𝒪 𝒢𝑜𝓁𝓅𝑒 𝒹𝑜 𝑀𝒶𝓇

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A mansão Itadori, outrora símbolo de prosperidade e influência, parecia agora um gigante moribundo. A grande sala de estar, com seu lustre de cristal que já brilhou como o sol, estava mergulhada em sombras, refletindo o peso que pairava sobre os ocupantes. As tapeçarias bordadas que adornavam as paredes não conseguiam abafar a tensão no ar. Era como se os próprios muros da casa estivessem testemunhando a queda inevitável de seus donos.

Wasuke Itadori, o patriarca, estava afundado em sua poltrona de couro envelhecido, que parecia mais um trono arruinado. Seus olhos fixavam a lareira apagada, mas sua mente estava muito longe, presa em memórias e cálculos que não se resolviam. Ele passava a mão pelo rosto constantemente, um gesto que agora parecia um tique nervoso. Wasuke, outrora conhecido por sua força de caráter e franqueza, estava irreconhecível. Pela primeira vez em décadas, ele não conseguia encontrar as palavras certas.

Seus netos estavam espalhados pela sala, um reflexo da desordem emocional que sentiam. Aoi, o mais velho e usualmente calmo, permanecia de pé perto de uma janela, as mãos cruzadas nas costas, encarando o jardim com o maxilar travado. Ren estava sentado no sofá, tamborilando os dedos na borda da mesa de centro, seu nervosismo crescendo a cada segundo. Hikaru mantinha-se mais próximo do avô, os olhos cheios de preocupação e empatia. Yuna e Haruka estavam juntas em uma das poltronas, cochichando entre si, com expressões que oscilavam entre o choque e a negação.

Foi Aoi quem finalmente quebrou o silêncio sufocante. Sua voz, embora firme, carregava uma tensão palpável.

— Avô, precisamos de respostas. O que exatamente aconteceu?

Wasuke ergueu o olhar cansado para o neto mais velho. Por um momento, pareceu que ele hesitaria, mas então suspirou, pesado, e esfregou novamente o rosto. Ele parecia ter envelhecido anos em apenas um dia.

— O navio... — começou ele, a voz mais baixa do que de costume. — Nosso navio com as cargas... Ele nunca chegou ao destino.

Aoi virou-se abruptamente, os olhos estreitados.

— O quê? — Sua voz era fria e cortante, como uma lâmina recém-afiada.

Antes que o avô pudesse responder, Ren se levantou de repente, as mãos cerradas em punhos.

— Como assim o navio não chegou? O que aconteceu?

Wasuke respirou fundo, como se a própria explicação lhe drenasse as forças.

— Ele afundou. Uma tempestade no Mediterrâneo o destruiu, e toda a carga foi perdida.

O impacto daquelas palavras ecoou pela sala. Era como se o ar tivesse sido sugado do ambiente, deixando apenas um vazio angustiante.

Hikaru, sempre o mais sensível e ponderado, foi o primeiro a romper o silêncio. Sua voz saiu baixa e quase hesitante.

— Mas... e agora? O que isso significa para nós?

Wasuke baixou o olhar, incapaz de encarar os netos.

— Significa que estamos arruinados.

Haruka deixou escapar um som sufocado, enquanto Yuna agarrou a borda da poltrona como se temesse desabar.

— Não pode ser — murmurou Ren, voltando a se sentar. Ele balançava a cabeça, recusando-se a aceitar a realidade. — Deve haver algo que possamos fazer.

Aoi, no entanto, não compartilhava do mesmo otimismo. Ele deu alguns passos para frente, parando diante do avô.

— Preciso de detalhes, avô. Você está dizendo que perdemos toda a mercadoria? Tudo o que tínhamos?

A Bela e a Fera (Sukuita/ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora