Capítulo 2 - Desespero...Yong.

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Festival Internacional de cinema ­- Pequim, China.

Começo do verão no Hemisfério Norte...

O vento bate forte em meu rosto, forçando meu corpo para trás, como se quisesse me segurar... De onde estou posso ouvir o som da cidade, ver os edifícios com suas luzes que acendem e apagam como lâmpadas de natal; pessoas acordam e outras vão dormir e nesse movimento frenético a cidade permanece viva durante toda a madrugada. Fico observando feito criança os carros que passam nas avenidas, eles ficam tão pequenos vistos desse ângulo que parecem brinquedos. Daqui de cima tudo me distrai, a vista do último andar de um prédio é embriagante, acalma, mas ao mesmo tempo é uma descarga de adrenalina. Ter nas mãos o destino da própria vida é um sentimento estranho, um misto de poder e fraqueza, uma sensação que sempre toma conta do meu corpo; desafiar a morte é algo desesperador e tem me mostrado a total falta de controle que tenho tido sobre meus sentimentos nos últimos meses.

Quase como um vício, termino minhas noites nas coberturas dos hotéis onde me hospedo, não consigo dormir, fico estagnado, sentindo a solidão do mundo. Meus dias são cheios e minhas madrugadas totalmente vazias. Depois de encher a cara com qualquer uísque que encontro, fico sentado no parapeito dos edifícios, em silêncio, balançando as pernas sobre o abismo abaixo de mim. Não passo esse tempo filosofando sobre minha vida, não procuro culpados, nem me culpo, simplesmente são horas a fio de um vazio sem sentido, tentando encontrar uma explicação para a loucura que me acompanha.

Trabalhei duro para ser reconhecido, ter a fortuna e a fama que tanto sonhei. Em alguns anos conquistei o planejado; só demorei para entender que consegui o que queria, mas não o que precisava e acabei perdendo o que a maioria das pessoas encontra sem ter nenhum centavo... Felicidade!

Não consigo escolher estar bem, não sei tirar aqui de dentro essa sensação ruim e isso me faz viver como um vulto pertencente às sombras do meu próprio destino, acreditando que parece mais fácil ser feliz quando não se tem nada, do que quando o mundo inteiro está aos seus pés. Não sei mais onde me agarrar, é como se as correntes se quebrassem e eu estivesse sendo jogado, vivendo por um fio. Não bebo para ficar bêbado, mas para não ter que encarar esse descontrole. Vivo entorpecido em telhados, fugindo da minha própria realidade, ateando fogo ao que me corrói sem me matar.

Chego ao limite quase todas as noites, vendo minha vida como se eu estivesse do lado de fora, interpretando personagens, vivendo uma farsa. As cenas vão e voltam em minha cabeça com uma velocidade absurda, me enlouquecem... E esse sentimento é tão forte, que às vezes fico perdido, cercado de críticas e cobranças, querendo escapar de tudo isso que não consigo mais controlar.

Mais uma vez me pego sentado em uma cobertura qualquer, com a vida nas mãos, podendo escolher entre me segurar ou saltar. Sinto o desespero tomar conta dos meus sentidos, fecho os olhos, meu coração dispara, as lágrimas correm mais rápido. O vento me pressiona com mais força, lentamente solto o peso para frente, meu cérebro é um buraco negro, não penso em mais nada. Nenhuma emoção, nada de sofrimento, aceito que algumas vezes ultrapassamos os limites da razão e perdemos o controle. Percebo que meu corpo pode flutuar, o vazio toma conta da minha alma... Uma sensação cruel de liberdade me invade e sem arrependimentos posso me deixar levar.

Eu não EsperavaOnde histórias criam vida. Descubra agora