Capítulo 123 - A Chama Que Não Se Apaga

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Kõe observava a arena silenciosa, onde o corpo de Santos Dumont e sua Valkyria estavam, o brilho da batalha desaparecendo. Ela se ergueu, o olhar firme e imponente, e com a voz que parecia cortar o ar como uma lâmina, anunciou

- O vencedor da décima rodada é... Rá! - Sua voz ecoou pela arena, reverberando nas arquibancadas lotadas, onde o público se entreolhava, surpreso e atônito - Com isso, o placar empata mais uma vez: cinco vitórias para os deuses, cinco para a humanidade! -

Nas arquibancadas, alguns deuses que não tinham papéis tão centrais no torneio discutiam a batalha com entusiasmo, entre olhares de admiração e sorrisos condescendentes

- Aquele humano... ele quase virou o jogo - murmurou Janus, o deus das portas e transições, com uma expressão de surpresa - De onde tirou aquela armadura? Nunca vi algo tão engenhoso em um mortal -

- É, mas isso só mostra a limitação deles - respondeu Momus, o deus da crítica e da zombaria, com um riso irônico - Podem inventar o que quiserem, mas uma tecnologia dessas jamais se compara ao poder de um deus. Rá provou isso -

Uma deusa menor da fertilidade olhou para Momus com um ar de reprovação

- Ele lutou com bravura, admito. Talvez tivesse uma chance se tivesse mais tempo... ou menos fendas dimensionais para desviar -

Outro deus de aparência jovial e cabelos esvoaçantes riu, ajustando uma coroa de folhas em torno da cabeça - Tempo e truques, só isso. Dumont tinha estilo, mas no fim, são os deuses que reinam. Acho que ele nunca teve uma chance de verdade -

Na sala dos cientistas

O laboratório estava tomado por um silêncio pesado. Tesla, Edison e Marie Curie olhavam para as peças da armadura de Dumont que haviam ficado no laboratório

partes sobressalentes e pequenas engrenagens que jamais tinham sido usadas, mas que agora pareciam lembrar-lhes da perda. O brilho de orgulho e confiança em seus olhos havia sido substituído por uma sombra de tristeza e, no fundo, talvez culpa

Tesla quebrou o silêncio, sua voz baixa e contida - Nós demos a ele tudo que tínhamos... todo nosso conhecimento, nossa tecnologia. E, mesmo assim, não foi suficiente -

Edison, que normalmente tinha uma resposta para tudo, apenas fitou o chão, o semblante sério e abatido - Santos foi o único entre nós que realmente acreditava que poderíamos fazer a diferença ali. Ele arriscou tudo. E a última coisa que ele queria era nos deixar com um sentimento de fracasso -

Curie, com um suspiro profundo, ergueu a cabeça e olhou para os dois - Ele sabia dos riscos. E também sabia que, para ele, era uma honra lutar por nós, pelo que acreditávamos. Se ele caiu, caiu com a coragem que sempre teve -

Tesla balançou a cabeça, ainda sem conseguir aceitar completamente - Ele era mais do que um cientista. Ele era um sonhador. Era quem nos inspirava a sermos mais do que inventores, mais do que apenas mentes focadas em teorias e experimentos... -

Edison finalmente encontrou forças para falar, a voz um pouco mais firme - Sim, ele era. Santos Dumont era nosso amigo e nosso melhor trabalho. E, se ele teve a coragem de enfrentar um deus, quem somos nós para lamentar? Talvez, no fim das contas, ele conseguiu o que mais queria: provar que o impossível era possível -

Curie fechou os olhos por um momento, uma lágrima solitária escorrendo em seu rosto. Ao abri-los novamente, seu olhar era resoluto - Então vamos honrá-lo da melhor forma que conhecemos. Continuaremos seu legado... e, acima de tudo, não deixaremos que sua perda seja em vão -

Fim do capítulo

Crepúsculo dos Deuses: O Último DesafioOnde histórias criam vida. Descubra agora