• Mensagem

2 0 0
                                    

O vento frio da noite batia com força no rosto de Anne enquanto ela encostava na parede, tentando se manter firme. A sensação de estar flutuando, que antes parecia uma fuga, agora a puxava para um lugar confuso e desconfortável. **Por mais que ela tivesse se perdido nas doses de tequila e tragadas de maconha, não conseguia escapar do que realmente estava corroendo por dentro.** Gabriel.

Clara, já cambaleando ao lado dela, ainda estava rindo de algo que Anne nem conseguia processar. Ela olhou para a amiga, que a observava agora com um olhar mais sóbrio, como se finalmente percebesse que Anne não estava bem.

— Anne, você tá muito estranha. O que tá pegando de verdade? — Clara perguntou, se aproximando.

Anne apertou os olhos, sentindo a mente rodar. Tudo o que tinha acontecido nas últimas semanas a atingia com força, mas era Gabriel o centro de tudo. Cada encontro, cada palavra trocada, cada provocação. **Ele tinha virado uma tempestade constante na cabeça dela, e ela não sabia como acalmar isso.**

— Eu tô perdida, Clara... — Anne soltou, a voz trêmula.

Clara se aproximou mais, apoiando-se na parede ao lado de Anne.

— Perdida por causa do Gabriel? — Clara perguntou, como se fosse óbvio.

Anne soltou um riso amargo, sentindo o gosto amargo do álcool misturado à angústia.

— Ele... ele me fodeu, Clara. Mas não do jeito bom — Anne disse, balançando a cabeça. — Eu não consigo mais parar de pensar nele. E isso me deixa com raiva. *Porra*, ele mexeu comigo de um jeito que eu nunca deixei ninguém fazer.

Clara piscou, surpresa. Anne raramente era tão aberta sobre suas emoções. **Ela sempre foi forte, sempre soube colocar limites, especialmente com caras como Gabriel.** Mas algo havia mudado.

— E por que isso te deixa tão puta? — Clara perguntou, como se tentasse entender a complexidade do que Anne estava sentindo.

Anne deu de ombros, tentando encontrar palavras para explicar o que nem ela mesma compreendia.

— Porque ele me faz sentir vulnerável, e eu odeio isso. Ele joga comigo, me provoca, mas... ao mesmo tempo, eu não consigo evitar. — Ela respirou fundo, sentindo o peso das palavras. — E agora, depois de tudo, eu tô aqui, tentando fugir dele, e só acabei me fodendo mais.

Clara, sempre a conselheira despreocupada, deu uma tragada no cigarro e soltou a fumaça devagar, olhando para Anne com uma mistura de compaixão e curiosidade.

— Amiga, você sempre foi durona, sabe se defender. Talvez seja hora de admitir que tá gostando desse jogo, mesmo que seja uma merda.

Anne a olhou, surpresa. Gostando? Isso era loucura. **Como ela poderia gostar de algo que a deixava tão frustrada, tão fora de controle?** Mas, no fundo, ela sabia que Clara tinha razão. Parte dela estava atraída pela intensidade daquilo. Pela forma como Gabriel conseguia tirá-la da sua zona de conforto, fazer seu coração disparar — fosse por raiva ou por desejo.

Clara jogou o cigarro no chão, esmagando-o com o salto.

— Vamos sair daqui, tá? — Clara disse, puxando o celular para chamar um táxi. — Não tem mais nada pra resolver hoje. Amanhã a gente tenta entender essa bagunça.

Anne assentiu, ainda perdida em seus pensamentos. **Por que Gabriel mexia tanto com ela?** Era como se ele fosse um espelho para seus próprios medos, suas próprias inseguranças. E isso a deixava maluca.

O táxi chegou rapidamente, e as duas entraram, Clara ainda tagarelando sobre qualquer coisa para preencher o silêncio, mas Anne estava distante, olhando pela janela enquanto as luzes da cidade passavam rápidas.

Ela fechou os olhos, tentando lembrar exatamente como tinha chegado àquele ponto. As farpas, os olhares desafiadores, os encontros cheios de tensão. **Gabriel estava em todo lugar.** Ele havia se enraizado na cabeça dela de um jeito que nenhum outro homem tinha conseguido. Talvez fosse o jeito despretensioso, ou aquela maldita confiança arrogante que ele exibia sempre. **Ou talvez fosse porque, de algum modo, Gabriel havia enxergado nela algo que ninguém mais havia visto.**

O táxi parou em frente ao prédio de Anne, e Clara deu um leve empurrão na amiga, tirando-a do transe.

— Tá viva aí? — Clara perguntou, brincalhona, mas com um toque de preocupação.

Anne piscou, voltando à realidade.

— Tô, só... só tentando colocar os pensamentos no lugar.

As duas saíram do táxi e subiram juntas até o apartamento de Anne. Lá dentro, Clara foi direto para o sofá, jogando-se de qualquer jeito, exausta da noite, enquanto Anne caminhava até a varanda, ainda com a cabeça cheia.

Ela precisava de ar. Precisava de qualquer coisa que a fizesse entender o que estava acontecendo. Pegou o cigarro que tinha guardado no bolso e acendeu, sentindo a fumaça invadir seus pulmões. **O problema não era só Gabriel, ela sabia disso.** O problema era a forma como ela se sentia ao redor dele — como se estivesse sempre a um passo de perder o controle.

E então, antes que percebesse, pegou o celular. As mãos trêmulas, a mente ainda embotada pelo álcool e pela maconha, mas o desejo de entender o que diabos estava acontecendo era mais forte. Ela abriu o Instagram, passando rápido pelas notificações, até que chegou na mensagem dele. **Gabriel.**

Ali, o nome dele parecia brilhar na tela, como um lembrete de que ele estava sempre ali, nas entrelinhas dos pensamentos dela, nas noites insones.

"Eu tô confusa pra caralho, e isso é culpa sua."

Ela digitou rápido e enviou a mensagem antes que pudesse mudar de ideia. Agora era tarde demais para voltar atrás. **As palavras estavam ditas, e ela sabia que ele responderia. Gabriel não deixaria essa provocação passar.**

O que ela não sabia era como seria quando ele respondesse.

Sin límites - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora