• Só a gente

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Gabriel olhava para Anne, um sorriso travesso ainda dançando em seus lábios, enquanto ela tentava manter a compostura. O coração de Anne batia rápido, mas ela estava decidida. Não tinha mais paciência para os joguinhos. Precisava de respostas, e precisava delas agora.

— Eu quero saber o que está acontecendo entre a gente — Anne repetiu, encarando Gabriel diretamente. — Sem rodeios, sem essas suas provocações. Eu preciso de clareza, e estou falando sério.

Gabriel a observou por um momento, e algo em seu olhar mudou. Ele suspirou, esfregando o rosto com as mãos, como se estivesse tentando se preparar para o que vinha a seguir. Quando ele finalmente falou, seu tom estava mais suave, menos provocador.

— Ok, vamos parar com os joguinhos então. — Ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na mesa, os olhos presos nos dela. — Anne, desde o começo, você mexeu comigo. Eu gosto de te provocar, eu gosto da tensão entre a gente, mas entendo que isso pode ser confuso. E se eu for direto ao ponto... — Ele parou por um segundo, parecendo escolher bem as palavras. — Eu quero você. Não só pra essas provocações, mas de verdade. Eu sei que parece meio louco, mas é a real.

O coração de Anne deu um salto, mas ela tentou manter a calma. O que ele estava dizendo parecia... sincero. E isso mexia mais com ela do que queria admitir.

— E por que você demorou tanto pra dizer isso? — ela perguntou, sem conseguir evitar o tom levemente defensivo. — Você fica nessa de flertar, provocar, e ao mesmo tempo parece que está sempre fugindo.

Gabriel deu um sorriso pequeno, quase triste.

— Talvez eu estivesse com medo de admitir isso pra mim mesmo. — Ele olhou para ela com uma sinceridade que ela ainda não tinha visto antes. — Eu sou o tipo de cara que não costuma se apegar, sabe disso. Mas com você, é diferente. Só que eu não queria estragar tudo. Se eu avançasse rápido demais e ferrasse com tudo... não sei, acho que estava com medo de perder essa coisa boa que a gente tem, mesmo que fosse só na provocação.

Anne ficou em silêncio por um momento, processando as palavras dele. Ela entendia o que Gabriel estava tentando dizer, porque de certa forma, ela também estava na defensiva esse tempo todo. As farpas, as provocações, tudo era uma maneira de não se entregar completamente, de manter uma certa distância emocional.

Mas agora, olhando para ele, ela sabia que não queria mais aquilo. Não queria mais jogos ou meias palavras. Queria saber onde estava pisando.

— Eu também estava com medo — ela confessou, a voz mais baixa do que pretendia. — Desde o começo, achei que você era só um cara complicado, que ia me deixar mais confusa do que já sou. E, sinceramente, estava certa. Mas... — Anne parou e respirou fundo, reunindo coragem para continuar. — Acho que a gente precisa dar uma chance de verdade, sem esse monte de joguinho.

Gabriel sorriu de leve, assentindo.

— Sem joguinhos então.

Anne o encarou, ainda com uma pontada de insegurança.

— Isso significa que você está pronto para parar com essa coisa de fuga? — ela perguntou, os olhos fixos nos dele. — Porque eu não vou entrar nisso se for pra você correr na primeira oportunidade.

Gabriel se endireitou na cadeira, cruzando os braços com um ar mais sério.

— Não vou correr, Anne. Eu estou aqui, e estou dizendo que quero isso. Você e eu. De verdade.

O silêncio pairou entre eles por alguns segundos, até que Anne, finalmente, sorriu. Um sorriso genuíno, aliviado.

— Então é isso. Nada de fugas, nada de joguinhos. Só... a gente.

— Só a gente — Gabriel repetiu, um brilho travesso surgindo em seus olhos novamente. — Mas isso não significa que eu vá parar de te provocar de vez em quando.

Anne riu, balançando a cabeça.

— Isso eu já esperava.

Eles ficaram em silêncio por mais alguns instantes, o peso das palavras pairando no ar. Era estranho pensar que, depois de tantos desencontros, de tantas farpas trocadas, eles estavam finalmente em um lugar onde podiam ser honestos um com o outro.

Anne se sentiu aliviada, como se um fardo enorme tivesse sido tirado de seus ombros. Ela sabia que ainda havia muita coisa para lidar, que o caminho não seria fácil, mas, pela primeira vez, sentiu que estavam no mesmo ponto, prontos para tentar algo de verdade.

— Quer ir pra outro lugar? — Gabriel perguntou, quebrando o silêncio. — Acho que já deu desse café, e a gente tem muito pra conversar ainda.

Anne concordou, sorrindo.

— Pode ser. Mas onde?

— Sei de um lugar tranquilo. Vem comigo.

Eles pagaram a conta e saíram do café, caminhando lado a lado pelas ruas ainda vazias de Madrid..

Sin límites - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora