Sin límites - Gabriel Guevara

• Porra, Anne!

Anne não conseguia tirar Gabriel da cabeça. O que ele havia dito? *"Aquele beijo não pode ser só um sonho."* As palavras ecoavam em sua mente como um mantra perturbador. E agora, com a mensagem dele ainda aberta na tela do celular, a sensação de que algo estava prestes a acontecer se intensificava a cada segundo.

Ela estava sozinha no estúdio, mas o lugar não parecia vazio. Sua mente estava um turbilhão de pensamentos confusos, misturados com um desejo incontrolável de descobrir o que Gabriel queria, mas ao mesmo tempo, uma vontade feroz de se afastar dele. Como ela sempre fez.

*Porra, Anne! O que está acontecendo?* Ela pensou, tentando se concentrar no trabalho, mas seus dedos tremiam enquanto limpava as agulhas e preparava a próxima máquina de tatuagem. O cheiro de tinta, o som da música no fundo, tudo parecia tão distante agora. Gabriel estava consumindo todos os seus pensamentos.

Ela olhou novamente para o celular, hesitando, mas decidiu responder. Não sabia o que estava acontecendo com ela, mas a curiosidade e a confusão estavam dominando sua razão.

*"O que você quer dizer com isso?"* Ela digitou, com as mãos trêmulas.

A resposta não demorou. Ela sentiu o corpo tensionar quando viu as palavras na tela:

*"Eu não sei mais o que estou fazendo, Anne. Só sei que eu não posso ignorar o que aconteceu entre a gente. Aquele beijo... foi diferente."*

Anne não conseguiu impedir o sorriso involuntário, embora o peito estivesse apertado. **Diferente**. Era isso que ela estava sentindo também. O que diabos eles estavam fazendo? Se envolvendo nessa teia de sentimentos complicados e contraditórios? Ele estava tentando seduzi-la? Ou estava realmente sendo sincero? Ela ainda não sabia.

O celular vibrou novamente, interrompendo seus pensamentos.

*"Eu preciso te ver. Só para... conversar. Não vai ser como da última vez. Eu prometo."*

Anne bufou, fechando os olhos por um segundo. Promessas. As palavras dele soavam tão seguras, mas ela sabia o quanto Gabriel gostava de brincar com elas, de brincar com as pessoas. Mas, e se ele estivesse falando a verdade? E se essa sensação de algo mais, algo além do jogo, fosse real?

Ela pensou em sua última interação com ele, quando estavam tão perto, tão intensos, e o beijo parecia ter acendido algo dentro dela. Ela nunca pensou que fosse cair na armadilha de um homem como Gabriel, mas ali estava ela, prestes a se envolver mais fundo do que nunca.

*Porra, por que você está pensando tanto? Vai lá e seja direta!*

Ela se levantou e pegou a bolsa, decidida a dar um basta naquela dúvida que estava consumindo sua mente. Precisava ver Gabriel, saber o que ele queria, porque continuar se escondendo da situação não iria resolver nada.

Quando chegou ao local combinado, um bar mais afastado da cidade, viu Gabriel imediatamente. Ele estava sentado em uma mesa afastada, mexendo no celular, mas quando ela entrou, seus olhos se fixaram nela como se não fosse mais capaz de pensar em mais nada.

Anne se aproximou sem hesitar, sentando-se na cadeira à sua frente, o coração batendo mais forte. O cheiro de Gabriel invadiu suas narinas — algo entre o perfume dele e o ar fresco da noite.

Gabriel olhou para ela, e, por um instante, parecia que o tempo havia parado. O sorriso torto que ele costumava exibir agora estava ausente. Havia algo mais sério, mais pesado na expressão dele. Ele não parecia mais tão confiante.

— Então, você veio. — Ele disse, com a voz rouca, o tom desconcertado.

Anne arqueou uma sobrancelha, tentando manter a pose, mas a tensão era palpável.

— O que você quer, Gabriel? — Ela perguntou, sem rodeios, tentando não demonstrar o quanto sua presença ainda a afetava.

Ele suspirou, olhando para a mesa antes de voltar o olhar para ela.

— Eu... eu não sei o que está acontecendo, Anne. Mas você me fez ver algo que eu não estava percebendo. E eu não consigo mais ignorar isso. — Ele fez uma pausa, parecendo pesar suas palavras, como se estivesse tentando ser mais honesto do que de costume. — Eu sei que joguei com você, que fiz tudo parecer fácil, mas... eu não quero que seja só isso.

Anne sentiu o estômago revirar. Isso não era o que ela esperava. Ele estava sendo... genuíno? Ela nunca imaginou que fosse ouvir algo assim de Gabriel.

— Então, o que você quer agora, Gabriel? Você quer que eu acredite em você? — Ela perguntou, a voz carregada de desconfiança.

Gabriel não respondeu de imediato. Ele olhou para o copo, como se estivesse procurando uma resposta ali. Quando finalmente falou, a suavidade em sua voz a pegou de surpresa.

— Eu só quero ser sincero com você. Eu... não posso continuar mentindo, Anne. Aquele beijo, o jeito como você me fez sentir, não foi só mais um joguinho. Eu sei que te causei confusão, mas o que eu senti foi real.

Anne estava em choque. Ele estava sendo honesto? Ela queria acreditar, mas sabia que ainda havia uma parte de Gabriel que gostava de manter o controle, que adorava jogar com os sentimentos das pessoas. E ela não queria ser mais uma peça no seu jogo.

Mas, ao mesmo tempo, ela não conseguia negar o que sentia. **Ele também a afetou.**

Ela respirou fundo, tentando organizar os pensamentos antes de falar.

— Então, o que você espera de mim? Que eu esqueça tudo o que aconteceu? Que eu ignore o que está rolando entre nós?

Gabriel inclinou a cabeça para o lado, os olhos fixos nos dela, como se estivesse tentando absorver as palavras dela.

— Não. Eu não espero que você ignore. Eu só quero saber se você sente o mesmo que eu, ou se tudo isso foi só uma fantasia. Porque, se for, tudo bem. Eu vou entender.

Anne olhou para ele por um momento, analisando suas palavras, buscando alguma falha, algum sinal de que ele estava mentindo. Mas o que ela encontrou foi um Gabriel diferente, mais vulnerável, mais real. Ele estava ali, pedindo uma chance, pedindo a verdade. A verdade dele, a verdade dela.

A tensão entre eles era palpável, mas, pela primeira vez, não era apenas desejo ou jogo. Era algo mais profundo, mais... perigoso.

Anne não sabia o que fazer com isso. Mas o que ela sabia era que, naquele momento, o jogo tinha se transformado em algo que ela não podia mais controlar.

Ela sorriu levemente, quase desafiadora.

— Então, vamos ver onde isso vai dar, Gabriel. Porque eu não vou facilitar as coisas para você. Mas uma coisa é certa: você não vai conseguir me ignorar. Não depois do que aconteceu entre a gente.

Gabriel a observou por um momento, como se estivesse ponderando suas palavras. Então, com aquele sorriso torto, quase imperceptível, ele disse:

— Eu nunca disse que queria te ignorar. E você sabe disso, Anne. Só não sei até onde podemos ir com isso.

Anne levantou-se da mesa, deixando o ar pesado de tensão entre eles. Mas ela sabia que, a partir daquele momento, não teria mais volta.