Nas Entrelinhas da Amizade (DEGUSTAÇÃO)

Um novo Rosto - Capítulo 1

Júlia estava onde julgava ser o melhor lugar para relaxar e trabalhar: a aconchegante biblioteca municipal de Monte Calmo. Ela adorava frequentar a biblioteca não apenas pela paz silenciosa que o local oferecia, mas também pelo cheiro inconfundível dos livros antigos e novos, que a envolvia em uma sensação única de conforto e nostalgia, era um aroma que a transportava para sua infância, quando passava horas folheando livros empoeirados nas prateleiras e descobrindo novas histórias e sonhos.

Mesmo com todas as modernidades do mundo atual, como cafés badalados e espaços de co-working estilizados, Júlia ainda preferia a simplicidade da boa e velha biblioteca. O som discreto das páginas viradas, o leve ranger das estantes de madeira e a quietude envolvente eram sua trilha sonora favorita enquanto trabalhava. Para ela, a biblioteca não era apenas um local de trabalho; era um refúgio sagrado, ali, podia se perder em suas próprias histórias, deixar suas ideias fluírem com liberdade, e se desconectar do ritmo frenético do mundo lá fora.

Cada canto daquele espaço tinha um significado especial para Júlia. As poltronas desgastadas no canto próximo às janelas eram seu local favorito, havia também as longas estantes de madeira, que pareciam se estender até o infinito, que eram um convite à exploração, sempre repletas de novos livros esperando para serem descobertos. A biblioteca era, para Júlia, um lugar onde as palavras ganhavam vida e onde ela podia ser verdadeiramente ela mesma, mergulhando no universo das histórias que tanto amava.

Júlia sempre foi uma apaixonada por livros. Desde criança, perdia-se nas páginas de histórias fantásticas, aventuras e mundos distantes. Quando tinha apenas nove anos, sua professora da escola propôs uma tarefa simples: os alunos deveriam escrever um texto contando como foram suas férias. Enquanto muitos colegas encararam o exercício como apenas mais uma obrigação escolar, Júlia mergulhou de cabeça na atividade, ela não apenas descreveu suas férias; transformou cada detalhe em uma história rica, cheia de cor e vida, criando personagens a partir das pessoas que encontrou e tornando cada evento comum em algo extraordinário.

Foi nesse momento, ao sentir a alegria de criar algo a partir de palavras, que Júlia descobriu sua verdadeira vocação. O que era para ser um simples relato escolar se transformou em uma paixão que mudaria sua vida. O entusiasmo que sentiu ao preencher a página com suas ideias a fez perceber que queria fazer aquilo para sempre: contar histórias, transportar pessoas para outros lugares, tal como os livros sempre fizeram por ela.

Desde então, Júlia nunca mais parou de escrever. Com o passar dos anos, foi refinando suas habilidades, experimentando diferentes estilos, sempre com um caderno à mão, pronta para anotar qualquer ideia que surgisse. O sonho de se tornar escritora crescia a cada história que ela criava, cada personagem que desenvolvia. Não era apenas uma ambição profissional; era uma necessidade, algo que fazia parte de quem ela era. Para Júlia, escrever não era apenas uma atividade, era o que a fazia sentir-se viva.

Ela havia acabado de finalizar o capítulo seis de seu novo livro e sentiu que era o momento de dar uma pausa. As palavras já começavam a se embaralhar em sua mente após seis horas ininterruptas de concentração. Sabia que, para manter a qualidade de sua escrita, precisava de um descanso. Com um suspiro cansado, ela fechou o notebook, observando por um instante a tela apagando-se, como se as ideias finalmente pudessem descansar também. Cuidadosamente, guardou o notebook em sua fiel mochila lilás, já um pouco desgastada pelo tempo, mas sempre prática e carregada de histórias inacabadas.

Júlia se levantou lentamente, esticando as costas e sentindo o corpo reclamar pelo tempo que ficou sentada. A biblioteca ao seu redor estava silenciosa, com apenas alguns murmúrios e o leve som de páginas sendo viradas ao longe. Ela passou os olhos ao redor, apreciando a paz do lugar antes de caminhar em direção à saída.