Era uma noite fria de novembro quando Hande foi acordada pelo choro desesperado de Helena, a filha de dois anos que ela e S/N tinham herdado juntas durante o auge do casamento. A relação delas já não era a mesma há meses, . A separação fora dolorosa, marcada por silêncios e mágoas que nenhuma das duas poderia resolver. Agora, estavam vivendo vidas separadas, mas compartilhando a guarda de Helena.
Hande se falou apressada e correu até o quarto da filha. A menina estava vermelha, suando, e chorava de forma incessante. Hande tentou acalmá-la, mas descobriu que a situação era mais séria. Sentiu-se impotente, perdida, sem saber o que fazer. Apesar de sua teimosia em querer mostrar que consegue lidar com tudo sozinha, o instinto de proteção falou mais alto. Ela pegou o celular e, hesitante, ligou para S/N
— Hande? O que aconteceu? — atendeu rapidamente, a voz ainda rouca pelo sono.
Do outro lado da linha, a voz de Hande tremia.
— S/N, eu... eu não sei o que fazer. Helena está muito mal. Ela está ardendo em febre, chorando sem parar... eu tentei dar remédio, mas ela não melhorou! — Hande soava desesperada, um tom que S/N não ouvia desde o fim da relação entre elas.
S/N não hesitou.
— Estou indo para aí agora. Se a febre subir mais, me avise. Vou dirigir o mais rápido que puder.Dez minutos depois, S/N estacionava em frente ao prédio de Hande, ainda usando as roupas que havia pego às pressas. Hande estava na porta, segurando Helena, que choramingava baixinho, os olhos entreabertos e o rostinho avermelhado.
— Ela está tão quente... e eu não sabia o que mais fazer — murmurou Hande, entregando a filha para S/N, as lágrimas nos olhos deixando claro o quanto estava assustada.
— Tudo bem, Hande. Vamos levá-la ao hospital. Vai ficar tudo bem — disse S/N, tentando passar confiança.
Elas entraram no carro de S/N, e o trajeto até o hospital foi feito em silêncio, interrompido apenas pelos suspiros abafados de Helena. Durante o caminho, Hande olhou pela janela, as mãos trêmulas e o rosto marcado pela preocupação.
Ao chegar ao hospital, a emergência pediátrica foi relativamente tranquila. Após um atendimento rápido, os médicos informaram que Helena estava com uma virose comum, mas que a febre alta continha cuidados específicos. Receitaram antitérmicos e orientaram descanso e hidratação.
Enquanto o médico explicava os cuidados, S/N segurava a mão de Hande. Apesar das mágoas, o vínculo que elas tinham compartilhado como mães nunca desapareceria. A força que Hande costumava demonstrar parecia ter desaparecido naquele momento, e S/N substituiu o controle, cuidando tanto de Helena quanto de Hande.
De volta ao carro, enquanto dirigiam de volta ao apartamento de Hande, o silêncio entre elas era pesado. Finalmente, Hande murmurou
— Obrigada, S/N. Eu não sei o que teria feito sem você esta noite.S/N lançou-lhe um breve olhar antes de responder:
— Você faria o que fosse preciso. É isso que as mães fazem. Mas fico feliz que tenha me chamado. Nós duas somos importantes para Helena.Chegando ao apartamento, S/N ajudou Hande a colocar Helena na cama. A pequena já estava mais tranquila, o rosto menos vermelho, respirando profundamente enquanto dormia. Depois de ajeitarem a cobertura sobre ela, as duas ficaram lado a lado, observando-a por alguns minutos.
Quando S/N se virou para sair, Hande segurou sua mão.
— Está tarde, e você deve estar exausta. Por que não fica aqui esta noite? Não quero ficar sozinha... e, bom, se algo acontecer com Helena, você já estará aqui.S/N hesitou, mas ao ver a vulnerabilidade nos olhos de Hande, ela assentiu.
— Tudo bem, mas só porque está tarde e quero ter certeza de que Helena está bem.
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