• Belo Começo

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Anne tinha acabado de sair do treino. Suada, cansada, e só queria chegar no estúdio, tomar um banho rápido e terminar as últimas tatuagens do dia. Mas é claro que o universo tinha outros planos. O primeiro erro: esqueceu de colocar a plaquinha de "Fechado" na porta. O segundo: não trancou.

Ela estava lá, na sala dos fundos, tentando acalmar o corpo após uma sessão intensa de crossfit, quando ouviu a maldita porta abrir. Anne bufou. Quem diabos entra em um estúdio sem bater, sem marcar horário?

— Oi?! — ela gritou da porta, já irritada.

— Eu tenho um horário.

A voz era firme, confiante, e definitivamente irritante. Anne saiu da sala e deu de cara com ele. Gabriel Guevara. O galãzinho das telonas, com aquele sorriso convencido e ares de quem acha que manda no mundo. Ela tinha visto fotos dele por aí, sabia quem ele era. Mas no momento, ela só conseguia pensar: "Que merda esse cara tá fazendo aqui?"

— Não lembro de marcar nada com você — ela retrucou, já sentindo a paciência evaporar. E, sério, o que tinha na água desses caras famosos que os fazia pensar que podiam chegar assim, sem mais nem menos?

Gabriel deu um sorrisinho de lado, aquele tipo de sorriso que só alimentava o desejo de dar um soco na cara dele. Ele se recostou na bancada, como se tivesse todo o tempo do mundo, os olhos escuros observando-a de cima a baixo. Não de um jeito educado, claro. Mais como quem estava avaliando uma peça de carne no açougue.

— Marquei com seu assistente. Disse que era urgente. — A voz dele carregava uma arrogância insuportável, e Anne já sabia que aquilo ia ser um problema.

Ela cruzou os braços, sem se importar em esconder o desprezo no olhar.

— Eu não tenho assistente.

O sorriso de Gabriel se alargou, desafiador.

— Ah, então acho que ele era um impostor. Mas já que tô aqui...

— Não, não tá. — Ela deu um passo à frente, cortando o barato dele. — Eu tô fechada. Volta outro dia.

Gabriel arqueou uma sobrancelha, sem se mover da bancada.

— Você sempre trata seus clientes assim? Eu ouvi falar que você era boa, mas talvez eu tenha me enganado.

Anne sentiu o sangue ferver. Quem esse cara pensava que era pra chegar no estúdio dela e questionar o trabalho dela?

— E eu ouvi falar que você era um babaca, mas acho que quem se enganou fui eu, porque tá pior do que eu pensava — retrucou ela, sem filtrar as palavras.

Gabriel soltou uma risada baixa, aquela risada que fazia questão de mostrar que ele não levava ninguém a sério.

— Tem gente que pagaria para me tatuar — ele provocou, a voz com um tom debochado. — Você devia ficar feliz por ter essa chance.

— Vai se foder — Anne cuspiu, andando até a porta e a escancarando. — Pode ir embora, Gabrielzinho. Meu estúdio não precisa de você.

Ele continuou parado, não se movendo um centímetro.

— Você não tem ideia de quem eu sou, tem?

— Tenho, sim. — Ela deu de ombros. — Um babaca famoso. Agora sai.

Gabriel finalmente se levantou da bancada, se aproximando devagar. Ele tinha aquele jeito de quem dominava qualquer lugar em que entrava, mas Anne não estava impressionada. Pelo contrário, o comportamento dele só aumentava sua irritação.

— Vou fazer a tatuagem com você, não importa o que diga. — Ele parou bem à frente dela, olhando-a diretamente nos olhos. — Então, quanto mais cedo aceitar, melhor pra todo mundo.

Anne não piscou. O cheiro do perfume caro dele se misturava ao suor dela, e por um segundo ela pensou em como seria bom dar um soco bem no meio daquele sorriso convencido.

— Eu faço as regras aqui. Se você acha que pode mandar, sugiro que procure outro estúdio — ela disse, com firmeza.

— Beleza, mas você vai acabar aceitando. — Ele deu um sorriso presunçoso antes de sair pela porta, sem pressa. — Vai ver, Anne.

E saiu, deixando Anne sozinha no estúdio, ainda irritada, mas com a sensação incômoda de que ele ia mesmo voltar.

Assim começa o caos.

Sin límites - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora