intrusa

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Acordei com uma claridade irritante batendo direto no meu rosto. Tentei abrir os olhos, mas uma dor latejante me fez recuar. Minha cabeça parecia que ia explodir, e meu estômago estava embrulhado. Definitivamente, eu bebi demais ontem à noite. Tentei puxar pela memória, mas tudo o que vinha era um borrão.

Com um gemido, fiz força para me levantar, mas meu corpo inteiro doía. Cada músculo parecia gritar em protesto, e senti que talvez fosse melhor não me mover. Enquanto eu me ajeitava de volta na cama, alguns flashbacks começaram a surgir, como pedaços de um quebra-cabeça incompleto. Vi o rosto da Minji, os olhos dela cheios de raiva. De repente, lembrei de nós duas discutindo, e depois, ela me atacando.

Meus dedos automaticamente tocaram alguns hematomas que começavam a aparecer. Cada toque me trazia uma memória mais nítida — Minji me empurrando, a confusão, eu tentando me defender. Foi tudo tão rápido que, na hora, parecia um pesadelo.

Deitada ali, olhando para o teto, me senti dividida. Parte de mim estava furiosa com ela, com a situação toda, mas outra parte só queria entender o que realmente aconteceu.

Eu ainda estava tentando reunir as peças da noite anterior, tentando entender o motivo da briga que parece ter causado esse caos. Minha cabeça doía, e o quarto ainda girava um pouco, quando a porta se abriu de repente, revelando Jihoon com uma expressão séria.

— Você acordou — ele disse, entrando com uma caixa de remédio na mão. Ele se aproximou da cama, o olhar preocupado fixo em mim. — Eu te trouxe pra minha casa. Se você chegasse na sua, nesse estado, eu nem sei o que teria acontecido.

A ficha foi caindo devagar. Uma mistura de vergonha e gratidão me invadiu. Jihoon sempre esteve lá por mim, mas vê-lo tão sério, cuidando de mim com tanto cuidado, me fazia perceber o quanto ele se importava de verdade.

— Você lembra o que aconteceu? — ele perguntou, enquanto me entregava um copo d’água junto com o remédio.

Eu ainda tentava organizar as lembranças borradas da noite passada. Fragmentos vinham à tona: a festa, Taehyung no palco, a minha hesitação em ficar, a insistência de Jihoon, a primeira bebida... e depois, Jungkook. A imagem do olhar dele, me acertou em cheio. E então, a lembrança do beijo — o beijo que mudou tudo.

Eu me lembrei da sensação dos lábios dele nos meus, uma mistura de raiva e desejo que parecia impossível de ignorar. A tensão entre nós havia atingido seu limite naquela noite. Mas o que era pra ser um momento de conexão acabou desmoronando rápido, transformando-se numa discussão feia.

— Foi ele de novo, né? — Jihoon perguntou, observando a minha expressão enquanto eu tentava lidar com as lembranças que surgiam.

Ele suspirou e se sentou ao meu lado, parecendo dividir o peso das minhas frustrações.

Eu suspirei e tomei o remédio, tentando afastar a lembrança.

Eu olhei para Jihoon, ainda tentando reunir a coragem para dizer a verdade. As palavras estavam presas, mas eu precisava tirá-las de dentro de mim, mesmo que aquilo doesse. Senti minha garganta apertar, e meus olhos vagaram pelo rosto de Jihoon, esperando que ele me escutasse.

— Jihoon, eu beijei o Jungkook ontem — eu confessei, a voz quase um sussurro. Senti meu rosto esquentar, o peso da vergonha se misturando à dor das lembranças.

Parei por um momento, tentando manter a compostura, mas as palavras começaram a se enrolar dentro de mim, e de repente eu não consegui mais falar. Minha mente foi invadida pela imagem daquele beijo. O calor, a intensidade dele, a maneira como ele havia segurado minha cintura... e o jeito como me deixou indefesa logo depois.

Eu levantei o olhar, encontrando o de Jihoon. Ele parecia surpreso, chocado, e o silêncio entre nós parecia durar uma eternidade. Seus olhos transmitiam uma mistura de incredulidade e preocupação, e ele abriu a boca como se fosse dizer algo, mas parou. Talvez estivesse escolhendo as palavras, talvez apenas tentando entender o que acabou de ouvir.

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