Um dia qualquer - parte 1

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Monique conversou com um de seus irmãos, que morava em Minas Gerais, a fim de perguntar quando ele poderia buscar Victória. O homem alegou estar com a agenda muito apertada e só confirmou que poderia viajar na outra semana. Então, Victória decidiu aproveitar os últimos dias em São Paulo para se despedir de alguns lugares. Passou a semana indo para a escola de boné e cabeça baixa. Desejou o anonimato. Decidiu que se formaria na Enricco Madeira, mas daria um jeito de ter as aulas online, à distância. 

Apesar de tudo, a menina era reconhecida por alguns colegas, que passavam por ela e a cumprimentavam, sorrindo um pouco. Victória se encolhia e queria sumir. Odiava toda essa exposição positiva na escola. 

Ela também fez de tudo para evitar se encontrar com Brenda ou Eric. Em vez disso, passou todos os intervalos no mezanino, olhando a rua pela janela, ou dentro da sala de aula. Sabia se esconder quando queria. No entanto, quando faltavam dois dias para ela ir embora, cometeu o erro de entrar na biblioteca. Seu intuito era se despedir do local no qual fora feliz por tantos anos. Quanto mais o dia da viagem se aproximava, mais ela sentia um aperto no peito. Descobriu que algo dentro de si era muito apegado à cidade. 

Então, Victória fez o de sempre. Entrou no corredor dos livros de fantasia e ficou passando os dedos pelas lombadas enquanto andava até o final. Desejou se sentar em sua mesa favorita pela última vez e sentir o cheiro do papel, ouvindo o som do silêncio. Mas enquanto caminhava naquela direção, bateu os olhos na mesa de Eric e ele estava ali, olhando para ela como se já a tivesse visto antes. 

Victória arregalou os olhos e girou nos tornozelos. Teve a tola esperança de sair sem ser vista, mas foi tarde. 

— Ei, Victória — disse o garoto, aproximando-se.

Ela fechou os olhos por um momento, fazendo uma careta, antes de se virar para ele e forçar um sorriso.

— Que foi? 

— Por que você tá vestida assim? Tá se escondendo de alguém? 

— Mais ou menos. 

Ele cruzou os braços.

— Fugindo de mim? 

— Não, até parece. — Ela riu, de um jeito descontrolado. Então, enfiou a mão no bolso da blusa e pegou um chiclete de hortelã. — O que você quer? 

— A gente precisa conversar sobre a Brenda. 

Algo mudou na postura dela.

— Por quê?

Ele bufou.

— Aqui não é um bom lugar. Que tal o jardim?

— Tá. 

Ele colocou a mão em suas costas, conduzindo-a para fora da biblioteca. Chegando no jardim, viram que o banco de concreto estava ocupado. 

— Pra onde…? — Eric perguntou, meio confuso.

Ela tocou seu braço.

— O carvalho. Vem comigo.

Eles foram até a árvore ao lado do muro e ficaram atrás dela. Só então, Victória viu que era uma ideia ruim, pois ficavam escondidos de todo mundo ali. Uma privacidade que ela não queria, mas teve esperanças de que a conversa fosse breve.

— Fala logo.

— Você precisa fazer as pazes com minha irmã. Ela tá muito mal porque cê não tá mais falando com ela. Chora quase todo dia. Então, para de ser orgulhosa e manda uma mensagem pra ela, sei lá. Dá um jeito. Não é possível que ainda esteja irritada. — Ele se escorou no tronco da árvore e ela ficou mais próxima do muro. 

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