Anne passou os dias seguintes convencida de que Gabriel não voltaria. Aquele tipo de cara, acostumado a ter o ego inflado por qualquer um que cruzasse seu caminho, deveria estar agora em outro estúdio, recebendo toda a bajulação que ele tanto achava merecer. Isso se ele não tivesse desistido da tatuagem só por ela ter dito "não". Mas, claro, como tudo na vida de Anne parecia virar do avesso, Gabriel reapareceu.
Ela estava no meio de uma sessão, concentrada nos detalhes de uma peça grande, quando ouviu a maldita campainha da porta.
— Merda. — Ela resmungou baixinho, sem tirar os olhos da agulha. Quem quer que fosse, teria que esperar.
A cliente na maca, uma mulher com o braço já quase coberto por flores vibrantes, olhou em direção à porta e sorriu levemente.
— Acho que seu próximo cliente chegou.
Anne deu de ombros, mantendo a calma. Quando finalmente terminou o traço e se levantou para checar, já sabia quem era antes mesmo de ver. O ar ao redor parecia ficar pesado, como se a arrogância de Gabriel pudesse ser sentida a quilômetros.
Lá estava ele, de novo, encostado na bancada como se tivesse todo o tempo do mundo.
— Tava com saudades de mim, Anne?
Ela revirou os olhos, ignorando completamente a provocação enquanto ia até a pia lavar as mãos. A última coisa que ela queria era entrar na dança dele, mas parecia que Gabriel sabia exatamente quais botões apertar.
— Não tenho horário pra você hoje — disse friamente, sem nem se virar.
— Achei que não tivesse assistente, então quem faz sua agenda? — Ele respondeu, e pela voz, ela sabia que ele estava sorrindo daquele jeito irritante. Ela podia sentir o olhar dele queimando em suas costas.
— Eu faço — Anne respondeu, secando as mãos com mais força do que o necessário. — E decidi que não vou te tatuar.
Gabriel riu. Aquele riso baixo e debochado que a fazia querer arremessar algo na cara dele.
— Cê fala isso como se tivesse escolha.
Anne finalmente se virou, cruzando os braços, e encarou Gabriel com uma frieza que ela esperava que fosse o suficiente pra ele pegar a dica e sair pela porta.
— Olha, Guevara, eu tenho mais o que fazer. Não vou perder meu tempo com você. Então, se liga, procura outro estúdio. Deve ter vários por aí que ficariam felizes de te tatuar.
Ele deu um passo à frente, se aproximando. Gabriel sempre parecia maior e mais ameaçador quando se aproximava, mas Anne se recusava a recuar. Ela mantinha o queixo erguido, olhando-o de cima a baixo, como se ele fosse nada mais que um inconveniente.
— Eu não quero outro estúdio. Quero você — disse, com um sorriso de canto, cheio de segundas intenções.
— Vai sonhando — Anne rebateu, tentando ignorar o calor no estômago causado pela proximidade.
Gabriel não piscou. Ele abaixou um pouco o tom de voz, o suficiente para que só ela ouvisse.
— Eu sempre consigo o que eu quero, Anne.
Ela quase riu na cara dele. Claro que ele conseguia. Rico, famoso, com aquele maldito sorriso que fazia metade das pessoas derreterem aos pés dele. Mas ela não era metade das pessoas.
— Me poupa do seu clichê de galã. Eu já ouvi isso antes, e advinha? Continua não funcionando comigo.
— Ah, cê acha que é diferente? — Gabriel deu mais um passo à frente, invadindo o espaço pessoal dela. — Porque, até agora, parece que tá me dando toda a atenção que eu quero.
— Porque você tá literalmente no meu estúdio, me enchendo o saco! — Anne estourou, as palavras saindo com mais raiva do que ela pretendia. — E eu não dou a mínima pra sua fama ou pro que você quer. Eu tenho uma cliente aqui e trabalho a fazer, então... faz um favor? Desaparece.
Por um momento, o sorriso de Gabriel vacilou, mas logo voltou ao normal. Ele inclinou a cabeça de leve, como se estudasse o rosto dela.
— Tudo bem. Vou dar um tempo pra você se convencer de que vai acabar fazendo o que eu quero.
Anne deu um passo à frente, com um dedo em riste.
— Quer saber? Você pode enfiar sua arrogância no...
— Anne! — A cliente na maca riu, interrompendo a frase. — Talvez seja melhor você continuar depois.
Ela olhou para trás e viu a mulher sorrindo, claramente se divertindo com a situação. Anne bufou, irritada.
— Essa foi sua última chance, Guevara. Da próxima vez que você aparecer sem aviso, eu chamo a polícia.
Gabriel levantou as mãos como se estivesse se rendendo, o sorriso nunca saindo do rosto.
— Tudo bem, chefe. — Ele deu uma piscadela, claramente tirando sarro. — Mas cê sabe que vai acabar me tatuando. É só uma questão de tempo.
Anne o observou sair pela porta, o som do sino ecoando quando ela se fechou. Ela queria explodir algo, de preferência a cara dele. "Só uma questão de tempo"? Aquele filho da mãe tava realmente convencido de que ia vencer. Bem, ele não sabia com quem estava lidando.
Anne voltou para a cliente, tentando controlar a respiração.
— Cara, esse cara é insuportável! — Ela murmurou enquanto preparava as tintas de novo.
A mulher na maca apenas sorriu.
— Insuportável e gostoso. Cuidado, ou você vai acabar cedendo.
Anne soltou um suspiro.
— Não se preocupe. Eu prefiro arrancar minha própria pele do que dar uma vitória pra aquele babaca.
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Sin límites - Gabriel Guevara
Fanfiction•Enemies to Lover • Tattoo • Espanha • Brigas • Palavrões • Drogas Lícitas e Ilícitas se isso te interessa, então veio para a fanfic certa