Prólogo
É estranho como a mente pode ser uma prisão. Todos dizem que o passado nos define, mas como posso concordar, se para mim o passado é uma névoa, um vazio com ecos distantes que nunca consigo tocar? Dois anos. Isso é tudo que tenho. Dois anos em Forks, a cidade onde os dias são cinzentos e as noites abafadas pelo som da chuva.
Sou uma detetive condecorada, é oque dizem. Alguém que já resolveu casos importantes, alguém que dever sentir orgulho do que conquistou. Talvez eu já tenha sentido isso. Mas, se um dia houve uma chama em mim, ela agora se apaga mais e mais a cada noite que passa. A cada minuto em que tento lembrar e encontro o mesmo abismo sem fundo, algo dentro de mim morre um pouco.
O que mais me assombra, no entanto, não é o vazio de não saber quem eu era. É a sensação constante de que deveria saber. Como se houvesse algo ou alguém me esperando. Às vezes, nos corredores escuros da minha casa, sinto como se algo estivesse nas sombras, me observando, apenas esperando. É estranho e ridículo, mas em algumas noites, penso ver uma figura com um manto escuro, como uma sombra envolta em vermelho. Mas então a visão se desfaz e a dúvida se instala.
Na delegacia, ninguém parece notar minha solidão. Sou uma boa detetive, faço meu trabalho com precisão. Meus colegas respeitam meu trabalho, talvez até me admirem, mas todos mantêm distância. E eu não os culpo. Eu mesma me mantenho afastada. Afinal, como se pode criar laços quando se sente tão vazia?
Tudo mudou no dia em que o vi. Não sei explicar o que acontece quando aqueles olhos me observam. Amarelos como ouro líquido, olhos que parecem desvendar meus segredos mais profundos. Carlisle Cullen. Sei que ele trabalha no hospital da cidade. Dizem que ele tem uma esposa e filhos adotivos. Mas o que mais sei sobre ele, ou melhor, o que sinto, é inexplicável. Toda vez que nossos olhares se encontram, meu coração bate como se estivesse correndo a mil por hora, como se quisesse escapar do meu peito e me levar junto.
E ele sabe. Sei que ele sabe. Carlisle sempre me observa com um olhar que me faz sentir exposta, como se me conhecesse melhor do que eu mesma. O modo como ele diz meu nome... Ágata. Simplesmente, Ágata. Às vezes, eu me pergunto se ele se lembra de algo que eu não sei se ele me conhecia. Às vezes, a intensidade no olhar dele me faz pensar que eu era alguém importante para ele. Mas quem? Uma amiga? Uma conhecida? Alguém que perdeu o caminho para chegar até aqui?
Numa noite chuvosa, enquanto estava no meu carro, vi algo que mexeu comigo. Eu estava sozinha, patrulhando as ruas vazias de Forks, quando vi uma sombra passar rapidamente à frente dos faróis. Era apenas um vulto, mas meu coração parou. Algo nela me parecia familiar, quase como um reflexo sombrio de mim mesma. No mesmo instante, senti como se algo no meu peito estivesse tentando escapar. Como se uma parte esquecida de mim estivesse tentando gritar.
E então, uma visão – olhos vermelhos, tão vermelhos quanto o sangue, olharam para mim através do espelho retrovisor. Fria e indiferente, ela me observava. A sombra se foi tão rapidamente quanto apareceu, mas o medo ficou, impregnado nas minhas veias como um veneno que não consigo expurgar.
Acordei na manhã seguinte com um nome sussurrado nos meus lábios: Scarlet Witch. Era como se essa palavra tivesse vida própria. Eu não sabia de onde ela vinha, mas parecia gritar dentro de mim. Uma força antiga, sombria, reprimida. Algo que, por alguma razão, me era familiar e assustador ao mesmo tempo.
Minhas investigações sobre Carlisle e sua família não me levam a lugar algum. Eles são todos cuidadosos, tão cuidadosos que qualquer outra pessoa acharia que não têm nada a esconder. Mas eu sei que há algo mais. Vejo isso nos olhos dourados de Carlisle e, de uma maneira menos intensa, nos de seus filhos. Talvez ele tenha as respostas que procuro, mas não posso simplesmente perguntar a ele.
Nos dias que se seguem, vejo Carlisle cada vez mais frequentemente, como se o destino estivesse decidido a nos cruzar. Às vezes, ele está no hospital, outras vezes apenas passando pela cidade, com um leve aceno de cabeça quando me vê. Ele nunca se aproxima demais, como se respeitasse uma barreira invisível entre nós, uma barreira que nem eu mesma entendo.
Um dia, ao sairmos juntos do hospital após um exame de rotina, ele parou ao meu lado, o silêncio pesado entre nós. Ele olhou para mim, e, pela primeira vez, falou algo que me fez estremecer:
— Ágata, você realmente não se lembra, não é?
O tom de voz dele não era o de um médico educado, mas o de alguém ferido, alguém que ainda carregava uma cicatriz. Não soube o que responder. Como poderia? Eu só balancei a cabeça em negação. Sua expressão de dor durou apenas um segundo, mas foi suficiente para me fazer sentir que eu era a causa dessa tristeza. Por quê? O que ele sabia sobre mim?
Desde então, o nome Scarlet Witch continua a aparecer em meus sonhos, como uma lembrança ou um eco sombrio. Estou dividida entre o medo de descobrir quem fui e a necessidade de entender o que me trouxe até aqui. Quem eu era antes de Forks? Por que não consigo me lembrar de nada? E por que sinto que esse nome – Scarlet Witch – tem alguma conexão profunda comigo?
As noites passam, e a presença sombria daquela figura vermelha continua me atormentando. Há momentos em que tenho a impressão de que essa Scarlet Witch me espera. Mas o que ela quer? E quem ela é para mim?
Carlisle... Ele é a única âncora nesse oceano de incertezas. Sinto que ele me conhece, talvez melhor do que eu mesma. Mas tenho medo de saber o que ele sabe. Tenho medo de que, ao descobrir quem eu era, acabe despertando a escuridão que há tanto tempo tenta me atrair.
★★★
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Divine Error - Carlisle Cullen
Про вампировÉ estranho como a mente pode ser uma prisão. Todos dizem que o passado nos define, mas como posso concordar, se para mim o passado é uma névoa, um vazio com ecos distantes que nunca consigo tocar? Dois anos. Isso é tudo que tenho. Dois anos em Forks...