Emily soltou uma risada estranha, transtornada com toda a situação. Em partes, divertiu-se ao ver o novo sofrimento no rosto da prima.
— Tia Monique traiu o tio Joaquim com o meu pai e engravidou dele! — prosseguiu. — Você é minha irmã, sua idiota, foi por isso que eu vim pra São Paulo. Descobri tudo, mas eu queria ser sua amiga, tentei fazer tudo do jeito certo, mas foi impossível! Já vi que você nunca vai mudar.
Victória empalideceu e toda aquela marca de dor sumiu de seu rosto. A raiva começou a se desfazer e um sentimento paralisante entrou em ação, como veneno agindo em seu sangue.
— Mentira.
Emily balançou a cabeça, a voz branda ao dizer:
— Herdei a personalidade da minha mãe e a aparência do meu pai. Se sou parecida com o seu, é porque eles eram gêmeos. Não tem nada que eu possa fazer pra mudar isso, por mais que pinte o cabelo. Agora, a sua personalidade é do meu pai. Vocês adoram se trancar nos lugares pra ficarem sozinhos lendo seus livros idiotas! Vocês odeiam contato social e são extremamente observadores. Você nunca percebeu? E mesmo sem terem muita convivência, são iguais. E mesmo eu também sendo filha dele, sempre ficou óbvio que ele te amava mais.
Victória tapou os ouvidos de novo.
— Para de falar, por favor, para!
— A verdade dói, né, priminha? Meu pai teve um caso de uma noite com tia Monique, ela engravidou e fizeram o teste de DNA. Eles esconderam de todo mundo durante sete anos que você não era filha do tio Joaquim. Um dia, minha mãe descobriu e brigou com meu pai. Ele foi forçado a conversar com os líderes da igreja que pastoreava na época. E sabe o que aconteceu? Tiveram que transferir meu pai pra igreja de São Paulo, por medo que esse caso de adultério vazasse e causasse escândalo. E a igreja era bem maior. Ou seja, meu pai peca e em vez de ser corrigido, foi promovido. É por isso que nos mudamos pra Santos, com as nossas famílias brigadas.
Victória não conseguiu falar mais nada. Qualquer argumento que tivesse sumiu e as lágrimas a tomaram por completo. Abaixou a cabeça e entrou em prantos. Emily ficou do mesmo jeito. Ambas em transe, envolvidas demais na própria dor.
— Mas o que está acontecendo aqui?! — berrou o diretor, finalmente conseguindo espaço para se aproximar das meninas. — As duas na minha sala, agora! — Então encarou a multidão e disse: — Todos para suas salas! Não pensem que vão se safar disso! Vou pensar em um castigo coletivo pra todos vocês!
Só então a multidão começou a se dispersar e todos foram embora. Depois, o diretor levou as meninas até sua sala e as fez se sentar de frente para ele. Era notório o quão abaladas elas estavam. Ambas encharcadas de chuva. Emily com os olhos pretos, o rímel escorrendo. E Victória pálida, com o olhar fixo em algum ponto da mesa, como se não estivesse ali.
— Meninas, assim não dá — ele começou. — Vocês chegaram ao ponto em que os outros alunos se recusaram a ouvir as ordens dos inspetores só pra ficarem vendo a briguinha de vocês. Então, qual das duas vai começar a falar?
Emily fungou.
— Em primeiro lugar, senhor, eu peço desculpas por toda a confusão. Não estava pensando na hora, mas… aconteceu uma coisa que me afetou muito.
— Ah, Emily. Você sempre foi uma menina tão aplicada aos estudos. Por que agiu desse jeito hoje? Com o histórico de Victória, é de se esperar que isso acontecesse com ela. Mas você… não entendo.
Emily respirou fundo e desejou chorar ainda mais ao notar a decepção em seus olhos.
— Me desculpa, mas… esses dias eu precisei ajudar um amigo e a Victória saiu espalhando pela escola que eu estava traindo meu namorado com ele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Vilã
Teen FictionVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...