Era sexta-feira, e já fazia cerca de quatro semanas desde a viagem. Mas, com os showzinhos que começaram a acontecer por conta da Karla, parecia que tinham se passado meses. Eu e Madu estávamos afastadas. Os meninos ainda interagiam comigo, mas o clima estava estranho. Para evitar pensar demais no assunto, me afoguei em trabalho, transformando o estúdio no meu único foco.
Quando chegou a noite, finalizei tudo e me preparei para ir embora. Ao sair pela parte externa da gravadora, a brisa noturna bateu no meu rosto, mas não foi só isso que chamou minha atenção. Lá estava Ghard, encostado na moto, com um cigarro — ou algo do tipo — entre os dedos.
— Por que você tá sempre fumando, chaminé ambulante? — perguntei, cruzando os braços.
Ele deu um sorriso lento, soltando a fumaça de lado.
— Quer?
— Nem louca. Eu não fumo.
Ele riu, jogando a cabeça para trás, antes de dar mais uma tragada. Depois, apagou o cigarro e se aproximou de mim, com aquele ar despreocupado que parecia fazer parte da sua essência.
— Quase não me dá atenção mais. Me superou depois da viagem, foi? — Ele falou em um tom brincalhão, mas seus olhos carregavam um brilho de curiosidade genuína.
Suspirei, passando a mão pelos cabelos, exausta.
— Não é isso. Só que... as coisas têm estado tão estranhas desde a viagem. Parece que tudo tá de cabeça pra baixo, e minha cabeça foi junto.
Ele ficou sério, percebendo meu abatimento.
— Fala comigo. O que tá pegando?
Demorei um pouco antes de responder, mas quando comecei, as palavras simplesmente saíram.
— Eu odeio o que tá acontecendo, Ghard. Eu sinto que ninguém acredita em mim. Acho que a Karla tá armando tudo isso, e é como se... eu não tivesse controle de nada.
Ele ficou em silêncio por um instante, apenas me olhando, antes de dar um passo mais perto.
— Eu te entendo, Júlia. E faria qualquer coisa pra te ver bem.
Aquela frase foi dita com tanta sinceridade que meu peito apertou. Antes que pudesse responder, chequei o horário no celular e percebi que precisava ir.
— Eu tenho que ir embora. Tá tarde.
— Eu te levo.
— Não precisa, eu posso chamar um carro...
— Não tô perguntando, tô dizendo. — Ele sorriu, subindo na moto e me entregando o capacete.
Durante o caminho, percebi que ele ainda dirigia igual um doido, mas, ao mesmo tempo, era cuidadoso o suficiente para não me colocar em perigo. A mistura de adrenalina e segurança era tão única quanto ele.
Quando chegamos em casa, desci da moto e me virei para ele, ainda com o capacete nas mãos.
— Você dirige como se a vida fosse um jogo de corrida.
— E você grita como se estivesse num parque de diversões. — Ele sorriu, desarmando minha expressão séria.
Ele ficou ali, parado, me observando por um momento.
— Você tá bem? Quer dizer, realmente bem?
Suspirei, hesitante, e depois fiz algo impulsivo: o convidei para ficar.
— Quer entrar? Fazer algo... diferente?
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Tipo o quê?
— Não sei. Uma noite das garotas? Brigadeiro, filmes, talvez até skin care.
— Skin care? — Ele riu. — Eu sou bandido filhota, faço essas fita não ....Tá, você conseguiu me convencer com o brigadeiro.
Na cozinha
Enquanto o chocolate derretia na panela, Ghard mexia a mistura com uma colher de pau, concentrado, mas claramente se divertindo.— Isso tá certo? — ele perguntou, com o cenho franzido enquanto olhava para a panela.
— Sim, só continua mexendo. Mas não come antes de estar pronto! — adverti, segurando a risada ao vê-lo quase roubar uma colherada.
— Não prometo nada. — Ele deu um sorriso malicioso antes de finalmente me obedecer.
Depois que o brigadeiro ficou pronto, comecei a gravar alguns stories e vídeos para o TikToke Ghard logo fugiu da câmera.
—Bandido n gosta de close não.—Ele tampou o rosto rindo mas em pouco tempo cedeu com um entusiasmo inesperado.
— Beleza, agora faz uma pose com a colher, tipo 'chef master'. — Eu ri, segurando o celular enquanto ele fingia ser um chef profissional.
— Isso tá mais pra "Ghard destruidor de panelas"! — Ele fez uma careta dramática, arrancando uma gargalhada minha.
Editamos rapidamente um vídeo mostrando a "nossa noite das garotas", desde o brigadeiro até ele com máscara facial e nós dois assistindo filmes. Postei no TikTok sem pensar muito, e em minutos os comentários começaram a aparecer.
— Caramba, olha isso! — mostrei o celular pra ele.
Os comentários estavam cheios de mensagens como:
"Vocês dois são tão fofos juntos!"
"Casal perfeito, eu shippo demais Kamihard"
"Por favor, casem logo!"Havia até fãs marcando outros usuários e compartilhando o vídeo. E não parava por aí. Quando fui conferir as notificações no Instagram, vi que algumas pessoas já tinham criado fã-clubes para nós dois, postando edições com nossos momentos juntos desde a viagem.
— Tá vendo isso? — perguntei, um pouco chocada.
— Fã-clube? — Ele riu, aproximando-se para ver melhor. — E eu achando que era só um brigadeiro. Agora tô famoso.
— Você já era famoso, Ghard. Mas agora tem fãs me odiando também, olha. — Mostrei alguns comentários que criticavam minha interação com ele.
"Quem ela pensa que é? Tá usando o Ghard pra ficar famosa."
"Ela é só mais uma querendo chamar atenção pq o Gu tá em alta agora"Suspirei, sentindo um aperto no peito.
— Sempre tem os haters. Não deixa isso te abalar. — Ele me olhou de um jeito tranquilizador, pegando o celular da minha mão e colocando de lado. — Agora é hora de brigadeiro e filme. O resto fica pra depois.
Depois de gravar e comer quase metade do brigadeiro, nos deitamos no no sofá da sala, rodeados de almofadas e cobertores, vendo filmes enquanto terminávamos os potinhos. Entre risadas e comentários aleatórios, apliquei uma máscara facial nele, o que rendeu mais vídeos e piadas.
— Você tá parecendo o Hulk com isso. — Eu ria enquanto filmava ele olhando o celular para se ver.
— Hulk ou não, minha pele vai ficar melhor que a sua. — Ele piscou, arrancando mais risadas minhas.
Entre um filme e outro, conversamos sobre coisas aleatórias, a vida e até sobre os comentários. Em algum momento, o cansaço bateu, e acabamos adormecendo no sofá, cercados pelos travesseiros e com o celular ainda jogado ao lado, cheio de notificações que decidimos ignorar.
Naquele momento, esqueci de tudo o que estava me consumindo. Mesmo que fosse só por uma noite, eu me senti leve, adora estar com o meu garoto, por mais que ele não fosse mesmo tão meu.
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Ghard - Entrelinhas
RomanceOnde Júlia consegue um estágio na Supernova, mas um certo japa tatuado se torna seu maior desafio. "De canto, não quero destacar, ganho que cê já ficou na minha. Mas um moleque bom como eu, é muito bom de ler entrelinhas" Julia Kaminari era uma garo...