoto.

— Pra onde? — Emily perguntou.

— Abriu um parque de diversões novo lá no centro. Abre às sete da noite. Sempre passo lá em frente e fico pensando em levar vocês. Acho que podem se divertir, já que o jovem adora andar naqueles brinquedos malucos. — Ela abriu um sorriso enorme. — Vamos ter uma noite das garotas. 

Victória pensou em reclamar, mas não conseguiu. Não teve coragem de sequer falar não para a mãe. Porém, Emily a encarou e disse:

— Tudo bem se eu for, prima? 

Victória deu de ombros, como se não importasse.

— Por mim…

Emily sorriu e deu palminhas, animada.

— Vou tomar banho! — E correu escada acima.

Victória arregalou os olhos e correu atrás.

— Ei, eu já ia pro banho! Você roubou minha vez! 

Mas era tarde. Quando a menina alcançou a porta do banheiro, já podia ouvir o barulho do chuveiro. Agora, seria uma eternidade até ela conseguir se arrumar. 

Vinte mil horas depois (nem tanto), Emily saiu do banheiro, com o vapor da água logo atrás. O local se transformou em um forno, porque a prima só sabia tomar banho com a temperatura no fogo dos infernos. 

Quando Victória terminou de se arrumar, a mãe e a prima já esperavam na sala. Elas saíram de casa pouco depois.

Monique e Emily passaram o trajeto todo tagarelando, enquanto Victória se isolou com seu novo fone de ouvido. Olhou o movimento pela janela enquanto deixava rolar a playlist das músicas do Linkin Park. Por um breve momento, seus pensamentos se elevaram até Eric e permaneceram. Não se esqueceu das expressões do rapaz, fazendo um jogo secreto com ela enquanto jogavam UNO com Brenda. E depois a conversa deles na calçada de casa, a forma como reagiu a Rafael, como se tivesse ciúmes, de alguma forma. Ah, e o mais importante: o beijo no Jardim Botânico. 

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