Capítulo Único

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❝Passar a tarde numa loja de CDs moribunda era chato

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Passar a tarde numa loja de CDs moribunda era chato.

Mas quando você passou a frequentá-la, algo dentro de mim mudou. De repente, estávamos trocando links, conversas, e flertes – nem sei como tive coragem. Mesmo quando você descobriu a verdade e ficou com raiva, achando que eu te enganei porque o Narita soube antes... Bem, eu precisava fazer as pazes. Então, subi num palco por você, para que escutasse minha voz. Ao som de Radiohead, viramos amigas.❞

♩ ♪

Koga estava encostada na cama, fones sobre os ouvidos, e o caderno de matemática esquecido entre as pernas. Sua guitarra descansava ao lado, aguardando por outra madrugada em claro enquanto ela lutava para criar aquele som que parecia sempre lhe escapar. Chegar cansada à escola já virou uma rotina – uma troca que ela estava disposta a fazer para ver uma ideia tomar forma. Na última semana, finalmente deu um título à sua nova música, mas sabia que tinha algo a mais ali, uma peça faltando que ainda não conseguia captar. Pior, aquele sentimento inteiramente ligado a alguém, a Aya, e parecia maior do que a própria composição no momento. Desde que a conheceu melhor, suas músicas saíam como um grito contido que precisava ser libertado, como se aquela gyaru fosse seu incentivo supremo.

No entanto, ultimamente, algo parecia fora de lugar. Aya parecia cada vez mais incomodada, especialmente quando Koga recebia elogios ou quando alguém admirava seu talento. Era como se um incômodo entre as duas estivesse crescendo, e Mitsuki sentia-se como uma nota fora de compasso. Narita, Mao, Chizuru – todos eles pareciam entender Aya em uma sintonia que Koga invejava, mas não conseguia imitar. Ela sabia que deveria ser paranóia, mas não conseguia evitar os pensamentos intrusivos.

Será que o problema era ela?

A frustração transbordava. Num movimento de raiva, jogou a caneta longe e se deixou cair de costas, encarando o teto. Em poucos dias, as coisas haviam desmoronado como um terremoto! No lugar da amizade próxima que tinham, agora parecia haver uma barreira intransponível. Aqueles abraços espontâneos e os sorrisos compartilhados pareciam ter desaparecido de repente. "Como isso pode estar acontecendo?", pensou, o peito se apertando em uma mistura de saudade e mágoa.

Seu celular vibrou ao lado, várias notificações de mensagens. Todas, exceto aquela que ela mais queria. A ausência de Oosawa-san em suas conversas deixava um vazio impossível de preencher. "O que eu fiz de errado?" A questão ecoava em sua mente, mas sem resposta. Talvez tivesse cometido algum erro, talvez tudo fosse um terrível mal-entendido. Mas então, por que Aya parecia tão distante, quase como se quisesse apagar o que elas haviam compartilhado por tanto tempo?

Seu tio apareceu na porta do quarto algumas vezes, eufórico com as vendas da loja em alta. Era uma ótima notícia, e Koga sorriu com satisfação – afinal, ela havia contribuído para o sucesso do lugar que tantas vezes fora seu refúgio. Mas, de repente, lembrou do olhar de Aya naquele mesmo dia. Enquanto todos vibravam com as vendas, ela ficou ali, pálida, tentando disfarçar o incômodo por trás de um sorriso forçado que só Mitsuki conseguia ver como era falso. Ela estava triste, e o motivo ainda a intrigava.

E, naquele momento, a saudade se tornou insuportável. Onde estava aquela Aya engraçada e despreocupada, que ocupava cada canto da sua vida com risos e assuntos aleatórios? A Aya que fazia playlists como quem oferecia pequenos pedaços de si, e segurava sua mão quando Koga mal podia suportar o peso da própria insegurança? Mitsuki percebeu, com uma pontada de culpa, que talvez nunca tivesse dito a garota o quanto ela significava. Será que Aya sabia? Ou sequer suspeitava de que Koga gostava dela de verdade?

O coração se apertou. A dúvida sobre o que a afastava de Oosawa ecoava como um refrão inacabado, impossível de ignorar. Será que Aya entendia que ela estava disposta a passar todas as madrugadas acordada, com a guitarra nos braços, compondo cada palavra e cada acorde como uma tentativa de se declarar? De dizer o que jamais fora capaz de admitir em voz alta? Que aquilo era sim, um amor, o tipo de sentimento que ela nunca antes ousara confessar.

Com um impulso quase febril, Koga pegou sua caneta de volta, escrevendo outro verso frenético, desesperado. Mais uma vez, a música seria o único modo de mostrar o que sentia. E, desta vez, cada palavra, cada nota seria apenas para Aya Oosawa – na esperança de que ela ouvisse, finalmente, o som do seu coração.

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⏰ Última atualização: Nov 12 ⏰

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