Saturno

Cap 8

Deus ouça a voz do meu coração por que meus lábios não se mechem.

Ângel

Durante esses anos, tudo o que eu tenho tentado fazer é falar mais simplesmente não sai, parece que o meu corpo não obedece meu cérebro e fico numa luta infinita onde sempre perco, os médicos dizem que na explosão eu acabei rompendo o mecanismo que leva a informação da voz a boca, por causa do estresse pós traumático, naquele dia a Gaby me pediu perdão e me deu uma chave que está guardada eu não sei de onde é essa chave mais acredito que seja algo importante, eu sinto falta dela todos os dias, vi a ruína do meu irmão sem poder falar nada me sinto impotente, eu quero tanto dizer pra ele que as coisas não aconteceram como ele pensa que aconteceu, mais por ora sou uma inválida.

Hoje eu tenho terapia, quem me leva sempre é o Garça que me dá mó força também, fora minha psicóloga ele é o único que conversa comigo, mesmo que eu não responda, ele fica fazendo piada, e quando vamos para a terapia ele vai reclamando do meu irmão e da vida dura dele, fala até das vagabunda que ele come e nessas horas é que eu queria conseguir falar pra xingar ele.

Desço do carro e lá está a Vanessa a enfermeira que me acompanha até a sala da minha terapia, entro e me sento na cadeira de frente pra ela, ela está tão linda mais velha mais mulher com um semblante rígido e forte, nem parece a Gaby de 11 anos atrás.

Sim ela é a minha psicóloga a 2 meses, quando a vi pela primeira vez eu me assustei e entrei em desespero, mais ela me contou a versão dela, falou da chave e disse que precisava dela mais como que não tenho reações não consigo falar, não posso ajudar ela, que sempre pergunta se pode voltar, se o Tony ta bem, e ela não tem resposta alguma mesmo que eu queira dar.

Gaby - Oi Ange, como você está meu bem ?

Pergunta me dando um abraço

Gaby- Hoje eu preparei um método diferente pra gente se comunicar, vamos tentar uma terapia por toque, vou te fazer perguntas e vou te dar minha mão, quero 2 apertos para não e 1 aperto para sim, tudo bem ?

Faço que sim com a cabeça

Gaby - vamos lá, vou começar com perguntas simples, você tomou café da manhã hoje ?

Ela me dá a mão e eu aperto, ao sentir a Gaby me olha com lágrimas nos olhos

Gaby - Ânge eu sei que é egoista da minha parte mais como mãe eu preciso perguntar, meu filho tá bem ?

Ela pergunta e eu me emociono, eu queria tanto falar pra ela que o Tony tá enorme, treina futebol é o mais inteligente da classe e que por mais que não seja filho do meu irmão é ele todinho, mais me contento em apenas apertar sua mão

E aí sim as lágrimas escorrem dos olhos dela

Gaby- Ânge, olha só eu preciso que você se esforce ao máximo eu preciso que me diga onde colocou aquela chave, é minha única chance de provar pra vocês que eu não fiz aquilo porque eu queria.

A olho ainda sem o que fazer.

Gaby - Ânge, seu irmão ele me odeia ? Acha que ele aceitaria conversar comigo se eu procurasse ele ?

Aperto a mão dela 1 vez e depois 2 vezes vendo a mesma perder todo o brilho.

Gaby - tudo bem, eu entendo ele, mais foi tudo muito rápido eu não tinha como avisa- ló ou fazer diferente.

Ânge seu irmão tá casado, ele tá criando o Tony com outra ?

Pergunto e posso ver uma angústia na pergunta, e não é por nada mais eu vou deixar ela agoniada um pouquinho só por ter sumido por 11 anos.

Aperto a mão dela 1 vez, e ela me olha com o semblante triste, até fiquei com dó mais é só uma brincadeirinha poxa kkk

Gaby- tudo bem, são 11 anos né ele tinha que seguir a vida mesmo, ela trata meu filho bem né ?

Aperto a mão dela 1 vez novamente e ela me olha com medo, e eu estranho

Gaby - Ânge, meu filho chama ela de mãe ? Ele sabe da mim ele sabe que eu sou mãe dele

Quando ela me pergunta eu choro, por que eu sei o que ela tá sentindo e sei que ela não vai gostar da resposta, mais quando tudo aconteceu o Kito ficou com raiva ele até refez os documentos do Tony coloco o nome dele na certidão e só não tirou o dela sabe se lá porque mais ngm naquele morro fala mais da Gaby então pro Tony é como se ela realmente não existisse

Aperto a mão dela 2 vezes e ela chora de soluçar, e me abraça por uns 10 minutos

Gaby- Ânge, vou escrever 2 bilhetes pra você entregar um pro seu irmão e um pro Garça pra eles começarem a praticar algumas terapias com você Tabom, eu te amo muito Ânge e eu amo todos vocês, por favor não desiste eu vou fazer o impossível pra você melhorar o quanto antes ok ?

Ela fala me abraça novamente e a moça que ajuda ela vem me levar até o carro, a Gabi não me leva ela sabe que não pode mais eu queria tanto que ela pudesse vir, se ela soubesse que o Tony sempre está no carro, que ela tá tão perto dele que nem imagina

Entro no carro e dou o bilhete pro Garça que lê e dá risada, garoto tonto

Garça - Pronto além de falar sozinho, agora vou ter que ficar levando a donzela em parque de diversão, quero ver como você vai me pagar quando melhorar viu anjinha o bagui é loco quero um relógio bem caro.

Ele fala e eu dou risada por dentro, de alguma forma ou de outra ele é o único que não tem pena de mim e me trata como sempre tratou não me olha com dó e nem me vê como coitada.