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Raphael Cavalcante Veiga
Apartamento do Gabriel

Observo a silhueta baixa e bem desenhada de Carolina enquanto ela faz um macarrão com carne e molho branco. Sei que ela está concentrada pela forma com que coloca o pé apoiado na outra panturrilha e não para de encarar a panela a sua frente.

O cabelo está preso em um coque bagunçado e seus fios ondulados até caem um pouco, o que passa uma vibe de... naturalidade. Pra mim, é a beleza mais bonita que já pude presenciar, sem nenhum esforço.

– Raphael, você quer beber alguma coisa? Uma coca-cola? Um suco? - Pergunta casualmente enquanto abaixa o fogo do fogão e caminha até mim. - se sim, me avisa, vou descer e comprar.

– Carol, eu pensei em tomarmos algo mais...

– Adulto? - Ela brinca e me dá aquele risinho fraco. - um vinho? Uma cerveja? Porém tem que ser pouco, afinal, se o Leo passar mal temos que estar bem.

– Um vinho seria ótimo e nem precisa comprar, porque aqui tem - Falo simples e caminho até a porta "secreta" da cozinha do meu irmão, que tem basicamente um barzinho escondido. Isso poderia ser facilmente a lavanderia, porém, eles pagam a do prédio e isso se tornou um boteco pessoal da família. - pode escolher, tem muitos.

Carolina me encara quase que desconfiada, mas se aproxima em passos rápidos e curiosos. Ela para ao meu lado na porta e encara a quantidade de bebidas.

– Uau - Fala surpresa e dá uma gargalhada engraçada. - Aquele lá parece ótimo.

Ela adentra o cômodo e pega a garrafa de um vinho português. Meu irmão trouxe de uma viagem nossa.

– Perfeito - Confirmo e pego de sua mão. - vou por pra gelar, acha que dá tempo?

– Acho que sim, acabei de começar a janta - Fala simples e caminha até a saída da cozinha. - vou me sentar no sofá. Fica de olho.

– Já vai me abandonar? - Pergunto com um falso drama. - aí é sacanagem, hein? Vive cansada e olha que é nova.

– Ah, Veiga, cê' tá bem enganado - Carol se escora no marco da saída e me encara. - eu já tô velha... vinte e oito aninhos! Se esqueceu?

Sorrio no automático. Parece que foi ontem que essa garota tinha dezoito anos. A lembrança faz meu peito acelerar.

– Isso não é ser velha, tá? Assim você tá me ofendendo, porque eu tenho trinta e oito! - Exclamo enquanto olho a panela no fogo. - mas brincadeiras à parte... pode ir descansar, já eu apareço.

– Ok, eu te espero. Quer ver algo?

A pergunta me pega de surpresa. Tudo bem a gente jantar, até porque se alimentar é necessário e ambos estamos aqui pra cuidar do Leonardo. Mas... assistir um filme? Não esperava ouvir esse convite dela.

– Claro, pode ficar a vontade pra escolher - Balanço os ombros e disfarço os pensamentos intrusos.

Carolina apenas assente e vai para a sala. Eu sigo observando o nada e pensando em muita coisa. Sabe, tenho refletido bastante que estou no fim da carreira. É triste, saca? Além de ser incrível, porque deixei o meu legado no futebol, é muito deprimente dizer adeus. Sair do campo de futebol e nunca mais voltar... caramba, eu nunca tinha pensado dessa forma, sinceramente.

Uma linda mulher - Raphael Veiga.Onde histórias criam vida. Descubra agora