Victória não esperou os três dias passarem para ir embora da casa de Davi. Era uma manhã calorosa de sábado quando a menina arrumou suas coisas, despediu-se do garoto, que estava bem abatido, e saiu. Ela não questionou o motivo porque ele estava tão chateado. Mas sabia que isso só poderia ter a ver com Emily ou com seu tio internado no hospital.
Chegando em casa, Victória respirou fundo antes de abrir a porta da sala. Ficou aliviada e um pouco apreensiva por ter visto o carro da mãe na garagem. Sabia que ainda a encontraria lá.
Quando entrou na sala, ouviu o som da televisão e encontrou Emily sentada no sofá, tomando uma tigela de cereal com leite. Quis dar meia volta e ir embora. Seu desejo de encontrar a prima era ainda menor que o desejo de ver a mãe.
No entanto, ela se aproximou e sentou na poltrona ao lado, observando a imagem dos filhotes de gatos nos braços peludos de um homem, na televisão.
— O que é isso? — questionou.
— Um documentário sobre animais resgatados das ruas. Esses gatos foram encontrados no…
— Tá, eu não quero saber. Nem sabia que você gostava desse tipo de coisa.
Emily não arriscava olhar para ela. Agora que estava um pouquinho mais controlada, não queria que nada lhe tirasse o controle mental.
— Tem muita coisa sobre mim que você não sabe. — Quando Emily ergueu a mão para levar um pouco de cereal aos lábios, Victória percebeu que ela não estava mais com o anel de compromisso. A imagem a deixou meio atordoada, mas não comentou nada sobre o assunto.
— E não quero saber. Onde tá minha mãe?
— No quarto, se arrumando pra trabalhar.
Então, Victória ficou de pé. Sentiu-se um pouco atordoada pela forma fria e distante com a qual Emily a tratou. Não parecia ela.
Quando entrou no quarto de Monique, viu-a na frente de um espelho, terminando de encaixar um brinco na orelha. A mulher se virou ao ver a menina parada perto da porta e o coração disparou em nervosismo. Estaria preparada para enfrentá-la nos próximos dias, não tão cedo.
— Victória, não te esperava aqui hoje.
— Quis vir mais cedo.
Monique engoliu em seco, não havia nenhuma emoção no rosto da filha.
— Por que não senta na minha cama? Vou te explicar tudo, eu prometo.
Ela tirou a mochila das costas e sentou, escorada na cabeceira. Olhou para o lado e viu uma foto de Joaquim, estampada num porta-retrato. Pegou-o e passou os dedos pela fotografia. Quase sorriu.
— Você guarda essa foto como o amasse.
— Eu amava.
A menina ergueu os olhos para a mãe, com uma emoção surgindo neles.
— Quem ama não trai. Ele era um bom homem, não merecia o que você fez.
— Eu sei, não quero me defender. Cometi um erro mesmo. Quase me custou o meu casamento.
— Não quero ouvir seu lado da história. Eu voltei porque precisava falar sobre a decisão que tomei.
— Qual?
— Eu quero ir pra casa dos meus avós, em Minas.
Monique arregalou os olhos. Nunca imaginou que uma coisa dessas sairia da boca de sua filha.
— Por quê?
Victória suspirou.
— Porque preciso me afastar de tudo, mas principalmente de você. Nos últimos dias aconteceram coisas demais na minha vida e foram muito pesadas. — Seus olhos marejaram e a voz vacilou. — Eu não estou bem.
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A Vilã
Подростковая литератураVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...