Anne chegou ao café com o estômago embrulhado, mas não de ansiedade, e sim de raiva. Raiva por estar ali, por aceitar o convite, por se importar tanto com o que Gabriel pensava ou fazia. "É só mais uma etapa desse jogo ridículo", ela pensou, empurrando a porta de vidro do café com um pouco mais de força do que o necessário.
Ela o avistou no canto, descontraído, olhando o celular com aquele mesmo ar de autossuficiência que a irritava. Óculos escuros, jaqueta de couro, claro. "Caricatura de galã", pensou, revirando os olhos. Ele sequer percebeu sua chegada de imediato, o que só aumentou sua irritação.
— Olha só quem resolveu aparecer — ela soltou, cortando o silêncio enquanto caminhava até a mesa.
Gabriel levantou o olhar com um sorriso de canto que a fez querer virar as costas e ir embora.
— Achei que você ia me deixar plantado aqui. — Ele abaixou o celular lentamente, como se fosse o dono do tempo.
— E perder a chance de te ver tentar me impressionar? Jamais — Anne respondeu, puxando a cadeira e se jogando nela, sem nenhum esforço para parecer educada.
Ele riu, o que só a irritou mais.
— Impressionar você? Achei que isso fosse impossível. Não é o que você vive dizendo?
— Não preciso repetir. Você já deve saber de cor. — Ela cruzou os braços, arqueando a sobrancelha.
O garçom se aproximou, e Anne pediu um café preto, direto e sem açúcar. Ela precisava de algo forte para aguentar o que viria a seguir. Gabriel, claro, já tinha seu capuccino à frente, porque até nisso ele tinha que ser o oposto dela.
— Então, me diz uma coisa... — Gabriel começou, inclinando-se levemente para frente, com aquele ar de quem estava prestes a soltar alguma provocação. — O que te irrita tanto em mim? Além do óbvio, claro.
Anne estreitou os olhos, decidida a não deixar ele sair ganhando dessa.
— Pra começar, você é o tipo que acha que pode conseguir tudo na base da cara bonita. Tá acostumado a ouvir "sim" o tempo todo e, quando alguém te contraria, você age como se fosse um desafio pessoal. — Ela disse, sem pausa. — Como se o mundo inteiro estivesse aqui só pra te servir. Isso me irrita.
Gabriel sorriu, mas dessa vez era um sorriso afiado, não aquele sorriso simpático que ele jogava para todos.
— E quem disse que eu tô acostumado a ouvir "sim" o tempo todo? Talvez você esteja me julgando rápido demais, não acha?
— Ah, por favor. Você é Gabriel Guevara, cara. Quantas vezes ouviu "não" na vida, além de mim? — Anne retrucou, lançando um olhar cético.
Ele deu de ombros, como se aquilo fosse irrelevante.
— Ouvir "não" não é o problema. O problema é quando alguém diz "não" porque acha que me conhece depois de trocar duas palavras comigo.
Anne mordeu a língua, tentando não demonstrar que aquilo tinha atingido um ponto sensível. Ele estava certo em parte, ela sabia disso. Ela tinha julgado rápido. Mas, ao mesmo tempo, ele não tinha feito nada para provar o contrário.
— E o que você quer, então? Que eu sente e ouça a sua história triste? — provocou, tomando um gole do café assim que o garçom o trouxe. — Porque, até agora, tudo que você fez foi confirmar a impressão que eu tinha.
Gabriel se inclinou ainda mais, os olhos cravados nos dela.
— Eu só quero uma chance de te mostrar que você pode estar errada. Mas acho que isso te assusta, né? Admitir que não me conhece tanto quanto acha.
Ela riu, mas foi um riso amargo.
— Medo? Você acha que eu tenho medo de você? A única coisa que me assusta é a quantidade de ego que você tem. Dá pra ver do outro lado da cidade.
Gabriel ergueu uma sobrancelha, claramente se divertindo.
— Eu só confio no meu taco, Anne. Mas isso não é ego. É saber o que eu quero.
Ela colocou a xícara com força na mesa, ignorando o barulho que fez.
— E você acha que eu sou o que você quer? — perguntou, a voz saindo mais desafiadora do que planejava.
— Acho que você é exatamente o que eu preciso — Gabriel respondeu, direto, sem hesitar.
Anne sentiu um frio na espinha, mas não cedeu. Mantinha os olhos fixos nos dele, sem querer desviar. Ele queria jogar? Ela jogaria também.
— Não sei se você aguenta o tranco — provocou, inclinando-se um pouco também, até que ambos estivessem a centímetros de distância.
— Acho que quem tá subestimando alguém aqui é você — ele devolveu no mesmo tom, a proximidade deixando o ar carregado de tensão.
Um silêncio pesado se instalou entre os dois, enquanto Anne tentava processar o que estava acontecendo. Era como se estivessem numa corda bamba, ambos tentando manter o equilíbrio, mas sabendo que, a qualquer momento, um deles iria cair.
Ela se recostou na cadeira, cruzando os braços, como se estivesse declarando vitória.
— Certo, Guevara. Você quer uma chance de me mostrar que eu tô errada? Mostra. Mas se eu perceber que você tá jogando comigo, eu tô fora. Não vou perder meu tempo com babacas que acham que podem me enganar.
Gabriel sorriu de novo, aquele sorriso perigoso que a irritava profundamente.
— Eu nunca disse que ia ser fácil. Mas, se você gosta de jogo, eu posso jogar.
Anne se inclinou para frente mais uma vez, sorrindo provocativa.
— Só não se esquece que eu sou melhor nisso do que você pensa. Você acha que tem tudo sob controle, mas uma hora vai perceber que mordeu mais do que pode mastigar.
Ele riu baixo, tomando um gole de seu capuccino antes de responder.
— Mal posso esperar pra ver.
Ela revirou os olhos e pegou o celular, fingindo desinteresse.
— Ok, então. Tô esperando esse seu grande movimento. Só não me faça perder meu tempo.
— Não se preocupa, Anne. Eu nunca faço ninguém perder tempo comigo — Gabriel disse com confiança, levantando-se da mesa.
Ela o observou sair, o sorriso ainda brincando nos lábios. Ele estava jogando pesado, mas ela não ia deixar barato. Não importava o quão atraente ele fosse, não ia cair no charme fácil. Isso não era um romance bobo de filme, e Anne sabia que qualquer vacilo poderia custar caro.
Ela olhou o relógio. Ainda eram 18h30, e o café estava vazio, exceto por ela e seus pensamentos. Por mais que odiasse admitir, Gabriel mexia com ela de um jeito que ninguém mais conseguia. E isso era perigoso.
Mas, se ele queria briga, Anne estava mais do que pronta para dar a ele o que ele merecia.
Ela sorriu sozinha, sabendo que, no fim, essa disputa ainda estava só começando.
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Sin límites - Gabriel Guevara
Fanfiction•Enemies to Lover • Tattoo • Espanha • Brigas • Palavrões • Drogas Lícitas e Ilícitas se isso te interessa, então veio para a fanfic certa