Um Lar Para Chamar De Nosso.

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Evandro estreitou os olhos para Wilbert, confuso e com evidente irritação. 


— Que porra é essa, Wilbert? — Ele fixou o olhar em Wilbert, antes de desviar para Sara, agora com uma expressão ainda mais séria. — Como é que você sabe disso? Como é que ela sabe disso, porra? 


Wilbert respirou fundo, ciente de que cada palavra precisava ser medida. 


— A Sara é filha do Fontes, Evandro. — Ele declarou, as palavras saindo como um soco. — Mas ela tá do nosso lado, cara. Ela quer ajudar. A situação é séria, não é brincadeira. 


Sara deu um passo à frente, tentando manter a calma apesar da tensão no ar. 


— Meu pai tá envolvido com o Morelo. — Sua voz saiu firme, mas carregada de emoção. — Ele tem me vigiado. Contratou o Morelo pra controlar cada passo que eu dou... inclusive os encontros com o Wilbert. — Ela fez uma pausa, sentindo o peso da revelação. — Eu tô aqui porque quero ajudar vocês. Quero que vocês saibam tudo o que eu descobri. 


Evandro cruzou os braços, analisando-a por um momento longo e silencioso. Seus olhos avaliavam cada gesto dela, como se tentasse medir sua sinceridade. Finalmente, ele olhou para Wilbert, que confirmou com um aceno firme. 



— Vocês fizeram bem em me contar. — Evandro respondeu, sua voz grave. — Se o Morelo e o Fontes tão armando pra cima de mim, a gente precisa mudar os planos. — Ele se virou para Sara, o tom de voz mais brando, mas ainda cheio de determinação. — Eu sei que deve ser difícil pra você... Mas agora a gente tem que agir com calma e cautela. Tudo que você precisa fazer é voltar pra casa e... 


— Não. — Sara o interrompeu, sua voz carregada de pânico. — Eu não posso voltar pra casa. 


Ela balançou a cabeça enfaticamente, o medo estampado em cada traço de seu rosto. 



— Não dá, Evandro. — Disse Wilbert, cruzando os braços com firmeza. — O cara perdeu a noção, ele trancou a Sara dentro de casa. Ela só conseguiu sair porque fugiu. 


Evandro soltou um suspiro pesado, esfregando o rosto com a mão antes de encará-los novamente. 


— Tá bom, tá bom. — Ele disse, tentando manter a calma diante da situação. — Não se preocupa, Sara. Vou arrumar uma casa segura pra você ficar. Seu pai não vai conseguir te alcançar enquanto estiver aqui no Dendê. 


Antes que ele pudesse continuar, Wilbert cortou a conversa, envolvendo Sara pela cintura e olhando para Evandro com determinação. 


— Nem precisa disso, cara. — Disse ele, apertando Sara contra si. — Ela vai ficar comigo. 


Wilbert sorriu para Sara, que finalmente soltou um suspiro de alívio. Apesar do medo que ainda pairava sobre ela, o toque de Wilbert parecia lhe dar forças. 


Evandro os observou por um instante antes de assentir. 


— Tá bom. Mas isso significa que vocês dois têm que tomar cuidado redobrado. — Ele disse, apontando o dedo para Wilbert. — E nada de agir sem me avisar antes. O Morelo e o Fontes não são qualquer um. Eles vão reagir. 



Sara assentiu, ciente do perigo que os cercava. Ao lado de Wilbert, e agora com Evandro ciente do plano, ela sentiu uma centelha de esperança. Mas sabia que o caminho à frente seria mais perigoso do que qualquer coisa que já havia enfrentado. 







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A moto de Wilbert cortava as ruas do Dendê em silêncio, enquanto Sara se agarrava a ele, os pensamentos ainda embaralhados pelos acontecimentos recentes. O vento que batia em seu rosto trazia uma sensação de liberdade, mas também carregava o peso da incerteza. Quando finalmente pararam em frente a uma casa simples, escondida entre vielas, Wilbert desligou o motor e desceu primeiro, estendendo a mão para ajudá-la a descer. 



