Capítulo 003

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֪ 🏹 𝕬s sombras cobriam o vilarejo ao redor do castelo dos Storbony enquanto Nevellyn e Elisse escapavam pela entrada lateral, rindo e cochichando como se fossem duas meninas travessas. Era Elisse quem tinha planejado a aventura daquela noite. Não era a primeira vez que escapavam da corte, mas, por razões óbvias, precisavam ser discretas. Dessa vez, o destino era o bordel próximo, um lugar que oferecia a ambas a liberdade que o castelo negro de Fenris jamais permitiria.

Elisse estava empolgada e, ao chegarem ao bordel, praticamente arrastou Nevellyn para dentro. O lugar era aquecido e iluminado com lamparinas que pendiam das vigas do teto, lançando luzes oscilantes sobre as paredes de madeira. O cheiro de vinho, perfume e fumaça era intenso, mas, de certa forma, acolhedor. As mulheres que trabalhavam ali riam alto, despreocupadas, e os clientes, de expressões variadas, enchiam suas taças, formando uma sinfonia de risadas e conversas animadas.

Nevellyn tentou conter o entusiasmo de Elisse, que já fazia um escândalo desde o momento que entraram.

── Elisse, controla-te, ou nos entregarás antes mesmo de amanhecer! - sussurrou, puxando-a pelo braço.

── Ora, Nevellyn, não sejas tão séria! Vamos beber e cantar como todas aqui! - respondeu Elisse, erguendo uma caneca de vinho que já estava sobre o balcão, sorrindo como uma criança levada.

Em pouco tempo, estavam misturadas entre as outras mulheres do bordel e os mercenários que ali se reuniam. Nevellyn observava tudo atentamente, de maneira quase calculista. Apesar de estar ali para esquecer, seu olhar analítico captava cada detalhe, cada rosto e movimento. Foi então que notou um homem robusto, com cicatrizes no rosto e uma tatuagem no braço, que observava as duas com um interesse além do comum. Ele não parecia um simples cliente; sua postura e os olhos que percorriam o salão o denunciavam como alguém experiente e perigoso, provavelmente um mercenário.

Elisse estava longe de perceber a tensão que Nevellyn começava a sentir, entregando-se por completo ao ambiente e já com algumas taças de vinho a mais. Cantavam, dançavam, e as horas foram se esvaindo enquanto o vilarejo caía no sono.

Na volta ao castelo, o ar fresco da noite caía sobre os ombros de ambas, trazendo uma sensação de leveza e liberdade que não sentiam há tempos. Elisse, completamente embriagada, pulava e ria pelo caminho estreito, enquanto Nevellyn a segurava pela mão, tentando manter a amiga estável. Cantavam a plenos pulmões, esquecendo que estavam no meio da escuridão de Fenris, em um vilarejo conhecido por sua hostilidade e perigos noturnos.

Foi nesse momento que Nevellyn sentiu um leve calafrio subir pela espinha. Algo estava errado. Um sutil som de passos na escuridão a fez apertar o braço de Elisse.

── Pare de pular, Elisse! - sussurrou, puxando-a para perto. - Estamos sendo seguidas.

Elisse, rindo e cambaleando, não deu muita atenção e continuou a cantarolar, mas Nevellyn já estava alerta, preparada para o que fosse necessário. Anos de treino secreto com o comandante da guarda de Fenris lhe haviam ensinado a ser cautelosa, a notar até o menor ruído fora do comum. Sua amiga, no entanto, desconhecia essa parte de sua vida, achando que Nevellyn era apenas a filha rebelde do Lorde Edmond.

A sombra de um homem surgiu à frente, bloqueando a entrada lateral que levava ao castelo. Ele usava um capuz que cobria parte do rosto, mas uma tatuagem inconfundível em seu braço o entregou: era o mercenário que as observava no bordel.

── Ora, ora, duas jovens da corte saindo sozinhas na calada da noite... - zombou o homem, aproximando-se devagar, com um brilho ameaçador nos olhos. - Eu diria que é meu dia de sorte.

Nevellyn cerrou o punho e deu um passo à frente, colocando-se entre o homem e Elisse, que estava confusa e trôpega.

── Aproxime-se e eu juro que não sairá daqui inteiro - disse Nevellyn, a voz firme, fria.

O mercenário riu, claramente desdenhoso, e continuou a se aproximar.

── Uma donzela como você ameaçando um homem como eu? Que engraçado. Mas acho que prefiro que fiques quieta.

Ele tentou agarrá-la, mas Nevellyn, apesar de ter bebido, se esquivou com facilidade. Anos de treinamento a ensinaram a manter o foco mesmo nas condições mais desfavoráveis. Movendo-se com agilidade, ela desferiu um soco no estômago do homem, aproveitando a surpresa no rosto dele para tirar a adaga que carregava presa à perna.

O mercenário cambaleou para trás, mas logo recuperou o equilíbrio, agora com uma expressão de fúria. Em uma tentativa desesperada, ele avançou novamente, mas Nevellyn já estava pronta. Com um movimento rápido, esquivou-se de seus golpes, usando a lâmina com precisão. Feriu-lhe o braço e depois a perna, obrigando-o a recuar.

── Como é possível... - o homem murmurou, tentando recuperar o fôlego. - Uma mulher... lutando com essa precisão?

Nevellyn sorriu, fria e calculista.

── Não subestimes uma filha de Fenris - disse ela, dando um último golpe que o derrubou. Ele caiu no chão com um grunhido, a dor o deixando incapaz de se levantar.

Ela se aproximou e, segurando o rosto dele com uma frieza inabalável, sussurrou.

── Saiba que teve a audácia de atacar a filha de Lorde Edmond Storbony. Poderia acabar contigo agora, mas talvez gostes de viver com o terror de saber que eu estou sempre por perto.

O homem, desesperado, ainda tentou se arrastar para longe, mas Nevellyn o empurrou com o pé, observando-o se afastar aos tropeços, com uma expressão de pânico.

Nesse momento, Elisse, que havia estado atônita durante toda a luta, finalmente reagiu, dando um passo cambaleante à frente.

── Nevellyn! Aquilo foi... incrível! Não sabia que podias lutar assim! - exclamou, rindo e batendo palmas como uma criança.

Nevellyn lançou-lhe um olhar exasperado, mas um sorriso leve escapou de seus lábios.

── E há mais coisas que eu posso fazer das quais não sabes, Elisse - disse ela, tentando parecer despreocupada, mas sentindo uma ponta de orgulho ao ver o olhar maravilhado da amiga.

── Pois agora quero aprender também! - declarou Elisse, quase caindo ao tentar dar um passo em falso.

Nevellyn segurou a amiga pelo braço, ajudando-a a se equilibrar.

── Aprenderás amanhã, quem sabe, quando a ressaca permitir - brincou, começando a puxar Elisse na direção do castelo.

Ambas voltaram aos tropeços, ainda sentindo a adrenalina da luta e rindo da situação. Ao atravessarem o portão secreto que as levaria de volta aos aposentos de Nevellyn, ela lançou um último olhar para o vilarejo, agora mergulhado em um silêncio quase sobrenatural.

Assim, retornaram ao castelo, onde Elisse logo caiu em um sono profundo, exausta e embriagada. Mas Nevellyn permaneceu desperta, refletindo sobre tudo que havia acontecido. A noite havia sido mais do que uma simples aventura: a lembrança de sua força e das habilidades que treinava secretamente lhe trouxera uma nova sensação de poder.

𝗧𝗛𝗘 𝗖𝗛𝗔𝗢𝗦 𝗢𝗙 𝗬𝗢𝗨𝗥 𝗘𝗬𝗘 /𝔒 𝔡𝔢𝔰𝔱𝔦𝔫𝔬 𝔡𝔢 𝔑𝔢𝔳𝔢𝔩𝔩𝔶𝔫Onde histórias criam vida. Descubra agora