Estava mergulhada nos últimos capítulos de um romance arrebatador quando Rosane entrou abruptamente em meu quarto, sua expressão severa enquanto começava a recolher as roupas que eu havia deixado espalhadas pelo chão. Sua entrada tão súbita quebrou o encanto das páginas que lia.
— Tinha esquecido que você tem tendência a ser amante! — ela disparou, empilhando minhas peças de roupa com uma eficiência irritante.
As palavras me atingiram como um soco no estômago. Arregalei os olhos, chocada, e por um momento, minha voz se perdeu no emaranhado de medo e surpresa. Como Rosane poderia ter descoberto algo sobre mim e Roberto? Será que tínhamos sido realmente tão descuidados?
Engoli em seco, meu coração acelerado palpitando contra as costelas enquanto ela, ignorando minha crise silenciosa, marchava em direção ao banheiro com um monte de roupas nos braços. Eu mal conseguia acompanhar seus movimentos, perdida em um mar de ansiedade.
— A vizinha reclamou que você estava escutando funk proibidão quando não estávamos em casa. Ela tem um filho de nove anos que começou a cantar as letras. — Rosane retornou do banheiro, cruzando os braços enquanto fixava um olhar reprovador em mim.
Minha mente ainda girava com as implicações de suas primeiras palavras, mas aos poucos, comecei a entender o mal-entendido.
— Por isso você disse que tenho tendência a ser amante? Por gostar de funk? — Minha voz saiu mais aguda do que pretendia, a incredulidade tingindo cada sílaba.
Era como se uma linha fina tivesse sido cruzada entre o normal e o surreal, e eu estivesse dançando sobre ela.
Rosane me olhou com uma expressão quase divertida, mas tinha uma sombra de impaciência nos olhos dela. A raiva dela podia ser implacável às vezes, principalmente quando ela estava escondendo algo tão importante da nossa mãe.
— Óbvio, Nina. Eu teria outro motivo? — Ela arqueou uma sobrancelha, os olhos fixos nos meus com aquela familiaridade desconcertante.
— Não, só achei preconceituoso atribuir funk a amantes — rebati, tentando manter a voz firme, mas sentindo meu estômago revirar.
Rosane suspirou, os lábios se curvando em um sorriso irônico que não chegava aos olhos.
— Sem militância, Nina. — Ela balançou a cabeça, quase como se estivesse rindo de mim, e lançou um olhar severo. — Sua irmã mais velha já tem problemas demais com a nossa mãe chegando amanhã.
Ela saiu do quarto e assim que a porta se fechou, me deixei cair na cama, afundando na colcha macia. O som de passos da Rosane diminuindo no corredor, mas a energia dela ainda permanecia no ar, pulsante. Fiquei ali parada, tentando me recompor, me perguntando se ela realmente não desconfiava.
Senti o alívio relaxar meus músculos por um instante, mas a mente ainda rodava. O peso de nosso segredo ainda pairava sobre mim, apertando meu peito como uma corda que apertava cada vez mais. Era como se cada palavra e cada olhar de Rosane fossem um lembrete de que estávamos sempre a um passo de sermos descobertos.
E agora, com a visita de minha mãe, tudo parecia ainda mais complicado. Se Rosane desconfiasse de alguma coisa, a presença da minha mãe só intensificaria o caos. Ela era uma daquelas pessoas que enxergavam além das palavras, que viam a verdade nas entrelinhas. E se ela desconfiasse do que eu estava vivendo, as consequências seriam incalculáveis.
Meu celular vibrou ao meu lado, me tirando daquele turbilhão de pensamentos. Roberto. Senti o coração dar um salto, um misto de alívio e ansiedade.
— E aí, como você tá, meu amor? — ele perguntou, a voz suave, mas com aquele toque de preocupação que ele tentava esconder.
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Conexão Obscena
Teen FictionQuando Marina, a cunhada de Nascimento, vem passar um tempo na casa deles para se preparar para um concurso, ele a vê apenas como uma responsabilidade extra em sua já tumultuada vida. No entanto, a proximidade diária e as conversas inesperadas revel...