• Aposta perdida

1 0 0
                                    

Anne sentiu o estômago revirar enquanto observava Gabriel pegar os tacos de sinuca e ajeitar a mesa para a próxima partida. Ele jogava com uma facilidade irritante, como se tudo fosse um grande passeio no parque. E isso a incomodava. Muito.

Ela queria desafiá-lo, ver até onde ele iria, mas, ao mesmo tempo, não podia ignorar o quanto ele mexia com ela. A tensão entre eles estava cada vez mais sufocante, e cada olhar, cada provocação fazia seu corpo reagir de um jeito que ela não queria admitir.

Quando ele terminou de ajeitar a mesa, Gabriel se virou com aquele sorriso presunçoso de sempre, os olhos brilhando de satisfação.

— Pronta para perder de novo, Ferreira? — Ele provocou, entregando o taco a ela.

Anne pegou o taco, tentando esconder o sorriso. Ele queria brincar? Tudo bem. Ela sabia como jogar também.

— Perder? — Anne deu um passo mais perto, mantendo o olhar fixo nos olhos dele. — Eu estava só aquecendo, Guevara. Agora é pra valer.

Gabriel deu uma risadinha, cruzando os braços, como se estivesse esperando algo grandioso.

— Adoro quando você fica assim... competitiva. Vamos ver se é boa com ações também, ou só com palavras. — Ele piscou de leve, e Anne sentiu o calor subir por seu rosto, mas manteve a compostura.

Ela inclinou-se sobre a mesa de sinuca, calculando a tacada com cuidado. **Essa era sua chance de virar o jogo.** O som da bola sendo atingida ecoou pela sala, e Anne observou com satisfação a bola caindo na caçapa. Ela sorriu de canto, satisfeita com o próprio desempenho.

— Acho que você subestimou a pessoa errada, Gabriel. — Ela disse, se endireitando e olhando diretamente para ele.

Gabriel inclinou a cabeça para o lado, analisando-a com um olhar predatório, como se estivesse prestes a lançar a próxima jogada no jogo psicológico que eles estavam jogando.

— Talvez eu tenha subestimado. — Ele respondeu, com um sorriso torto. — Mas vou admitir, é divertido ver você tentando me surpreender.

Anne riu com sarcasmo, decidida a não deixar que ele tomasse o controle.

— E é divertido ver você tentando se segurar, Guevara. — Ela respondeu, se aproximando mais do que o necessário enquanto passava por ele, os ombros roçando de leve. — Será que você consegue manter a postura até o final da noite?

Ela percebeu o sorriso de Gabriel vacilar por uma fração de segundo. Um ponto para ela.

Gabriel se virou lentamente, e a proximidade entre os dois aumentou, criando uma tensão elétrica no ar. Ele estava tão perto que Anne podia sentir a respiração dele, e o jeito como ele a olhava fazia seu corpo inteiro formigar.

— Você não faz ideia do quanto eu estou me segurando, Anne. — Ele sussurrou, com a voz rouca e carregada de intenções. — A questão é: será que **você** consegue se segurar?

Anne sentiu o calor subir por seu corpo, e, por um segundo, achou que iria ceder. Ceder a quê? A algo que nem ela conseguia definir, mas que estava lá, pulsando entre eles. Era o desejo de continuar esse jogo, de ver quem cairia primeiro. Mas, ao mesmo tempo, havia algo mais profundo, algo que a assustava.

Ela se afastou de leve, rindo para quebrar a tensão.

— Eu tenho autocontrole, Gabriel. Diferente de você, pelo visto. — Ela respondeu com um tom brincalhão, mas por dentro estava lutando para manter a calma.

Gabriel riu baixinho, ajeitando o taco de sinuca entre as mãos.

— É bom saber que você acha que tem o controle. — Ele disse, os olhos brilhando com malícia. — Porque no final das contas, alguém sempre perde o controle... e eu estou apostando que vai ser você.

Anne estreitou os olhos, sentindo o desafio implícito nas palavras dele.

— Aposta perdida. — Ela disse, determinada. **Ela não iria ceder tão fácil.**

Eles continuaram jogando, mas as provocações e farpas só aumentavam. Cada tacada errada de Anne era seguida de um comentário sarcástico de Gabriel, e cada tacada bem-sucedida dela vinha com uma resposta afiada. Mas o que começou como um simples jogo de sinuca agora se transformava em algo muito maior. O ar ao redor deles estava carregado de tensão, e cada movimento parecia trazer os dois mais perto de um ponto de ruptura.

Quando a última bola finalmente caiu, Gabriel se aproximou de Anne mais uma vez, de forma quase imperceptível, mas cada vez mais próxima, como se estivesse testando os limites. O sorriso dele não vacilava, mas o olhar entregava o que ele realmente estava pensando.

— Parabéns, Anne. Você até que joga bem. — Ele disse, inclinando-se perto o suficiente para que ela sentisse o calor da presença dele. — Mas eu acho que você ainda tem muito o que aprender.

Ela respirou fundo, mantendo a postura firme.

— Eu poderia dizer o mesmo de você, Gabriel. — Anne respondeu, o tom desafiador, mas a voz ligeiramente trêmula. — Talvez você devesse repensar suas táticas. Parece que está perdendo o controle.

Ele deu uma risadinha baixa, o olhar fixo nos olhos dela.

— Perder o controle nunca foi um problema pra mim, Anne. Às vezes, é exatamente isso que eu quero.

Anne sentiu um arrepio percorrer seu corpo, mas antes que pudesse reagir, o celular dele vibrou no bolso. Gabriel deu um passo para trás, tirando o telefone e verificando a mensagem. O momento de tensão foi quebrado, e Anne aproveitou para respirar.

— Acho que nosso jogo acabou por hoje. — Gabriel disse, olhando para a tela do celular e depois de volta para ela, como se estivesse considerando algo. — Mas não se preocupe. Isso aqui está longe de terminar.

Ele deu um último sorriso, daquele tipo que a deixava com o coração disparado e os pensamentos emaranhados, e então começou a se afastar em direção à porta.

Anne ficou parada por um momento, observando-o sair do bar, sem conseguir decidir se estava aliviada ou frustrada. Talvez fosse os dois.

Sin límites - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora