Há algo preso na minha garganta.
Como um fio de cabelo que coça.
Parte de mim que ainda resta,
se dá o trabalho de guiar o ritmo com que,
meu pobre coração insiste em bater.
Ouso dizer que não gostaria que esse trabalho,
embora longinquamente necessário,
perdurasse.
Se houvesse um fio de esperança,
do tamanho do da minha garganta,
que pudesse me incitar em continuar,
seguiria vivendo tranquilamente.
Embora eu já não sinta mais tanto,
sendo esse nem o maior dos meus problemas,
sorriria para a audácia com que meu coração bate.
Ainda que meu corpo viva,
minha alma padece.
Quisera eu permanecer neste mundo,
o lugar enfraquecido que chamamos de lar.
Então poderia dizer que sou rica,
em meio a tantos seres fúteis.
Nessa noite de começo de inverno,
venho descrever meus pensamentos mais profundos,
na esperança de que consiga sentir alívio.
Alívio esse que não sinto desde que tentei ir,
pela segunda vez.