No Limite.

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Depois que Sara viu a notícia sobre seu pai na televisão, seus nervos estavam à flor da pele. A imagem de seu pai, envolvido em escândalos políticos, a fez sentir o peso de uma situação que parecia fugir de seu controle. A angústia e o medo a sufocavam, e ela sabia que precisava de algo para se acalmar, mesmo que fosse por alguns minutos.



Ela se levantou do sofá com uma urgência quase desesperada, andando pela casa de forma distraída, como se os próprios quatro cantos daquele espaço estivessem pressionando sua mente. Wilbert sempre tinha alguns pacotes de ouro branco guardados por ali, em lugares onde ele sabia que ninguém, exceto ele, poderia encontrar. Quando o pânico começou a tomar conta dela, sua busca se tornou mais frenética. Após alguns minutos, ela encontrou o que procurava: um pequeno saquinho escondido na gaveta da estante da sala.



Sem hesitar, Sara abriu o saquinho e despejou o pó na mesa de centro, organizando três carreiras pequenas e perfeitas. A tensão ainda a consumia, mas, ao olhar para o pó, ela sabia que poderia ao menos aliviar um pouco sua mente.


Ela levou o nariz até a primeira carreira e inalou com rapidez. O pó entrou em seu corpo como uma onda, trazendo-lhe uma sensação momentânea de alívio, embora ainda sentisse o peso da ansiedade. Sacudiu a cabeça, tentando afastar a névoa de pensamentos inquietos.


De repente, o som da porta se abrindo a fez congelar. Seus olhos se voltaram instantaneamente para a entrada. Wilbert estava ali, parado na porta, o fuzil pendurado ao redor do pescoço, mas com o semblante descontraído, como sempre. Quando seus olhos se encontraram, ela sentiu um alívio imediato, mas também uma pontada de culpa. Ele a observou com atenção, como se percebesse algo fora do lugar.



— Eu já sabia que você ia fazer isso  — Wilbert disse, olhando para ela . — Você e essa mania de querer resolver tudo sozinha


Sara o olhou, surpresa. Ele se aproximou devagar, colocando o fuzil contra a parede com uma expressão que misturava brincadeira e cumplicidade. Ele observava as linhas de pó sobre a mesa com um sorriso travesso.


— Cuidado, princesa. Esse não é um remédio que resolve tudo. — ele disse, dando um sorriso de lado.


Sara se sentiu um pouco desconfortável com a provocação, mas o efeito do pó já começava a lhe dar uma sensação de leveza. Ela soltou um suspiro e olhou para ele, mais relaxada agora.



— Eu sei o que estou fazendo, Wilbert. Não sou uma criança.  — ela respondeu, dando de ombros, tentando manter a compostura.



Wilbert deu uma risadinha baixa e, sem mais palavras, se inclinou para a frente.



— Então tá... já que você não se importa, vou fazer companhia. Afinal, não vou te deixar sozinha né. — ele brincou, abrindo o saquinho e despejando um pouco do pó sobre a mesa.



Sara assistiu enquanto ele se juntava a ela, seus olhos fixos nos movimentos dele. A ideia de Wilbert se envolver com ela de forma tão irreverente a fez sentir uma mistura de alívio e uma ponta de excitação. Ele parecia não se importar com o que estava acontecendo, mais uma vez mostrando seu jeito despreocupado e, ao mesmo tempo, o quanto ele a entendia.



Enquanto eles usavam o pó juntos, o ambiente entre os dois foi se tornando mais descontraído, e, de repente, as risadas começaram a surgir. Wilbert fazia piadas, tentando arrancar um sorriso de Sara, e ela não pôde evitar se perder por um momento na sensação de alívio, esquecendo, ao menos temporariamente, da pressão que sentia.



No entanto o tom da conversa mudou. Sara, sentindo-se mais leve e confiante, de repente tomou uma decisão impulsiva. Com um sorriso travesso no rosto, ela subiu no colo de Wilbert, sentando-se de forma desinibida. Ele estremeceu e  logo colocou as mãos na sua cintura, mantendo um semblante relaxado, embora seus olhos agora mostrassem uma leve surpresa.


— Sara... você está... — Wilbert começou, mas foi interrompido por ela.



— Eu estou bem, Wilbert — ela disse, olhando-o nos olhos, a confiança agora evidente em sua voz. — Eu sei o que estou fazendo. Não sou frágil assim. Eu sou sua mulher, e agora você vai me tratar como tal, entendeu?



Wilbert a olhou por um momento, seu olhar sério e profundo. Ele estava relutante, claro, preocupado com o que ela podia estar sentindo, mas ele não a afastou. Não havia mais a leve brincadeira de antes. Eles estavam agora em uma dinâmica diferente. Ela queria ser tratada como igual, como uma mulher forte, e ele, mais uma vez, percebeu o quanto ela estava disposta a se mostrar à altura de tudo o que estava por vir.



Ele puxou-a para mais perto, seus lábios encontrando os dela em um beijo intenso e cheio de urgência. Sara, sem hesitar, correspondeu ao beijo, sentindo o calor crescer entre eles. Não havia mais palavras a dizer, apenas o momento, a conexão, e a certeza de que ela não queria mais se esconder ou ser vista como alguém que precisava de proteção. Ela queria ser forte ao lado dele, como a mulher dele para qualquer um que fosse preciso.

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