Em 1990, Hailey Winslet, uma adolescente de 17 anos, enfrenta complicações intensas em sua vida. Sob a pressão estética da época e lidando com conflitos familiares, ela foi internada em uma clínica de reabilitação após sofrer uma overdose causada pe...
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1990 - Los Angeles.
O fim das aulas foi uma chatice para Hailey. O máximo que ela conseguiu fazer foi rabiscar três folhas inteiras do seu caderno e riscar sua borracha nova para passar o tempo.
Quem inventou ensino integral?! - pensou ela, enquanto desenhava um fantasma na mesa.
Além disso, havia um garoto estranho que a observava do lado esquerdo da sala. Winslet sentiu-se envergonhada por seu olhar, mas não no bom sentido - se é que existe um. Ele era ruivo, com olhos verdes cobertos por óculos de grau fino e algumas poucas sardas pelo rosto. Esquisito, apenas.
- Por hoje é só isso. Não se esqueçam de revisar a matéria para a prova da semana que vem! - avisou a professora de gramática, e Hailey percebeu que não havia prestado atenção nessa informação.
Todos que estavam na sala rapidamente pegaram suas mochilas e foram em direção à saída, enquanto Hailey ainda arrumava suas coisas.
- Hailey Winslet, certo? - A professora se aproximou dela, e Hailey ergueu uma sobrancelha com desconfiança.
Hailey notou a mulher de perfil por um instante. Era baixa, tinha cabelos curtos em um tom loiro quase grisalho, vestia um vestido abotoado com um broche escrito "Meredith Owens" e sapatilhas vermelhas. Nada que a desfavorecesse, de fato.
- Já que você é uma aluna nova, ou não tão nova assim, fiz um plano de estudos para você entender os assuntos das aulas - disse, entregando-lhe um papel com algumas anotações. - Isso pode te ajudar no decorrer do ano, mas vai depender de você. Seja bem-vinda de volta! - Ela sorriu em um tom amigável e caminhou para fora da sala, sem esperar resposta da garota.
A morena colocou sua mochila nas costas e logo se retirou do local, indo até o lado de fora da escola, onde seu irmão estava esperando com um grupo de três meninos.
- Hailey, deixa eu te apresentar meus amigos - começou ele, ansioso. - Esse aqui é o Michael, ou melhor, Mike, e esses são Dylan e Kyle, que são gêmeos.
Mike era um garoto branco, alto, de cabelos castanhos e olhos bem azuis. Já os gêmeos tinham pele negra e cabelos curtos trançados.
- Oi, Hailey! - Eles a cumprimentaram em uníssono, e ela acenou levemente com a cabeça.
- O que achou da escola? - perguntou Mike, com um sorriso amigável. - Ouvi dizer que o ensino integral é uma chatice.
Hailey deu um suspiro discreto. Não estava exatamente no clima para socializar, mas não queria ser grosseira com o irmão ou com os amigos dele.
- Já passei por piores - respondeu de forma evasiva.
- Isso não soa nada encorajador - comentou Dylan, soltando uma risada curta.
- Não é para ser. - Hailey olhou para o irmão. - Vamos?
Jamie parecia um pouco desapontado, mas assentiu.
- Claro. Até amanhã, pessoal!
Os garotos se despediram com acenos animados e seguiram seus caminhos. Hailey e Jamie subiram em suas bicicletas, pedalando em silêncio por algumas ruas antes de Jamie quebrar o gelo.
- Você não gostou deles, né?
- Eles parecem suportáveis - respondeu Hailey, sem emoção. - Só não estou no clima para "fazer amigos".
Jamie suspirou, mas não insistiu. Ele sabia que a irmã precisava de tempo para se ajustar.
Quando chegaram em casa, Hailey guardou sua bicicleta na garagem e foi direto para o quarto. O dia parecia ter sugado toda sua energia, e tudo o que ela queria era um pouco de paz.
Assim que fechou a porta, jogou a mochila no chão e se sentou na cama. Pegou o papel que a professora tinha lhe dado e começou a analisá-lo. Era um plano de estudos bem organizado, mas algo na ideia de seguir regras e rotinas lhe causava uma mistura de tédio e frustração. Então, ela amassou o papel e o arremessou longe.
Estava perdida em seus pensamentos quando ouviu batidas na porta.
- O que foi agora? - perguntou, sem se levantar.
A porta abriu lentamente, e Jude apareceu.
- Fiz uma lasanha para o jantar. Achei que talvez quisesse comer com a gente.
Hailey hesitou. Não queria encarar o pai ou fingir que estava tudo bem, mas também não queria criar mais conflitos.
- Tá, eu desço em alguns minutos.
Jude deu um sorriso breve e fechou a porta.
Hailey se levantou, foi até o espelho e se encarou por um momento. Passou as mãos pelo rosto, tentando afastar o cansaço.
Um dia de cada vez - pensou.
Ela decidiu tomar um banho rápido, lavou os cabelos, vestiu uma roupa simples e respirou fundo antes de descer as escadas.
Quando chegou à sala de jantar, o clima estava tenso, mas Jamie tentou quebrar isso falando sobre os amigos e suas aventuras na escola. George permaneceu em silêncio, apenas observando a filha com seu olhar crítico de sempre.
- Como foi o primeiro dia? - perguntou Jude, tentando soar leve.
- Normal - respondeu Hailey, pegando um pedaço da lasanha.
- Normal? Espero que isso signifique que foi um bom começo.
- Significa que sobrevivi - retrucou, enquanto brincava com o garfo entre os dedos antes de comer.
George bufou, balançando a cabeça.
- Sempre com essa atitude, não é? Você poderia, ao menos, fingir que está tentando.
Hailey largou o garfo e o encarou com firmeza.
- Estou aqui, não estou? Isso já é tentar.
- Não seja desrespeitosa com seu pai, Hailey - interveio Jude, com um tom de cansaço na voz. - Vamos tentar ter uma refeição tranquila esta noite, por favor.
Jamie olhou de um para o outro, nervoso, enquanto mordia um pedaço de pão.
Hailey terminou de comer rapidamente e se levantou, já sem paciência.
- Boa noite.
- Você precisa aprender a lidar com sua família, Hailey - disse George, antes que ela pudesse sair.
Ela parou por um segundo, mas não se virou.
- Você também, George.
E, com isso, subiu as escadas, deixando o restante da família em silêncio.
No quarto, Hailey pegou um caderno pequeno que guardava consigo desde a clínica e começou a escrever seus textos longos, que a faziam esquecer o mundo lá fora por um tempo. Depois de longas horas, ela conseguiu dormir sem interrupções.
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