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Manhã-08:37 Am

Me sinto uma completa egoísta por fazer ela ter sentimentos por mim.

Eu vejo,em seus olhos,a paixão,desejo neles,esperança de ser correspondida. Mas sei,seria tolice a minha pedir para que ela continuasse ao meu lado, mesmo depois de minha prisão.

As vezes paro um pouco e penso de mais, e sempre faço a mesma maldita pergunta: Valeu realmente a pena trazer ela aqui,para depois fazer ela chorar? Odeio a resposta mais,sei tão bem qual ela é,um simples e doloroso "não".

Ela ainda não se lembrou de mim,isso me deixou magoada? Talvez. Mais,talvez,eu já não seja reconhecível aos olhos das pessoas que no passado me conheceram.

Eu mudei.

Não sou mais aquela menina que brincava no bairro de pega-pega ou se esconda até escurecer,ou andar de bicicleta,apostar corrida com as crianças daquele tempo.

Eu cresci, mesmo tendo consciência desde os meus oito anos de que o mundo não era bom,de que as pessoas são cruéis é até a justiça humana é falha. Ainda tentei acreditar que as pessoas tinham um lado bom,mas estavam ocultas.

Grande erro.

Pessoas cruéis não têm um lado bom, a não ser,ser bom para si mesmos. Sem se importar se aquilo mataria alguém ou não. Bem-vinda a realidade.

A puberdade feminina,a famosa frase "parabéns,você virou mocinha". Que irônico,menstruei alguns dias depois do meu aniversário de onze anos.

Com isso veio as responsabilidades que não eram de uma criança. Lavar pratos,varrer casa,limpa poeira, passar pano na casa. Quando tentava ir brincar de boneca ou comidinha, ouvia:"Você já é grandinha de mais para brincar com brinquedos! Vá estudar! pegar um livro pra ler!".

Porra!

Eu só tinha onze anos!

Qual era a droga do problema em aproveitar a infância? Nenhum.

Mas a minha acabou ali.

Os brinquedos que um dia brinquei, estavam sendo usados pelos meus irmãos mais novos. Meus novos brinquedos eram a Tv,o telefone,é as atividades domésticas. A bicicleta que um dia tanto pedalei apostando corrida com as outras crianças ,estava ali, parada . Eu ainda queria pedalar nela,apostar corrida de novo,correr de novo,sentir o vento bater contra meu rosto.

Saudades do tempo em que eu ainda era uma criança.

Me tornei alguém pouco sociável, que não tinha muitos amigos. Que não tinha coração. Ou melhor,eu tinha um,mas não fazia menção de usa-lo.

Não com a sociedade que o esfriou.

Já não era mais aquela garotinha que caía e chorava. Se caísse, levantava, limpava e o dia ainda sim,continuava como se nada tivesse acontecido. Perdi dois anos da minha vida,chorando pela falta de amor próprio de minha mãe.

Por quê?

Você ainda amaria e continuaria com o homem na qual te bate,te calúnia,te fere com palavras e faz você abaixar a cabeça?

Ela continuou.

Eu não continuaria.

Pelo contrário,o mataria,faria ele pagar todo o inferno pelo qual me fez passar. Diferente dela,eu não toleraria um simples ato,como levantar a mão para mim. Se levantasse,eu a quebraria sem piedade.

Jurei não ser tão tolerante como ela.

Jurei não ser tão miserável como ele.

Mas ela se parecia com ele, fisicamente,é de, certa forma psicologicamente.

MY GIRL  [Lesbico-Bissexual]Onde histórias criam vida. Descubra agora