Mais tarde naquele dia, Sara saiu do banho sentindo-se um pouco mais leve fisicamente, mas sua mente continuava um turbilhão. A água quente havia relaxado seu corpo, mas não conseguiu dissipar os pensamentos pesados que a atormentavam. Enquanto enxugava os cabelos com uma toalha, ela se olhou no espelho, os olhos fixos em seu reflexo, tentando entender como tudo havia chegado a esse ponto.
De todas as possibilidades, jamais imaginaria que Pedro fosse capaz de traí-la de maneira tão cruel. Ele era seu melhor amigo, aquele em quem confiava cegamente, e mesmo assim entregou sua relação com Wilbert para o pai dela. Sabia que Pedro não suportava Wilbert, mas nunca esperaria algo tão baixo.
Enquanto escovava os cabelos, sua frustração só aumentava. Seus pensamentos foram interrompidos pela voz familiar de Wilbert chamando por ela, do lado de fora do quarto.
— Amor, tá tudo bem? — perguntou ele, parado na porta, com um olhar preocupado.
Sara suspirou, colocando a escova de lado. Virou-se para ele e tentou sorrir, embora sua expressão cansada denunciasse seus verdadeiros sentimentos.
— Tá tudo bem… só pensando. — respondeu ela, forçando um tom despreocupado.
Wilbert caminhou até a cama e sentou-se ao lado dela, observando-a com atenção. Ele inclinou-se ligeiramente para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos.
— Eu ouvi que você encontrou o Pedro hoje. — comentou ele, direto, mas sem acusação na voz.
Sara respirou fundo e assentiu lentamente. Eles sempre haviam combinado ser honestos um com o outro, e ela não pretendia quebrar essa promessa.
— Encontrei, sim. Foi… inesperado. — murmurou, controlando a mistura de emoções que a dominavam. — Ele me seguiu até aqui, Wilbert. Queria que eu voltasse pra casa.
Os olhos de Wilbert se estreitaram, seu corpo ficando tenso.
— E o que você disse pra ele?
— Disse que não vou voltar. Minha vida não é mais lá. — Sara respirou fundo novamente, sentindo o nó em sua garganta apertar. — Mas não foi só isso. Ele acabou confessando… que foi ele quem contou ao meu pai sobre nós dois.
O semblante de Wilbert mudou instantaneamente. Ele ficou boquiaberto por um instante antes de balançar a cabeça, incrédulo.
— Eu sabia que aquele filho da puta não ia com a minha cara, mas isso? — Ele se levantou abruptamente, começando a andar de um lado para o outro pelo quarto. — Esse cara é um verdadeiro pé no saco, Sara.
Sara observou Wilbert, sentindo sua própria raiva aumentar à medida que ele falava.
— Ele sempre teve esse jeito superprotetor, mas eu nunca pensei que fosse capaz de… — Ela parou, a voz falhando, enquanto olhava para o chão.
Wilbert voltou para perto dela, ajoelhando-se em sua frente. Ele segurou suas mãos, olhando diretamente em seus olhos.
— Escuta, amor, Pedro pode até fingir que está "preocupado" com você, mas ele é egoísta. — disse ele, com firmeza. — Ele sabia exatamente o que isso podia causar pra você e fez mesmo assim. Ele não presta.
— Eu sei… — Sara murmurou, a voz baixa e carregada de decepção. — Mas ele era meu melhor amigo, Wilbert. Como ele pôde fazer isso comigo?
Wilbert suspirou, apertando suavemente as mãos dela.
— Algumas pessoas mostram quem realmente são quando não conseguem o que querem. — Ele fez uma pausa, antes de continuar com um tom mais sombrio. — E, pelo que eu vejo, Pedro quer mais do que só a sua amizade.
Sara o encarou, mordendo o lábio enquanto hesitava em responder.
— Ele disse que me ama. Jogou isso na minha cara como se justificasse o que fez, como se fosse culpa minha.
Wilbert bufou, levantando-se outra vez.
— É claro que disse. Ele tá tentando te manipular, Sara. Jogando com seus sentimentos pra te fazer se sentir culpada. Mas não deixa isso te atingir, tá? Você não tem culpa de nada.
Sara o observou, sentindo uma pontada de alívio com as palavras dele. Mesmo que ainda estivesse magoada e confusa, ter Wilbert ao seu lado fazia as coisas parecerem um pouco menos insuportáveis.
Ela se levantou e o abraçou, apertando-o com força.
— Obrigada por estar aqui. Eu não sei o que faria sem você.
Wilbert a envolveu em seus braços, beijando o topo de sua cabeça.
— A gente tá junto nessa, princesa. Sempre.
Ele segurou o rosto dela entre as mãos e passou os polegares pelas bochechas dela, como se quisesse apagar qualquer vestígio de tristeza. Em seguida, inclinou-se e deixou um selinho demorado em seus lábios.
— Eu vim aqui pra te buscar. — disse ele, com um sorriso discreto.
Sara franziu o cenho, confusa.
— Buscar?
— Falei com o Burgos. Ele vai te ajudar com o lance da sua mãe.
Os olhos dela se arregalaram, brilhando de esperança.
— Sério mesmo?
— Claro, pô. Acha que eu ia mentir pra você, princesa? — respondeu ele, com um tom de diversão, enquanto passava a mão pelos cabelos dela.
Sara sorriu, sentindo um calor confortável em seu peito. Pela primeira vez naquele dia, ela sentiu que tinha um pouco de controle sobre sua vida novamente.
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Impuros - Nossa Liberdade.
FanfictionSara Ribeiro, filha de um poderoso político, se vê atraída pelo perigoso mundo do Dendê, onde conhece Wilbert, um líder misterioso e irresistível. Em meio a segredos familiares e um romance proibido, Sara precisa decidir até onde está disposta a ir...