Capítulo 01

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Hoje era o aniversário da mamãe. Esse era o dia que eu mais esperava durante o ano todo. Eu tinha certeza absoluta que deveria ser o dia mais importante para o mundo inteiro. Afinal, hoje comemoramos o nascimento da mulher mais incrível que existe: mamãe. E como eu sabia disso aos meus dez anos? Bom, eu não sei explicar, mas eu só... sentia. E, como em todos os seus aniversários, eu tinha o plano perfeito para começar o dia: acordá-la com beijos, bolachas de chocolate e um copo de suco de limão - ok, não era o suco natural que ela gostava, mas era o único que eu sabia fazer.

Fui até a cozinha, subi no banquinho para alcançar o armário e peguei o pacote de bolachas. Procurei pelo suco de limão que eu havia deixado ali ontem, mas nada dele. Tentei ver se estava atrás de alguma coisa, tirei tudo do armário, e nada. Bufei irritada. Só tinha uma suspeita: Samira, ou melhor, Samir, como eu a chamava. Minha irmã mais velha sempre metia o bedelho nas minhas coisas.

- Samira! - gritei da cozinha.

Mamãe, claro, não ouviria porque seu quarto ficava no andar de cima, mas sabia que Samir estava pela casa. Depois de um minuto, ela apareceu na cozinha, com cara de sono e o cabelo todo bagunçado, tentando descobrir o motivo do meu "escândalo".

- Para de gritar, sua maluca! - Ela estreitou os olhos para mim, claramente irritada.

Eu e Samira tínhamos apenas um ano de diferença, e éramos tão parecidas que sempre nos perguntavam se éramos gêmeas. Mas nossos olhos e nossa altura nos entregavam. Ela tinha olhos azuis; os meus, verdes. E ela era uns bons cinco centímetros mais alta. O que ela adorava esfregar na minha cara.

- Por que você bebeu o suco da mamãe? - perguntei, colocando as mãos na cintura.

- Eu não bebi, Lulu. - Ela mentiu descaradamente, sem nem pestanejar.

Revirei os olhos e a empurrei de leve.

- Para de mentir, Samir. Eu sei que foi você! - apontei o dedo bem no meio do peito dela.

Ela suspirou e respondeu pausadamente, só para me irritar.

- Eu. Não. Bebi. Essa. Merda.

Estreitei os olhos, e, num impulso, belisquei o braço dela.

- Ai! Sua chata! - Ela me empurrou, mas eu logo empurrei de volta, e assim começou uma das nossas famosas "brigas de irmãs".

Não demorou muito para que a briga se tornasse uma pequena guerra. Em questão de segundos, já estávamos rolando no chão, brigando pela "propriedade" do suco de limão que nem estava ali. Samira tentava me prender com as pernas, enquanto eu tentava puxar uma mecha de seu cabelo. Nós duas sabíamos que não era nada sério, mas adorávamos brigar assim.

De repente, ouvimos passos na escada. Mamãe descia, provavelmente atraída pelo barulho. Paramos imediatamente, tentando parecer inocentes, mas Samira ainda estava com o cabelo todo despenteado e eu com o rosto corado de raiva. Ela apareceu na cozinha, colocando as mãos na cintura e tentando manter uma expressão séria.

- O que é que está acontecendo aqui? - Ela nos olhava com um meio sorriso, tentando não rir.

Eu e Samira apontamos uma para a outra ao mesmo tempo.

- Foi ela! - dissemos juntas, e logo caímos na risada.

Mamãe balançou a cabeça, rindo, e se abaixou para nos dar um abraço apertado.

- Meninas... é o meu aniversário! Será que, por um dia, vocês podem se comportar? - Ela beijou o topo da minha cabeça e depois o de Samira.

Samira fez cara de falsa inocência e eu, claro, revirei os olhos. Mas logo a mamãe se levantou e sorriu.

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