Sin límites - Gabriel Guevara

• Fracasso

O calor do churrasco já havia se dissipado, e agora o silêncio no quintal se fazia presente, mais pesado do que nunca. A conversa que Gabriel e Anne tiveram sobre a proposta de trabalho estava longe de ser resolvida, mas algo ainda pairava no ar entre eles, como uma tensão que os dois tentavam ignorar. Enquanto Gabriel se ocupava com os últimos detalhes do que parecia ser um churrasco perfeito, Anne ficou perdida em seus pensamentos. O cheiro da carne no fogo era uma distração temporária, mas nada parecia capaz de acalmar os turbilhões dentro de sua mente.

Ela se afastou, subindo as escadas para o andar de cima, e entrou no quarto. Sentou-se na cama, puxando o cigarro de maconha que tinha escondido em uma gaveta, bem no fundo, onde ela nunca imaginou que precisaria recorrer a ele novamente. Fazia meses que ela tinha parado com aquilo. Mas a tensão crescente, o medo da mudança e o peso da incerteza sobre o futuro a fizeram se render a um impulso.

Anne acendeu o cigarro, tragou profundamente, sentindo o alívio imediato na sua mente. A sensação de relaxamento tomou conta de seu corpo, mas a culpa logo a seguiu, como uma sombra indesejada.

Foi então que Gabriel apareceu na porta do quarto, com a expressão fechada e os olhos carregados de raiva.

— O que é isso, Anne? — Ele perguntou, a voz ríspida.

Anne estremeceu ao ouvir o tom agressivo, mas não se atreveu a esconder o que estava acontecendo. Ela olhou para ele, o cigarro ainda aceso entre os dedos, e suspirou, como se já soubesse que uma briga estava prestes a acontecer.

— Eu... eu estou fumando um cigarro. — Ela respondeu, tentando manter a calma, mas sentindo sua voz falhar ao ver o olhar de desaprovação de Gabriel.

— Fumando maconha? Depois de tudo o que passamos? — Gabriel não escondeu o desprezo nas palavras. — A gente tem tanta coisa pra resolver, e você vai fazer isso agora?

Anne fechou os olhos, o efeito do cigarro começando a diminuir, mas o efeito da conversa estava apenas começando.

— Gabriel, eu parei de fumar faz tempo. Você sabe disso. Só que... você me trouxe essa notícia sobre o trabalho, sobre a mudança, e eu não sei o que pensar. Eu só queria esquecer por um minuto... — A voz dela vacilou, e a frustração tomou conta dela. — Eu só não queria lidar com isso agora, não é como se fosse uma coisa que eu faça todo dia!

Gabriel deu um passo à frente, seu olhar intenso e sério.

— Não é só sobre o cigarro, Anne! É sobre você usar isso como uma fuga, como se... como se não soubesse mais o que fazer com tudo isso. Eu estou tentando ser honesto, estou tentando resolver as coisas aqui, e você... você se esconde nisso.

Anne sentiu um nó se formar no estômago. Ele estava certo, em parte. Ela estava fugindo. Mas tudo o que ela queria era um pouco de paz para processar tudo. Ela não sabia como lidar com a ideia de perder Gabriel por tanto tempo, nem como lidar com a ideia de perder o controle sobre a própria vida.

— Eu não estou me escondendo! — Ela gritou, a raiva agora tomando conta de seu corpo. — Você vai embora por um ano, Gabriel! Um ano inteiro! Como você espera que eu me sinta? Como você espera que eu me comporte quando tudo o que você faz é me dar notícias de que o que a gente tem vai mudar completamente?

Gabriel respirou fundo, o rosto tenso. Ele sabia que estava tocando em algo muito profundo, mas as palavras já estavam saindo de sua boca sem volta.

— E o que você quer que eu faça? Eu já disse que vou tentar fazer isso funcionar! Mas não adianta ficar se escondendo em coisas que só fazem mal a você! Eu não quero te perder, Anne, mas não vou ficar aqui vendo você se afundar nisso.