O maior ato de covardia

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Quando Monique e Vicória estavam prontas, passaram pela sala e a mulher avisou Emily que estava indo para o trabalho. A menina mal reagiu, encolhida no sofá. Assim que mãe e filha entraram no carro, Victória perguntou:

— Por que a Emily tá daquele jeito?

Monique deu partida. 

— Não sei. Pior que estou preocupada. Ontem cheguei em casa e encontrei um monte de comida pela metade na cozinha. Os vidros de temperos estavam espalhados pela pia, junto com uma tábua e alguns legumes cortados pela metade. Tinha um monte de feijão numa panela de pressão, só que não estava totalmente cozido. Pior é que pouco depois, quando eu já estava consertando a comida, Emily entrou em casa, toda descabelada e um vestido que ela nunca ousaria sair com ele na rua. Estava agitada, nervosa e me pediu mil desculpas por ela não terminar o jantar. Depois, subiu pro quarto e foi arrumar as coisas dela. 

— Que bizarrice — Victória falou, olhando a rua pela janela. Tentou parecer desinteressada na prima, mas lá no fundo, preocupou-se. 

— É. E ela não me falou muita coisa, só que não tinha mais nada pra fazer aqui e precisava voltar pra Santos. Ela até ia embora hoje, mas só encontrou passagem pra amanhã cedo. 

— Entendi. — Victória pegou o celular e encaixou os fones. Queria desligar a mente com música. Quando acendeu a tela, viu mais uma mensagem de Brenda, deslizou o dedo e apagou a notificação. A menina era muito insistente, não parava de lhe mandar mensagens. Porém, Victória ainda estava aborrecida com a amiga e não queria falar com ela. 

Chegando ao restaurante, Victória ficou surpresa porque os funcionários a receberam com um abraço. Quis afastar todos, mas não soube reagir na hora. Aconteceu tão rápido. O último a abraçá-la foi Rafael, que sorria.

— Vocês tão exagerando. Fiquei dois dias fora e não dois anos — ela resmungou.

O rapaz suspirou.

— É muito bom ter de volta esse seu espírito de trabalho em equipe. Confesso, senti falta dos seus comentários sarcásticos.

Monique abriu um sorriso fraco.

— É, mas hoje será o último dia dela aqui. Minha filha precisa… fazer uma viagem e não sei quando volta. 

— Espero que logo — disse Rafael. — Então, vamos voltar ao trabalho. — Ele bateu palmas e todos voltaram ao que faziam. 

Na hora do almoço, Victória já tinha atendido umas cinco mesas, mas nenhuma delas lhe arrancou um sorriso tão sincero quanto ver o senhor Nicolau passando pelas portas. 

Por impulso, a menina correu e o abraçou forte. Ele deu risada, em choque.

— Você sumiu, hein, criança? 

Ela o soltou e ambos foram para uma mesa. Victória não se importou e sentou na frente dele. 

— Tive uns problemas de família, mas já tá passando. 

— Ah, que bom, viu? Porque já tem uns dias que eu estava querendo te entregar uma coisa. — Ele enfiou a mão no bolso do paletó e tirou alguns cartões de visita. Jogou-os na frente de Victória. 

— Que isso? — ela perguntou, passando os olhos neles.

— Contatos de algumas editoras, criança. Gosto muito das coisas que você escreve e vejo potencial. Mas infelizmente, na minha editora, não publicamos esse tipo de conteúdo.

Ela arregalou os olhos e soltou uma risada involuntária.

— Peraí, você tem uma editora? 

— Sim, você não sabia?

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