Roier sempre fora fascinado pelo sobrenatural. Desde criança, passava horas em bibliotecas poeirentas e fóruns online, buscando qualquer vestígio de prova de que algo além da realidade comum existia. Suas paredes eram cobertas por anotações, símbolos antigos e ilustrações de criaturas que habitavam lendas e mitos. Era mais que uma curiosidade passageira — era uma obsessão.
Aos vinte e poucos anos, Roier já havia tentado de tudo: tabuleiros de ouija, rituais de invocação simples, até visitas a lugares supostamente assombrados. Nada o satisfazia. Ele queria mais. Queria provas, queria sentir o toque de algo que o mundo não podia explicar. E quanto mais tentava, mais frustrado ficava com os fracassos. Foi então que ele encontrou, em um livro esquecido em uma livraria de esquina, o ritual.
Dizia-se que era um ritual antigo, um dos mais perigosos e proibidos. O livro estava escrito em grego e aparentemente poucas pessoas haviam tentado os rituais, e menos ainda haviam sobrevivido para contar. Ele prometia invocar um demônio poderoso, uma entidade além da compreensão humana, capaz de conceder qualquer desejo, mas a um preço alto. Roier leu e releu aquelas páginas, traduzindo o idioma desconhecido para o seu ao ponto de quase aprendê-lo, tantas vezes que os símbolos começaram a se gravar em sua mente. Estava decidido: ele faria o ritual.
Roier não queria conhecer aquela entidade. Roier precisava disso.
δαίμονας του φόβου era o que — quem — Roier buscava. O Demônio do Medo, Cell.
Naquela noite, ele preparou tudo com cuidado. Apagou as luzes de seu pequeno apartamento, iluminando o ambiente apenas com velas dispostas em um círculo perfeito no centro da sala. Com giz, desenhou os símbolos exatos no chão, garantindo que cada traço estivesse no lugar certo, como descrito no antigo livro. Suas mãos tremiam levemente com a expectativa, mas também com o medo. Ele sabia que o que estava prestes a fazer não era um jogo. Era real.
No centro do círculo, colocou um espelho antigo e uma pequena oferta — uma gota de seu próprio sangue, como o livro exigia. Ele recitou as palavras arcaicas, sua voz ecoando na sala vazia, e a temperatura ao seu redor começou a cair. Roier sentiu um arrepio na espinha, mas continuou, incapaz de parar agora. A luz das velas tremeluzia, e ele sentia como se o ar ao redor estivesse vibrando com uma energia invisível.
O silêncio que se seguiu foi esmagador, como se o mundo tivesse parado de respirar. E então, os símbolos no chão começaram a brilhar com uma luz vermelha fraca, e o espelho no centro do círculo tremeu, rachando ligeiramente.
Uma risada baixa e rouca ecoou no ar, fazendo Roier congelar no lugar.
— Você me chamou — uma voz grave, sedutora, e estranhamente calma sussurrou, preenchendo o espaço.
Roier olhou para o centro do círculo, seu coração disparando. Do espelho trincado, uma figura alta e imponente começou a se materializar. Primeiro, sombras envolviam o corpo, mas à medida que tomava forma, Roier viu o brilho intenso dos olhos azuis, penetrando-o como se já soubesse cada segredo que ele guardava.
O demônio tinha uma presença esmagadora. Suas vestes eram escuras, ele todo parecia estar envolto em névoa negra. Asas enormes de plumas pretas brilhavam à luz das velas, e seus movimentos eram fluidos, quase serpenteantes. Havia algo de terrivelmente fascinante e perigoso naquela figura, algo que fazia o moreno se sentir pequeno e vulnerável, mas ao mesmo tempo incapaz de desviar o olhar.
— E então, humano... — Cell sorriu, mostrando dentes afiados, que saltaram de lábios vermelho sangue. — O que você deseja?
Roier engoliu em seco. Estava prestes a fazer um pacto com uma criatura que só ouvira falar em lendas. Mas algo dentro de si — uma excitação perigosa, uma obsessão incontrolável — o empurrou a continuar. Ele finalmente havia conseguido o que tanto buscava.
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damnation
Fanfiction- Você me chamou - uma voz grave, sedutora, e estranhamente calma sussurrou, preenchendo o espaço. Roier olhou para o centro do círculo, seu coração disparando. Do espelho trincado, uma figura alta e imponente começou a se materializar. Primeiro, so...