Escarlate | Sebastian Sallow

23 - Sete de novembro

"Nós estávamos correndo através das tempestades, através da noite. Nós estávamos correndo no escuro, estávamos seguindo nossos corações e caímos. Os tempos frios surgem."

— Falling Apart - Michael Schulte

Scarlett se jogou na primeira Chama de Flu que encontrou ao sair da Galeria Subterrânea naquela horrível madrugada de sábado. Ela deveria ter se ouvido e ter ido dormir depois do jantar maravilhoso que tivera. Estava tudo tão bem... Por que não o fez? Por que foi ouvir Sebastian?

Ele estava certo, afinal. Ela se deixou levar por ele.

O frio das masmorras tomou seu corpo quando as chamas verdes sumiram e ela embalou em uma corrida incansável até o seu quarto. Ela só queria sumir. O ar estava pesado e, por mais que tentasse segurar as lágrimas, elas caíam como cascata de seus olhos.

Sebastian estava certo.

Ela era uma tola mesmo. Tola por gostar tanto de alguém que claramente não sentia o mesmo. Ela só queria ajudar da melhor forma que conseguisse e Sebastian havia pisado em seus sentimentos. Ele a via como todos ali. Por que pensou que seria diferente? Por meia dúzia de palavras bem ensaiadas com outras garotas, só porque ela poderia ter algo que o ajudaria?

Não via mais o caminho que seguia. Era impossível com a visão embaçada por sua idiotice. Idiota por acreditar que Sebastian Sallow poderia gostar dela. Seu corpo repentinamente se chocou com outro, seu nariz bateu no peitoral claramente masculino que a empurrou com força para trás. Por pouco ela conseguiu se equilibrar.

— Olha por onde anda, imunda! — Sirius proferiu com nojo. — Um minuto para você estar no quarto ou eu vou tirar pontos de você e espalhar que a culpa de termos caído de novo é sua.

Sky segurou a varinha com força. Era só um feitiço e Sirius estaria voando para o outro lado da sala comunal, mas o medo da retaliação a travou e a fez voltar a correr para o seu quarto, abrindo a porta em um rompante.

Imelda saltou da cama, sacudiu a varinha e ligou as luzes, assustando-se com o estado de Scarlett. A roupa suja, machucados em seu rosto, sangue e o rastro das lágrimas entre toda a sujeira de sua pele.

— Sky, o que aconteceu?!

Não houve resposta, Scarlett jogou em sua pequena bolsa de algodão uma muda de roupa, os itens de higiene pessoal e pegou a toalha, correndo para o banheiro no fim do corredor. Talvez fosse sua sorte ser madrugada, assim poderia ficar sozinha, chorar sozinha. Ela arrancou a roupa do seu corpo com raiva, soluçando, querendo rasgar-se, e fechou-se naquele pequeno espaço de ladrilhos gelados enquanto a água caía por sua cabeça.

"Talvez fosse melhor se você nunca tivesse recebido aquela carta."

Poderia ser considerado um costume chorar no banho por conta do Sebastian Sallow? Afinal, aquela não era a primeira vez.

Seu corpo todo doía, como geralmente ficava após enfrentar a morte. Porém, era a primeira vez que sentia seu coração doer daquela forma. O amor sempre doía. Sempre. Sua mãe a deixando. Seu pai a batendo. Seu avô a ignorando. Sebastian a desprezando. Todos lhe causaram dor, só mudava a forma.

"Tola e egoísta."

O que Sebastian disse sequer era o pior que ela já ouviu, ou o pior que passou. Então, por que doía como se fosse? Por que sentia seu mundo desmoronando, o ar sumindo e seu coração sendo dilacerado?

Ela deveria ter escutado Ominis. Sebastian podia, sim, machucá-la. Tanto podia como o fez. Céus! Como ela pode ter sido tão estúpida? Ele sempre foi a síntese do que mais odiava; a postura prepotente, a arrogância disfarçada de sabedoria, a forma convincente de andar, o olhar presunçoso, a impetuosidade exagerada, o ego enorme, as palavras ferinas.