— Não é nenhuma mansão, mas... agora é nossa casa. — Ele disse, o sorriso caloroso tentando dissipar a tensão no ar. 



Sara olhou para a casa com atenção. Não era a primeira vez que estava ali, mas agora parecia diferente. As paredes, embora com a tinta descascada em alguns pontos, emanavam uma sensação de acolhimento. A pequena varanda, com um banco de madeira gasto, parecia convidativa. Era simples, mas tinha algo que ela não sentia há muito tempo: um lar. 


— Nossa casa? — repetiu, a voz baixa, ainda absorvendo o significado das palavras.



Wilbert, em um gesto teatral, puxou as chaves do bolso e abriu a porta.



— Bem-vinda, dona Sara. — Ele falou, segurando a porta aberta como se fosse um mordomo em um grande palácio. 



A sala era modesta, com um sofá que já vira dias melhores, uma mesa de madeira com duas cadeiras e uma TV antiga. Havia cuidado ali, um senso de conforto que, de alguma forma, fez o coração dela aquecer. 



— Não tem nada de chique aqui, princesa. — Ele disse, fechando a porta atrás deles. — Mas é nosso. Tudo aqui, Sara, é seu também. 



Ela parou no meio da sala, os olhos vagando pelo espaço enquanto os dedos roçavam no encosto do sofá. As palavras dele eram tão genuínas, tão carregadas de carinho, que um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. 



— Eu adorei. — Respondeu, virando-se para ele. — É perfeito. 



Wilbert se aproximou com um brilho nos olhos, colocando as mãos firmemente na cintura dela. 



— Perfeito é o que a gente faz nele. — Ele disse, a voz carregada de promessa. — Aqui, ninguém vai te controlar. Você tá livre pra ser quem quiser.



Surpresa com a intensidade daquelas palavras, Sara o encarou. Havia verdade no olhar dele, uma verdade que fazia seu peito apertar com uma mistura de alívio e medo. 



— Obrigada. — Murmurou, a voz embargada. 



Wilbert sorriu e a puxou para um abraço apertado, mas suave. 



— Não precisa agradecer, princesa. Aqui, você tem um lar. Um lar pra chamar de seu. 



Por um momento, Sara apenas sentiu o calor daquele abraço. Depois, com o coração batendo forte, ela ergueu o rosto para ele, e sem pensar muito, colou seus lábios nos dele. O beijo começou calmo, delicado, mas logo se intensificou, carregando toda a gratidão e a conexão que crescia entre eles. 



Quando o beijo terminou, Wilbert deu um passo para trás, sorrindo de canto, e caminhou até a pequena cozinha. 



— Agora, pra oficializar isso aqui como nossa casa, falta uma coisa muito importante. 



— O quê? — Ela perguntou, arqueando as sobrancelhas, curiosa.


Ele voltou segurando duas canecas de cerâmica simples e ergueu uma delas como se brindasse. 



— Eu comprei seu Nescau. — Disse com um sorriso brincalhão. 


Sara não conseguiu segurar o riso. Era genuíno, como se por um momento todos os problemas tivessem desaparecido. 


Enquanto Wilbert preparava o Nescau, ela olhou novamente para o ambiente. Não era apenas a casa que fazia tudo parecer diferente; era ele. Era a forma como a fazia sentir, como se finalmente pertencesse a algum lugar....um lar.










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Oi, pessoal! Como vocês estão?

Estive sumida nos últimos dias e peço desculpas. Infelizmente, minha anemia atacou e me deixou bastante mal.

Peço perdão pelo atraso nos capítulos. Como forma de compensação, esta semana vou postar capítulos novos em todas as três fanfics, começando por "Nossa Liberdade".

Espero que aceitem minhas desculpas. Beijos!

Com carinho, 
Autora.

Impuros - Nossa Liberdade.Onde histórias criam vida. Descubra agora