Capitulo 14- Bandido não gosta de close

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Era sexta-feira, e já fazia cerca de quatro semanas desde a viagem

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Era sexta-feira, e já fazia cerca de quatro semanas desde a viagem. Mas, com os showzinhos que começaram a acontecer por conta da Karla, parecia que tinham se passado meses. Eu e Madu estávamos afastadas. Os meninos ainda interagiam comigo, mas o clima estava estranho. Para evitar pensar demais no assunto, me afoguei em trabalho, transformando o estúdio no meu único foco.

Quando chegou a noite, finalizei tudo e me preparei para ir embora. Ao sair pela parte externa da gravadora, a brisa noturna bateu no meu rosto, mas não foi só isso que chamou minha atenção. Lá estava Ghard, encostado na moto, com um cigarro — ou algo do tipo — entre os dedos.

— Por que você tá sempre fumando, chaminé ambulante? — perguntei, cruzando os braços.

Ele deu um sorriso lento, soltando a fumaça de lado.

— Quer?

— Nem louca. Eu não fumo.

Ele riu, jogando a cabeça para trás, antes de dar mais uma tragada. Depois, apagou o cigarro e se aproximou de mim, com aquele ar despreocupado que parecia fazer parte da sua essência.

— Quase não me dá atenção mais. Me superou depois da viagem, foi? — Ele falou em um tom brincalhão, mas seus olhos carregavam um brilho de curiosidade genuína.

Suspirei, passando a mão pelos cabelos, exausta.

— Não é isso. Só que... as coisas têm estado tão estranhas desde a viagem. Parece que tudo tá de cabeça pra baixo, e minha cabeça foi junto.

Ele ficou sério, percebendo meu abatimento.

— Fala comigo. O que tá pegando?

Demorei um pouco antes de responder, mas quando comecei, as palavras simplesmente saíram.

— Eu odeio o que tá acontecendo, Ghard. Eu sinto que ninguém acredita em mim. Acho que a Karla tá armando tudo isso, e é como se... eu não tivesse controle de nada.

Ele ficou em silêncio por um instante, apenas me olhando, antes de dar um passo mais perto.

— Eu te entendo, Júlia. E faria qualquer coisa pra te ver bem.

Aquela frase foi dita com tanta sinceridade que meu peito apertou. Antes que pudesse responder, chequei o horário no celular e percebi que precisava ir.

— Eu tenho que ir embora. Tá tarde.

— Eu te levo.

— Não precisa, eu posso chamar um carro...

— Não tô perguntando, tô dizendo. — Ele sorriu, subindo na moto e me entregando o capacete.

Durante o caminho, percebi que ele ainda dirigia igual um doido, mas, ao mesmo tempo, era cuidadoso o suficiente para não me colocar em perigo. A mistura de adrenalina e segurança era tão única quanto ele.

Quando chegamos em casa, desci da moto e me virei para ele, ainda com o capacete nas mãos.

— Você dirige como se a vida fosse um jogo de corrida.

— E você grita como se estivesse num parque de diversões. — Ele sorriu, desarmando minha expressão séria.

Ele ficou ali, parado, me observando por um momento.

— Você tá bem? Quer dizer, realmente bem?

Suspirei, hesitante, e depois fiz algo impulsivo: o convidei para ficar.

— Quer entrar? Fazer algo... diferente?

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Tipo o quê?

— Não sei. Uma noite das garotas? Brigadeiro, filmes, talvez até skin care.

— Skin care? — Ele riu. — Eu sou bandido filhota, faço essas fita não ....Tá, você conseguiu me convencer com o brigadeiro.

Na cozinha
Enquanto o chocolate derretia na panela, Ghard mexia a mistura com uma colher de pau, concentrado, mas claramente se divertindo.

— Isso tá certo? — ele perguntou, com o cenho franzido enquanto olhava para a panela.

— Sim, só continua mexendo. Mas não come antes de estar pronto! — adverti, segurando a risada ao vê-lo quase roubar uma colherada.

— Não prometo nada. — Ele deu um sorriso malicioso antes de finalmente me obedecer.

Depois que o brigadeiro ficou pronto, comecei a gravar alguns stories e vídeos para o TikToke Ghard logo fugiu da câmera.

—Bandido n gosta de close não.—Ele tampou o rosto rindo mas em pouco tempo cedeu com um entusiasmo inesperado.

— Beleza, agora faz uma pose com a colher, tipo 'chef master'. — Eu ri, segurando o celular enquanto ele fingia ser um chef profissional.

— Isso tá mais pra "Ghard destruidor de panelas"! — Ele fez uma careta dramática, arrancando uma gargalhada minha.

Editamos rapidamente um vídeo mostrando a "nossa noite das garotas", desde o brigadeiro até ele com máscara facial e nós dois assistindo filmes. Postei no TikTok sem pensar muito, e em minutos os comentários começaram a aparecer.

— Caramba, olha isso! — mostrei o celular pra ele.

Os comentários estavam cheios de mensagens como:
"Vocês dois são tão fofos juntos!"
"Casal perfeito, eu shippo demais Kamihard"
"Por favor, casem logo!"

Havia até fãs marcando outros usuários e compartilhando o vídeo. E não parava por aí. Quando fui conferir as notificações no Instagram, vi que algumas pessoas já tinham criado fã-clubes para nós dois, postando edições com nossos momentos juntos desde a viagem.

— Tá vendo isso? — perguntei, um pouco chocada.

— Fã-clube? — Ele riu, aproximando-se para ver melhor. — E eu achando que era só um brigadeiro. Agora tô famoso.

— Você já era famoso, Ghard. Mas agora tem fãs me odiando também, olha. — Mostrei alguns comentários que criticavam minha interação com ele.

"Quem ela pensa que é? Tá usando o Ghard pra ficar famosa."
"Ela é só mais uma querendo chamar atenção pq o Gu tá em alta agora"

Suspirei, sentindo um aperto no peito.

— Sempre tem os haters. Não deixa isso te abalar. — Ele me olhou de um jeito tranquilizador, pegando o celular da minha mão e colocando de lado. — Agora é hora de brigadeiro e filme. O resto fica pra depois.

Depois de gravar e comer quase metade do brigadeiro, nos deitamos no no sofá da sala, rodeados de almofadas e cobertores, vendo filmes enquanto terminávamos os potinhos. Entre risadas e comentários aleatórios, apliquei uma máscara facial nele, o que rendeu mais vídeos e piadas.

— Você tá parecendo o Hulk com isso. — Eu ria enquanto filmava ele olhando o celular para se ver.

— Hulk ou não, minha pele vai ficar melhor que a sua. — Ele piscou, arrancando mais risadas minhas.

Entre um filme e outro, conversamos sobre coisas aleatórias, a vida e até sobre os comentários. Em algum momento, o cansaço bateu, e acabamos adormecendo no sofá, cercados pelos travesseiros e com o celular ainda jogado ao lado, cheio de notificações que decidimos ignorar.

Naquele momento, esqueci de tudo o que estava me consumindo. Mesmo que fosse só por uma noite, eu me senti leve, adora estar com o meu garoto, por mais que ele não fosse mesmo tão meu.

Ghard - Entrelinhas Onde histórias criam vida. Descubra agora