• Eu não estou jogando, Anne.

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Anne ficou na cadeira por alguns segundos após Gabriel sair do café, o coração ainda acelerado pela conversa que acabara de ter. Ela olhou para a caneca de café à sua frente, mas o gosto amargo não fazia sentido. Nada mais fazia sentido, na verdade. **O que diabos estava acontecendo com ela?**

Ela sempre se manteve firme, imune a qualquer tipo de charme ou joguinho. Mas, depois de tudo o que rolou, ela não conseguia negar a verdade: algo estava mudando entre ela e Gabriel. Era mais forte do que ela poderia controlar, e isso a incomodava de uma forma que ela não sabia lidar.

O que ele tinha dito? Que estava cansado de jogar? Que queria ser ele mesmo? Como alguém tão... complicado, tão cheio de camadas, tão **Gabriel**, podia mudar assim de repente? E por que diabos ela ainda estava pensando nisso?

**"Acho que ele está sendo sério dessa vez..."** pensou, mordendo o lábio inferior, sem saber se estava tentando se convencer ou se estava realmente começando a acreditar.

Sem pensar muito, Anne pegou sua bolsa e se levantou de maneira apressada. Ela sabia que se ficasse ali mais um segundo, os pensamentos iam a consumir completamente. Ela precisava dar um basta nisso. Precisava esclarecer tudo com Gabriel, sem mais rodeios.

Com passos rápidos, ela saiu pela porta do café e olhou ao redor. Ele não estava mais à vista. Mas ela sabia para onde ele estava indo. **Era impossível não saber.**

**"Eu não vou deixar isso passar em branco."** pensou, determinada. Sem mais hesitações, ela começou a caminhar apressada atrás dele, pelas ruas tranquilas da cidade, com o vento frio da madrugada batendo em seu rosto.

Ela o viu a alguns metros de distância, andando com as mãos no bolso e o olhar perdido na rua, como se estivesse refletindo sobre algo importante. O movimento dos seus passos era calmo, como se ele não estivesse percebendo a presença dela.

Anne acelerou o passo, sem nem pensar direito. Ela tinha que alcançar Gabriel, mesmo que fosse para dar um basta em tudo. Mas, à medida que se aproximava, a pressão no peito aumentava. O que ela diria? Como começaria a conversa?

Quando ela o alcançou, ficou em silêncio por um instante, respirando fundo antes de chamá-lo.

— Gabriel! — Sua voz saiu mais alta do que ela queria, quase um grito, como se ela precisasse gritar para ter a coragem de confrontá-lo.

Ele parou de andar de imediato, virando-se para ela. O rosto dele estava iluminado pelas luzes da rua, mas havia algo no olhar dele que a pegou de surpresa. Algo que ela não esperava: uma leve incerteza. Ele estava... esperando?

— O que você está fazendo aqui, Anne? — Ele perguntou, a voz suave, mas com um toque de surpresa. — Achei que já tinha saído de lá.

Ela não respondeu imediatamente. Ela o observou por um momento, tentando entender o que fazer, o que dizer, mas a frustração se tornou maior do que as palavras.

— Eu não vou deixar as coisas assim. — Ela disse, sentindo o impulso de continuar sem pensar. — Eu não vou ser mais uma das suas piadinhas, Gabriel. Não vou ficar aqui esperando você se decidir sobre o que quer, o que sente. Já chega.

Ele olhou para ela, o sorriso brincando em seus lábios, mas sem a arrogância usual. Era algo mais leve, quase desconcertado.

— Eu não estou jogando, Anne. — Ele falou, o tom de sua voz mais baixo, mais sério. — O que aconteceu no café... foi mais do que eu esperava. Eu só não sei como lidar com isso, mas estou tentando, ok? Eu só não... não queria que você pensasse que estou fazendo isso por nada.

Anne sentiu uma mistura de alívio e irritação. Ele estava sendo real com ela. Mas ela não podia dar o braço a torcer tão fácil. Não depois de tudo.

Sin límites - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora