Os portões do castelo abriram-se lentamente, rangendo sob o peso do silêncio que os envolvia. A névoa densa do submundo parecia dançar ao redor de Morana enquanto ela atravessava o pátio escuro. Seus passos eram firmes, mas sua foice arrastava levemente no chão de pedra, como se carregasse o peso da batalha vencida e das vidas que havia ceifado.
As torres do castelo erguiam-se imponentes, banhadas por uma luz pálida e sombria. O ar estava impregnado com o aroma de ferro e cinzas, um lembrete constante da guerra que acabara de terminar. Morana, a ceifadora imortal, parecia intocada, sua pele pálida imaculada e seu olhar gelado fixo à frente. Mas por dentro, ela carregava algo mais pesado do que qualquer arma: a memória das almas que havia tirado.
Os corredores ecoaram com o som de seus passos, até que ela parou diante da grande sala do trono. As portas se abriram automaticamente para ela, como se o castelo reconhecesse sua dona. Morana ergueu o olhar para seu trono negro, decorado com crânios e runas antigas. Era ali que ela pertencia, entre as sombras e o silêncio.
Ela suspirou e sentou-se, cruzando as pernas elegantemente. Sua foice repousava ao seu lado, enquanto ela inclinava a cabeça levemente, perdida em pensamentos.
A guerra fora vencida. Os inimigos haviam caído. Mas o vazio ainda permanecia.
A porta ao fundo rangeu, e Killian entrou com sua habitual insolência. Ele inclinou-se contra a parede, seus olhos brilhando com uma diversão perigosa.
— Você deveria sorrir, Morana. Não é todo dia que a morte celebra uma vitória tão grandiosa.Morana lançou-lhe um olhar frio, mas havia um toque de exaustão em seus olhos.
— Celebrar? O que há para celebrar, Killian? Apenas fiz o que sempre faço. Levei o que já estava destinado a mim.Killian deu de ombros, aproximando-se lentamente.
— Talvez. Mas a maneira como você faz... bem, é sempre uma obra de arte.Morana desviou o olhar para as sombras que dançavam nas paredes. Ela sempre soubera o preço de sua existência, mas naquele momento, enquanto sentava-se em seu trono vazio, cercada por ecos de uma vitória silenciosa, algo dentro dela parecia mais pesado.
— Às vezes, me pergunto se esse ciclo terá um fim — murmurou ela, mais para si mesma do que para Killian.
Killian inclinou-se, sua voz carregada de uma leve provocação:
— E se não tiver, Morana? Talvez seja isso que nos mantém vivos... ou mortos, no seu caso. A eternidade é uma piada, mas pelo menos nós a contamos melhor do que ninguém.Ela não respondeu. Apenas fechou os olhos, deixando-se envolver pelo silêncio do castelo, enquanto as sombras a abraçavam como velhos amigos.
Killian encostou-se a uma das colunas de mármore negro, o olhar curioso fixo em Morana, que permanecia imóvel em seu trono de obsidiana. A luz tremeluzente das tochas projetava sombras inquietas sobre ela, reforçando a aura de mistério e poder que sempre a envolvia.
Ele sorriu, um sorriso que era ao mesmo tempo provocador e despretensioso, típico de alguém que sabia mexer com os nervos dela sem ultrapassar o limite.
— Como era, Morana? Antes de tudo? Quando era só você e Deus? Deve ter sido... interessante ser a primeira criação.Morana ergueu os olhos lentamente, deixando o silêncio se prolongar de propósito. Sua expressão era fria, inabalável, mas havia um leve arquejo em seus lábios, quase imperceptível, como se considerasse a ingenuidade da pergunta de Killian.
Ela inclinou levemente a cabeça para o lado, o olhar intenso como uma lâmina, cortando qualquer ideia errada que ele pudesse ter. Sua voz, quando finalmente falou, foi firme, quase cortante.
— Nunca foi só eu e Deus, Killian. — Ela apertou os dedos contra o braço do trono, o metal frio parecendo ecoar sua contenção. — E eu nunca fui a primeira.
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A morte (1º Livro da Triologia Renascer)
RomanceAsen e seus amigos decidiram brincar com o desconhecido. No entanto, o jogo tomou um rumo inesperado quando a morte, como uma presença sutil nas sombras, se viu intrigada por Asen. Uma dança perigosa entre a mortalidade e a imortalidade começou a...