Sara estava sentada ao lado de Wilbert em uma sala simples de paredes amarelas desbotadas. A mobília antiquada e sem brilho parecia em desacordo com a presença imponente de Burgos, que estava à sua frente. Ele observava com calma e precisão a pilha de documentos sobre a mesa, seu olhar atento revelando que ele já estava formando uma estratégia em sua mente.
— Então, é isso — disse Burgos, folheando os papéis com a pontinha dos dedos. — Sua mãe deixou uma conta com uma boa quantia, e agora você quer o dinheiro.
Sara franziu a testa e, com firmeza, cruzou os braços sobre o peito.
— O dinheiro é meu. Minha mãe deixou ele pra mim, e eu não vou deixar ninguém tocar em um centavo do que é dela — respondeu, a voz tensa de determinação.
Burgos, sem se apressar, pousou a pasta sobre a mesa e a encarou diretamente. Um sorriso calculado se formou em seus lábios, e ele deu uma leve risada.
— Bom, querida, você veio ao homem certo.
Sara não esboçou reação imediata, ainda desconfiada da confiança excessiva de Burgos. Wilbert, ao seu lado, apoiou o cotovelo na mesa e se inclinou ligeiramente para a frente, o olhar curioso e cauteloso.
— Você acha que consegue resolver isso? — perguntou ele, com um tom de voz grave.
Burgos levantou uma sobrancelha, visivelmente surpreso pela pergunta. A resposta foi dada com um tom de voz mais enfático, quase desdenhoso.
— Estamos falando de mim, não é? — disse Burgos, seu olhar arrogante e seguro. — Eu sou o melhor advogado que você pode encontrar, nunca falhei com o Evandro, e não vou falhar com vocês.
Sara permaneceu em silêncio por um momento, o olhar fixo nele. Sua desconfiança não se dissipava facilmente, mas sua determinação só aumentava. A arrogância de Burgos estava começando a irritá-la.
— Eu não preciso que você seja apenas o melhor — disse ela, com um leve tom de irritação na voz. — Preciso que você seja excelente. Eu conheço meu pai, e sei que ele não é alguém com quem se brinca.
Burgos, surpreso por um instante, rapidamente se recompôs. Ele pegou seu telefone com a mesma calma que mantinha durante toda a conversa e começou a discar um número, enquanto ainda falava com Sara.
— Seu pai pode ser o governador, mas eu também tenho meus truques — disse ele, com um sorriso quase imperceptível no rosto. — Não se preocupe, querida. Deixe isso comigo. Só preciso de algumas informações, e logo você terá o que é seu por direito.
Sara o observava atentamente, seu olhar misturando curiosidade e desconfiança. Ela ainda não estava completamente convencida, mas sabia que, sem mais opções, precisaria confiar nele. Por enquanto.
— E quanto tempo isso vai levar? — perguntou ela, a impaciência começando a se infiltrar em sua voz.
Burgos sorriu para ela, sem parar de discar o número no telefone.
— Não se preocupe com isso. Eu cuido de tudo. O que você precisa fazer é aguardar.
Sara deu um suspiro profundo, sentindo uma mistura de alívio e apreensão. Ela sabia que estava entregando uma parte do controle de sua vida para um homem que, embora competente, não inspirava total confiança.
Enquanto Burgos continuava em sua conversa ao telefone, Wilbert olhou para Sara, percebendo o desconforto evidente no rosto dela. Ele estendeu a mão e a apertou, buscando transmitir um pouco de apoio silencioso.
— Vai dar tudo certo — disse ele, suavemente.
Sara apenas assentiu, mas sua mente estava distante. Ela ainda não sabia o que viria pela frente, mas uma coisa era certa: com Burgos envolvido, as coisas iriam se complicar antes de melhorar.
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Burgos estava sentado em frente ao gerente do banco, um homem claramente desconfortável, visivelmente nervoso sob a pressão do advogado. O ambiente estava tenso, a cada segundo que passava, o gerente parecia mais inquieto.
— Eu entendo que sua cliente queira retirar o dinheiro, doutor — começou o gerente, a voz trêmula. — Mas veja bem, existe uma cláusula no testamento da senhora Ribeiro que impede a retirada dos fundos antes de um requisito específico.
Burgos arqueou uma sobrancelha, sua postura rígida e imponente. Ele cruzou as mãos sobre a mesa, encarando o gerente com um olhar afiado, como se esperasse uma explicação mais detalhada.
— Cláusula? Que cláusula é essa? — perguntou Burgos, sua voz fria e calculada, sem revelar qualquer sinal de surpresa, mas com uma pontada de desconfiança. — Isso não estava no testamento.
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A noite estava tranquila até então. Em casa, Sara estava sentada no sofá com os pés sobre o colo de Wilbert. Ele fazia uma massagem nos pés dela enquanto o casal conversava e assistia a um filme qualquer que passava na televisão.
— Ah, com tudo que aconteceu hoje, nem te contei. — disse Sara, olhando para Wilbert.
— O que foi? — Wilbert perguntou, sem tirar os olhos da tela.
— Hoje, mais cedo, no salão, eu conheci a Geise. — contou Sara.
— Geise, a mulher do Evandro? — perguntou ele, já sabendo a resposta.
— Isso. — disse Sara, lembrando da loira. — Ela é legal. Bem engraçada. Acho que vamos nos dar muito bem.
— Fico feliz que esteja fazendo amizades, amor. — respondeu ele, sorrindo enquanto continuava a massagem.
Um sorriso suave surgiu nos lábios de Sara pelo apelido carinhoso, que sempre a deixava derretida. Mas, como nem tudo na vida é perfeito, o radinho de Wilbert apitou em cima da mesa de centro. Sara retirou suas pernas do colo de Wilbert, e ele suspirou frustrado, interrompendo o momento. Pegou rapidamente o aparelho.
— Fala comigo. — disse Wilbert pelo rádio.
— Chefe, a PF invadiu a igreja. — informou o homem do outro lado da linha.
— Puta que pariu, hein. — Wilbert respondeu, passando a mão na testa. — Não atira, porra, escutou? Não atira.
Com rapidez, Wilbert se levantou do sofá e foi até a parede, onde seu fuzil estava encostado. Sara, ainda em choque, o observou, o coração acelerando. Ela se levantou também, correndo até ele.
— Wilbert, o que você vai fazer? — perguntou, a preocupação estampada no rosto.
— Tenho que ir lá, ajudar. — Wilbert respondeu, pendurando o fuzil no pescoço. — Amor, presta atenção, fica em casa, ouviu? Não sai daqui enquanto eu não voltar.
— Wilbert... — Sara tentou protestar, mas a preocupação já tomava conta de suas palavras.
Wilbert olhou para ela, firme, e cortou qualquer tentativa de resistência.
— Não abre a porta para ninguém. — disse, com uma voz baixa, mas firme. — Tranca a porta e não abre, entendeu?
Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ele já estava saindo às pressas. O som da porta se fechando ecoou na casa silenciosa, e Sara ficou ali, sozinha, com o peso das palavras dele ainda pairando no ar.
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Impuros - Nossa Liberdade.
FanfictionSara Ribeiro, filha de um poderoso político, se vê atraída pelo perigoso mundo do Dendê, onde conhece Wilbert, um líder misterioso e irresistível. Em meio a segredos familiares e um romance proibido, Sara precisa decidir até onde está disposta a ir...