Noiva de Sangue

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A guerra havia terminado, mas com ela tudo que conhecíamos também fora arrancado de nós. Nossa família, antes honrada, agora era vista como uma desgraça aos olhos do imperador, uma vergonha que o povo da vila não quis carregar. Todos nos viraram as costas, e fomos forçados a buscar refúgio em terras distantes. Cada passo da jornada parecia pesar mais que o anterior, como se o próprio mundo nos lembrasse, implacável, de tudo que havíamos perdido.

Meu pai, Fa Zhou, estava fraco. Suas pernas mal suportavam o peso do corpo, e seu rosto mostrava a dor que ele tentava esconder. Mas eu via, sentia o peso invisível que o dobrava.

Numa noite especialmente fria, sob um céu escuro e vazio, chegamos a uma vila esquecida, escondida entre montanhas sombrias e uma floresta espessa. O lugar estava envolto em uma névoa densa e viva, que se movia quase como uma criatura silenciosa, sufocando o ar ao nosso redor e engolindo até o som de nossos passos.

De repente, meu pai parou, o fôlego entrecortado. Ele se deixou cair no chão, disfarçando um gemido.

— Pai... — murmurei, ajoelhando-me ao lado dele. — Está bem?

Ele assentiu, mas sua expressão dizia o contrário. Sua voz saiu baixa, quase um sussurro.

— Estou bem, Mulan. Mas leve Khan até o rio... — Ele fez uma pausa, buscando ar. — Vi um rio perto daqui. Leve-o para beber água.

Olhei ao redor, hesitante. A névoa parecia apertar o ar à nossa volta, e um calafrio percorreu minha espinha. Mas Khan precisava de água, e eu sabia disso. Assenti, relutante.

— Voltarei logo.

Guiando Khan pelo som distante de água corrente, caminhei através da névoa densa. Logo, o rio surgiu à minha frente, suas águas escuras refletindo o brilho pálido da noite. Khan abaixou a cabeça para beber, e me ajoelhei ao lado dele, enfiando a mão na água gelada. O frio subiu pelo meu braço, e provei um pouco da água para sentir sua pureza. Tinha um gosto estranho... metálico. Me detive, inquieta, e olhei para o rio. A névoa ao redor distorcia meu reflexo na superfície, e então percebi algo que me fez congelar.

Atrás de mim, havia outro rosto, um rosto que não era o meu.

Girei, meu coração disparado, e encontrei um homem parado ali, observando-me em silêncio. Ele era alto, com uma pele pálida, quase translúcida, que contrastava com a escuridão ao redor. Seus olhos, de um azul profundo e enigmático, estavam fixos em mim, e senti como se pudessem enxergar dentro da minha alma.

Nunca havia visto alguém como ele.

Suas roupas eram feitas de um tecido que refletia um brilho sutil à luz, com detalhes que indicavam nobreza. Havia um ar misterioso nele, uma calma quase imperturbável. Ele inclinou a cabeça ligeiramente, e um sorriso calculado surgiu em seus lábios.

— Cuidado para não cair no rio, senhorita — disse ele, a voz suave, mas com um tom firme, como se desse ordens há muito tempo.

Meu rosto esquentou. Sem saber o que dizer, fiz uma reverência, tentando esconder o nervosismo.

— Peço desculpas, senhor — murmurei, esforçando-me para manter a voz estável. — Não quis incomodá-lo.

Quando comecei a me afastar, ele falou novamente, com uma firmeza que me fez parar.

— Espere.

Havia algo naquela palavra, naquela voz, que me fez congelar. Levantei o olhar e, por um segundo, meus olhos encontraram os dele, que pareciam estudar cada detalhe meu. Ele fez um gesto com a cabeça, as sobrancelhas ligeiramente erguidas.

— Vai deixar seu cavalo?

Senti o calor aumentar no rosto. Caminhei rapidamente até Khan e segurei suas rédeas, tentando esconder meu embaraço.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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