Capítulo 020

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֪ 🏹 𝕬 estrada para Winterfell estava coberta por uma fina camada de poeira que os cavalos erguiam à medida que avançavam. Nevellyn, sentada dentro da carruagem, observava a paisagem monótona enquanto sua mãe, Lady Melissa, repousava ao seu lado. A longa viagem já começava a afetar a saúde da mãe, que parecia exausta e febril, algo que preocupava Nevellyn, embora ela evitasse demonstrar. No entanto, um sentimento de desconfiança a corroía internamente ao observar o mestre Gerard, o homem responsável pela saúde de sua mãe e de toda a família Storbony.

Gerard, um homem rechonchudo e envelhecido, mantinha-se concentrado em cuidar de Lady Melissa, inclinando-se ocasionalmente para molhar um pano em uma bacia de água morna misturada com ervas desconhecidas. As vestes largas que usava acomodavam seu corpo robusto, e seu rosto brilhava de suor, denotando o esforço e o desconforto de estar em um espaço apertado e em constante balanço. O cheiro das ervas, um aroma amargo e picante, invadia o ar da carruagem, o que parecia proporcionar algum alívio à febre de Lady Melissa, mas trazia também à mente de Nevellyn as histórias que ouvira sobre ele nas tavernas — um homem com vícios de bebida e fama de frequentador das casas de prazeres de Fenris.

No exterior da carruagem, Lorde Edmond Storbony cavalgava ao lado do veículo, altivo e rígido, como se buscasse demonstrar bravura aos que observassem sua chegada iminente a Winterfell. Para Nevellyn, era uma atitude vazia, um teatro de orgulho tolo. Seu pai parecia ignorar o cansaço de sua esposa, focado apenas na própria imagem, o que fazia Nevellyn se sentir ainda mais responsável pela segurança de sua mãe.

No interior da carruagem, um silêncio desconfortável reinava. Gerard percebeu o olhar de Nevellyn sobre ele, mas não demonstrou reação. Ela, então, quebrou o silêncio:

— Mestre Gerard, minha mãe está realmente melhorando? — sua voz soou firme, mas cautelosa, com uma pitada de desconfiança.

Gerard lançou um olhar hesitante para ela antes de responder, desviando os olhos para Lady Melissa adormecida.

— Só os deuses sabem, Lady Nevellyn — respondeu ele, secando a testa da mulher. — Mas, para tranquilizá-la, diria que sim, ela está estável. Esses remédios são antigos, passados de mestres a aprendizes, eficazes para reduzir a febre e o cansaço. Precisamos confiar.

Nevellyn observou-o com olhos estreitos, como se buscasse alguma mentira oculta em suas palavras. Não estava convencida, e algo no modo como Gerard falava lhe parecia insincero. Lady Melissa soltou um suspiro leve, ainda imersa em seu sono, e Nevellyn fez sinal para que Gerard se aproximasse.

— Venha até aqui, mestre — ela pediu, com uma voz baixa. — Não quero incomodar o descanso dela.

O mestre hesitou, mas, após um instante, se inclinou e se moveu para mais perto de Nevellyn, esforçando-se para manter o equilíbrio enquanto a carruagem chacoalhava pelas pedras da estrada. Seus passos eram pesados, e ele se acomodou ao lado de Nevellyn com visível desconforto.

Assim que ele se sentou, Nevellyn, com um movimento rápido e calculado, puxou sua adaga e pressionou a lâmina contra a barriga rechonchuda de Gerard. O sorriso descontraído no rosto do mestre desapareceu de imediato, substituído por uma expressão de pavor. Seus olhos, arregalados, revelavam sua tensão, enquanto ele levantava as mãos em um gesto de rendição.

— O que... o que significa isso, Lady Nevellyn? — sussurrou ele, tentando manter a calma.

Nevellyn aproximou o rosto do dele, sem diminuir a pressão da lâmina contra sua carne. — Eu quero saber a verdade, Gerard — murmurou, sua voz fria como o aço da adaga. — Se está conspirando com meu pai para prejudicar minha mãe, juro que não verá o próximo nascer do sol.

Gerard começou a tremer, suando ainda mais, suas mãos agora trêmulas erguidas em desespero. — Milady, eu não sei do que está falando! Juro pelos deuses, não tenho intenção alguma de machucar sua mãe! Eu... eu só sigo as ordens de Lorde Edmond para manter todos vocês em boa saúde!

Nevellyn não parecia convencida. Com uma mão, puxou um pequeno frasco do bolso largo do mestre e o ergueu na frente dele. Era um vidro opaco, com um líquido de coloração escura, de cheiro amargo e intenso. Ela segurou o frasco com firmeza, encarando-o.

— E o que é isso, então, mestre? — perguntou ela, com um tom de desafio. — Reconheço o cheiro deste veneno. Lentamente corrosivo... conhecido por enfraquecer aos poucos, até que a vítima perca a saúde completamente.

Gerard gaguejou, engolindo em seco, seu rosto ficando pálido ao ver o frasco nas mãos dela. — Esse... não, milady! É apenas um remédio! Eu o uso para dores mais intensas, apenas em doses pequenas. Acredite, eu nunca faria nada para prejudicar Lady Melissa!

Nevellyn pressionou ainda mais a lâmina contra ele, fazendo Gerard se encolher. — Não minta para mim, Gerard. Você sabe muito bem o que isso pode causar se usado em excesso. Diga a verdade ou minha lâmina será a última coisa que verá.

O mestre, ofegante e apavorado, ergueu os olhos para ela com súplica. — Eu... eu juro, Lady Nevellyn, não sou responsável por nada disso! Sou leal à sua mãe, só faço o que posso para aliviar suas dores. Peço-lhe... por favor, acredite em mim!

Neste momento, Lady Melissa murmurou suavemente, chamando pelo mestre, seus olhos ainda fechados e sua voz fraca. Gerard olhou para Nevellyn, que o encarou por mais um instante antes de soltar o frasco e baixar a adaga. Ele, ainda ofegante, levantou-se rapidamente e foi até Lady Melissa, tentando esconder o pavor em seu rosto enquanto ajeitava o pano úmido em sua testa.

Nevellyn observou em silêncio, seu olhar carregado de desconfiança e desdém. Gerard, nervoso, fez o possível para cuidar de Lady Melissa enquanto tentava se recompor, mas sabia que Nevellyn estaria vigiando-o de perto a partir daquele momento.

𝗧𝗛𝗘 𝗖𝗛𝗔𝗢𝗦 𝗢𝗙 𝗬𝗢𝗨𝗥 𝗘𝗬𝗘 /𝔒 𝔡𝔢𝔰𝔱𝔦𝔫𝔬 𝔡𝔢 𝔑𝔢𝔳𝔢𝔩𝔩𝔶𝔫Onde histórias criam vida. Descubra agora