Sob a luz dos olhos meus

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Diego se sentia leve, seus pés tocando a areia morna enquanto o vento salgado do mar brincava com seu cabelo. Era um fim de tarde como outro qualquer, mas o ar parecia diferente – algo lhe dizia que aquele dia guardava uma surpresa. Ele andava distraído, olhando o horizonte e o reflexo dourado do sol sobre as ondas, quando sentiu o choque. Esbarraram de leve, e ele quase tropeçou, mas ao levantar o olhar, viu a visão que o deixou sem palavras.

Ele estava ali, sorrindo, com aquele ar meio surpreso e divertido, os olhos castanhos escuros como jabuticabas frescas, profundos e acolhedores. Diego, que raramente se deixava perder na beleza de alguém, sentiu como se fosse incapaz de desviar o olhar. Os cachinhos bagunçados emolduravam o rosto do homem, e ele tinha um sorriso fácil, como quem guarda o segredo de uma paz rara. E Diego soube, naquele instante, que aquele encontro era mais do que um mero acidente.

Como nos versos de Tom Jobim, ele pensou: “Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar…”. Um calor suave tomou conta de Diego, como se o próprio universo conspirasse para tornar aquele momento inesquecível. O preto percebeu o encantamento no olhar dele, e seus lábios se abriram em um riso leve e gentil, quase como se também sentisse que algo grandioso os unia ali, sem palavras.

Tentou falar, dizer alguma coisa, mas percebeu que o coração, acelerado e inquieto, bloqueava suas palavras. Amaury riu, um riso claro e caloroso, o tipo de som que te faz querer ouvir mais e mais. Foi ele quem quebrou o silêncio, oferecendo sua mão com um gesto leve e natural. Diego aceitou, sentindo a firmeza da palma do outro, e algo dentro dele se aquietou. Juntos, começaram a caminhar, com passos compassados pela beira do mar, as ondas acariciando a areia, o céu pintado de laranja e rosa.

Eles andaram, sem destino ou pressa, como se estivessem descobrindo algo que os envolvia, um ao outro, e Diego se deixou guiar por aquele momento. Conversaram sobre coisas simples, cada um revelando um pouco de si, e Diego sentia que poderia passar horas ali, ouvindo o outro falar sobre suas memórias de infância, sobre as aventuras que já viveu e os sonhos que ainda guardava. Entre cada palavra e pausa, ele era hipnotizado pelo jeito como ele movia os lábios ao falar, a luz do sol que se refletia em seus cachos, e aquele sorriso tímido que surgia de repente, quase sem querer.

E era tão doce que ele pensou no que vinha depois daquelas palavras de Jobim: “Ai que bom que isso é, meu Deus, que frio que me dá o encontro desse olhar”. Porque o homem agora o olhava de um jeito que lhe dava um frio no estômago, algo tão desconhecido e tão próximo ao mesmo tempo. Era uma sensação de entrega que ele não conseguia evitar, como se já conhecesse aquele sorriso, aqueles olhos, de algum sonho antigo.

Em determinado momento, pararam para admirar o horizonte, e Diego se pegou observando aquele homem mais do que observava o pôr do sol. A luz dourada caía delicadamente sobre ele, criando sombras suaves que acentuavam as linhas do seu rosto. Diego notou a respiração tranquila de do preto, seu peito subindo e descendo em um ritmo quase meditativo. Ele queria tocar aquele rosto, sentir o calor de cada detalhe, e ao mesmo tempo, tinha medo de que qualquer gesto brusco pudesse quebrar a magia daquele instante.

Quando o homem olhou para Diego, ele sentiu que cada palavra de Pela Luz dos Olhos Teus fazia sentido. “Mas se a luz dos olhos teus resiste aos olhos meus só pra me provocar”, a melodia se repetia em sua mente, cada vez mais presente. Amaury parecia captar o exato momento em que Diego queria dizer alguma coisa, mas parava, como se estivessem em uma dança silenciosa, onde cada olhar e sorriso era mais profundo do que qualquer declaração.

“Você vem sempre aqui?” O homem perguntou, o olhar fixo em Diego, e Diego riu baixinho, percebendo a ironia romântica daquelas palavras.

“Venho… mas acho que nunca tinha reparado como o fim de tarde é bonito por aqui,” ele respondeu, sem tirar os olhos do homem, que sorriu com um ar que Diego não conseguia decifrar – era tranquilidade, curiosidade, e algo mais.

Eles ficaram ali, compartilhando silêncios que diziam muito mais do que qualquer conversa, até que o preto se aproximou, hesitante. Diego sentiu o coração disparar, e não sabia se o outro também sentia aquela intensidade, mas ele deu um passo, depois outro, e logo estavam frente a frente, tão perto que Diego podia sentir a respiração dele contra o rosto.

Os olhos pretos a sua frente brilhavam, e Diego soube que não era mais o céu ou o mar que o cativavam – eram aqueles olhos escuros e profundos, e o sorriso suave de quem tinha o poder de transformar um encontro casual em algo eterno. Amaury era o sol e Diego era a lua.

“E eu que amo em todas as luas, enfim encontro você…” O verso rodava em sua mente, e Diego, envolvido pela melodia do momento, se aproximou. Ele sentiu o toque suave dos lábios de Amaury, um toque que começou hesitante, como um segredo compartilhado, mas logo se tornou um beijo profundo e doce, como a promessa de um novo começo. Diego fechou os olhos, e o mundo inteiro pareceu desvanecer, restando apenas o calor daquele beijo, o toque leve das mãos entrelaçadas, e a sensação de que, de algum jeito, eles já haviam se encontrado muitas vezes antes, na praia de seus sonhos.

Quando o sol se pôs completamente, Diego abriu os olhos e viu o rosto de Amaury à luz tênue do entardecer. Ele sorria, e o brilho no olhar era de pura felicidade, como se ambos soubessem que, entre todas as belezas do mundo, nenhuma se comparava ao que acabavam de encontrar.

Diego então murmurou baixinho, como uma prece ao pôr do sol: “Eu só sei que os olhos teus precisam ser só dos meus…”

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⏰ Última atualização: Nov 13 ⏰

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