Na manhã seguinte, embarquei para Londres bem cedo, sem perder tempo nem com despedidas desnecessárias. Normalmente, até eu, com toda a minha agenda, costumava fazer questão de passar para ver Anahí antes de uma viagem, mas desta vez, o que seria a necessidade de um adeus? Ela entenderia. Eu não estava indo para um simples compromisso, mas para negócios importantes, algo que, no final das contas, exigia toda a minha atenção. E como se isso fosse algo de se admirar, eu sabia que minha ausência por algumas horas não mudaria nada para ela.
Afinal, ela sempre se dava bem. Nunca precisei me preocupar com isso. As pessoas ao meu redor sempre se adaptam à minha ausência. Eu sou o tipo de pessoa que pode simplesmente desaparecer, e o mundo continua girando. Anahí, por mais que tivesse seu lugar no meu mundo, não tinha o mesmo peso. Ela sabia que eu voltaria, e eu voltaria melhor, como sempre. Não havia como duvidar disso.
Antes do avião subir, eu peguei meu celular e mandei uma mensagem rápida para Tadeo. Ele sabia que minhas ordens precisavam ser executadas com precisão, sem questionamentos ou falhas.
"Peça flores na floricultura e mande entregar para Anahí. Inclua um bilhete. Faça com que isso chegue até ela hoje."
Eu sabia que o gesto não precisava ser grandioso, mas sabia também que ela não esperaria algo assim de mim, o que tornava tudo ainda mais interessante. Afinal, ela nunca deixou de me surpreender, mas eu não via motivo para não mexer com suas expectativas, ainda que de uma maneira sutil.
A mensagem enviada, me recostei na poltrona do avião. Eu não me importava com o que ela pensaria disso, mas era um toque meu. Algo para mostrar que, apesar da distância, a situação estava sob controle, como sempre deveria estar.
Não demorou muito para que eu sentisse que ainda faltava algo. Flores eram uma coisa, mas sabia que chocolates sempre eram um acerto. Por mais que tentasse não demonstrar, ela tinha algo que mexia com minha vontade de agradá-la, e eu não negava isso.
Peguei novamente o celular e mandei outra mensagem para Tadeo:
"Compre uma caixa dos chocolates suíços favoritos dela. Faça isso agora e mande entregar junto com as flores. Quero que ela receba tudo hoje."
Era simples, mas eficiente. Um gesto pequeno, mas que sempre fazia a diferença. Eu sabia exatamente o que ela gostava.
O voo para Londres foi mais uma chance de refletir sobre como a vida, quando você tem controle total, se torna um jogo simples. Eu era bom nisso, eu sabia. Negócios, poder, sucesso. Para mim, essas eram as únicas prioridades reais. O resto... bem, o resto era dispensável. Para minha sorte, Valéria dormiu o vôo todo.
Enquanto o avião subia, um leve sorriso apareceu em meu rosto. Eu estava no controle, mais uma vez. Eu sempre estava. O que mais o mundo poderia oferecer além disso?
Ao chegarmos no hotel, Valéria foi direto para o banho, enquanto ela estava no banheiro.
A vibração me fez tirar o celular do bolso e ver a mensagem dela na tela. O nome de Anahí iluminou o aparelho, e, por um instante, uma sensação quase esquecida passou por mim — Desbloqueei o celular, atento ao que ela teria para dizer.
“Obrigada pelas flores e pelos chocolates. Surpresa, mas não tanto. Eu sei como você é.”
O tom era simples, mas a escolha de palavras me fez franzir o cenho. “Eu sei como você é.” Claro, ela sabia, ou achava que sabia. Mas ninguém sabia de verdade. Essa era a verdadeira essência de manter tudo sob controle — ninguém nunca ter certeza de qual seria meu próximo movimento. Mas Anahí sempre soube como me manter interessado, desafiando minhas próprias expectativas.
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O preço do desejo AyA
RomansaResistir ao que me faz mal? Isso nunca foi o meu forte. Por que seria? Sou bom em conseguir o que quero, e aprendi há muito tempo que é perda de tempo negar os próprios desejos. Anahí, por exemplo... Desde o primeiro momento, percebi que ela não era...