Victória demorou para se acostumar com a vida na fazenda. Já faziam dois meses que morava lá e ainda tinja nojo de cuidar dos animais, tirar ovos das galinhas e o leite das vacas. É certo que aprendera muita coisa sobre como plantar hortas e colher os próprios alimentos. Também aprendera a fazer pães deliciosos para o café-da-manhã. Porém, vivia resmungando pelas costas dos avós. A cada ordem dos tios, revirava os olhos quando eles não estavam olhando. Ainda não suportava o fato de não poder dormir tarde e não ter internet na fazenda.
Victória só falava com a mãe de vez em quando, nas vezes que ia para a cidade e fazia suas aulas online. Sempre ficava um tempo a mais na lan house para ficar no facebook vendo memes ou pegava a internet de alguma lanchonete por perto só para mexer um pouco no celular. Via algumas mensagens de Brenda e elas conversaram por pouco tempo, sempre sobre a escola e a recente amizade da menina com Davi.
Brenda não falava sobre Eric, a pedido da própria Victória. Ainda ficava brincando com o chaveiro que roubou dele, toda noite, antes de dormir. Ainda pensava nos momentos que tiveram juntos e nos beijos que trocaram. De vez em quando, ao se ver muito entediada na fazenda ou cansada, seus pensamentos voltavam para o dia de sua despedida em São Paulo. Lembrava-se deles sobre o sofá, dançando e cantando como se o mundo externo não existisse. Então, sorria e tinha um pouco de paz.
Numa dessas vezes que Victória estava na cidade, foi para a mesma lanchonete de sempre após a aula e mandou mensagem para Brenda. Sabia que naquele horário a menina estava na escola, mas sempre dava um jeito de responder.
Victória: Tô quase estrangulando todo mundo na fazenda.
Ela aguardou. Amava reclamar daquele lugar com a menina, porque ambas ficavam zoando e rindo. O tempo passava tão mais rápido. Brenda demorou um pouco para responder. Mas depois, disse “Kkkkk normal. Alguma previsão de quando vem passar uns dias em SP?”
Victória: Não. Vai demorar pra eu ir aí.
Brenda: Ahhh… Então, posso ir te ver nesse final de semana?
Victória: Mas é depois de amanhã. Não tá muito em cima?
Brenda: Não. Só me fala se eu posso.
Victória: Tá. Só vai ser ruim a dormida, pq não tem quarto pra td mundo e somos forçados a dividir. Tem o quarto só das meninas e um só de menino.
Brenda: Hm… e vc tá morando onde? Num convento?
Victória: Kkkkkk acho q um convento seria melhor. Mas vem sim, vai ser bom ter alguém normal pra conversar e vai me distrair da vida horrível aq.
Brenda: Blz. Então, no dia a gnt vai se falando.
Quando a conversa encerrou, Victória deu um sorriso sincero pela primeira vez desde que chegou em Minas Gerais.
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No sábado de manhã, Victória estava emburrada dentro da caminhonete do tio Cássio. Quando falara que receberia uma visita, ele se dispusera a buscar Brenda na rodoviária do centro da cidade, pois a fazenda era mais afastada e raramente algum uber aceitava corrida para lá, devido às ruelas estreitas, cheias de curvas e buracos. Porém, bem na hora que ela e o tio estavam saindo, Hugo, um de seus primos insistira para ir junto e ainda tomou o banco da frente.
Victória odiava o moleque. Era um folgado e encrenqueiro, botava a fazenda em guerra, mas vivia colado com Cássio. Então, ela esperava que o rapaz quisesse ir na rodoviária também. O lado ruim disso era o fato de ele nunca parar de falar, viver estourando aquela bolha de chiclete ridícula e nunca deixar mais ninguém sentar na frente. Além do mais, ele era muito inconveniente, o que tornou a ida até a cidade um inferno total.
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A Vilã
Teen FictionVictória tinha tudo o que uma garota poderia querer: uma péssima relação com a mãe, uma péssima reputação na escola, um amor platônico por alguém que nunca olharia para ela, uma melhor amiga que sempre a colocava para baixo e um monte de traumas. Ou...