Capítulo 2: A Nova Pista

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 O céu estava coberto por nuvens pesadas que ameaçavam desabar a qualquer momento, lançando uma luz cinzenta e desolada sobre a cidade. Miguel deixou a delegacia com o rosto tenso, os pensamentos girando como uma tempestade. Ele sabia que o caso de São Telmo o havia deixado quebrado anos atrás, mas agora a sensação de ameaça parecia mais real, mais próxima. As palavras de Ana ainda ecoavam em sua mente: "Eles nunca foram embora. Sempre estiveram observando."

Ele caminhou em direção ao carro, um sedã preto envelhecido, que mais parecia um lembrete dos dias em que ele era um jovem detetive, cheio de propósito e energia. Ao abrir a porta, ele notou algo estranho. Uma carta dobrada estava presa sob o limpador de para-brisa. Miguel franziu o cenho, sentindo o primeiro formigamento de preocupação, e pegou o papel com dedos cautelosos.

"Você não pode proteger a todos, Miguel. Está na hora de aceitar isso."

Miguel segurou o bilhete por um instante, os músculos da mandíbula se contraindo. A ameaça era clara, mas ele não se deixaria intimidar. Não desta vez. Ele guardou o bilhete no bolso e entrou no carro, ligando o motor. A adrenalina pulsava em suas veias enquanto ele se dirigia ao apartamento de Ana. Se ela realmente sabia algo tão importante, não havia tempo a perder.

O apartamento de Ana ficava em um prédio antigo, com fachadas desgastadas e plantas ressequidas nas varandas. O corredor era estreito, e o cheiro de mofo pairava no ar. Miguel subiu os degraus dois a dois, o coração acelerando a cada passo. Ao chegar ao terceiro andar, encontrou a porta do apartamento de Ana entreaberta, balançando levemente. O alarme de perigo soou em sua mente.

— Ana? — chamou, mantendo a voz firme, mas baixa. Ele colocou a mão instintivamente sobre o coldre vazio na cintura, lamentando não ter trazido sua velha arma. Afinal, ele não era mais da polícia, apenas um detetive aposentado que vivia das sombras do passado.

Miguel empurrou a porta devagar. O apartamento estava mergulhado na penumbra, as cortinas puxadas, com um silêncio tão espesso que ele podia ouvir sua própria respiração. No entanto, a sala mostrava sinais de luta: uma cadeira virada, papéis espalhados pelo chão, e uma caneca de café quebrada junto ao tapete.

— Ana! — Miguel chamou de novo, desta vez mais alto. Ele entrou na sala, os sentidos em alerta, e foi então que viu uma figura encolhida no canto, entre o sofá e a parede. Era Ana.

Ela estava tremendo, o rosto pálido e os olhos arregalados de medo. Quando Miguel se aproximou, ela soltou um grito abafado e se encolheu mais, as mãos cobrindo o rosto.

— Ei, ei, sou eu! — Miguel disse, levantando as mãos numa tentativa de parecer menos ameaçador. — Está tudo bem. Sou Miguel.

Ana abaixou as mãos lentamente, as lágrimas correndo pelo rosto. Sua voz saiu em um sussurro desesperado: — Eles estavam aqui... agora há pouco. — Ela apertou os braços ao redor do corpo, como se estivesse tentando manter o pouco de controle que ainda lhe restava. — Eu... pensei que não ia escapar.

Miguel se ajoelhou ao lado dela, sentindo um misto de raiva e compaixão. O medo dela era real, quase palpável, e ele sabia que isso só complicava ainda mais a situação. Ele precisava levá-la a um lugar seguro antes que fosse tarde.

— Você vai ficar bem, prometo — disse, com uma firmeza que esperava que a acalmasse. — Precisamos sair daqui agora. Não é seguro.

Ana hesitou, mas finalmente assentiu. Miguel a ajudou a se levantar, e enquanto ela se dirigia ao quarto para pegar algumas coisas, ele começou a observar o apartamento em busca de pistas. As mãos ainda tremiam com a adrenalina, mas sua mente estava afiada, procurando por algo — qualquer coisa — que pudesse lhe dizer quem estava por trás disso.

No entanto, antes que pudesse investigar mais, Ana voltou, segurando uma pequena mochila com o essencial. Ela parecia ter envelhecido dez anos nas últimas horas.

— Eles sabem onde estou, Miguel. Eles vão me encontrar, não importa onde eu vá — ela sussurrou.

— Não se você estiver comigo — respondeu ele, mais como uma tentativa de convencê-la (e a si mesmo) do que como uma certeza. — Vamos.

Enquanto dirigiam para um local que Miguel considerava seguro — um antigo esconderijo usado pela polícia em operações de grande risco —, Ana finalmente começou a falar. Seu olhar permanecia fixo na estrada à frente, mas sua voz era entrecortada e cheia de emoção.

— Ele... — Ana começou, com a garganta apertada. — O assassino. Eu o vi. Não sei como ele soube que eu lembrava, mas ele me encontrou.

Miguel manteve os olhos na estrada, mas suas mãos estavam firmemente agarradas ao volante. A informação dela era crucial, mas ele sabia que ela estava prestes a se abrir ainda mais.

— Continue, Ana — ele a encorajou suavemente.

— É alguém importante, Miguel. Alguém com poder. Ele não é o tipo de pessoa que simplesmente desaparece ou é pego. — Ana engoliu em seco. — Ele me disse que se eu falasse com alguém, faria o que fez com as outras vítimas... e ninguém conseguiria impedir.

Miguel cerrou os dentes, o corpo tenso. Eles haviam lutado contra criminosos antes, mas o que Ana estava descrevendo soava como algo muito mais perigoso, algo grande demais para ser enfrentado sem consequências.

Ao chegarem ao refúgio, Miguel e Ana se preparam para lidar com a situação crescente de perigo, mas a informação que ela acabou de compartilhar coloca tudo em perspectiva. Enquanto Miguel tenta processar o fato de que estão lidando com alguém poderoso e intocável, ele percebe que precisará de mais ajuda — talvez de aliados improváveis — se quiser manter Ana viva e desvendar esse mistério.

O próximo capítulo promete aprofundar a conspiração que cerca o caso de São Telmo, revelando novas pistas, aumentando a tensão, e introduzindo novos personagens que complicarão ainda mais a trama.

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