• A conversa

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O dia seguinte chegou com uma leveza que Anne não conseguia compreender. Depois da conversa com Gabriel no parque, algo dentro dela havia mudado, mas as perguntas e dúvidas ainda pairavam sobre sua mente. Ela ainda não sabia o que esperar do futuro, mas algo lhe dizia que ela precisava de alguém para dividir seus sentimentos, alguém que não fosse Gabriel, alguém que entendesse o que ela estava passando.

Foi então que ela decidiu ligar para Clara.

A amiga sempre soubera ser o porto seguro de Anne, o refúgio de suas angústias e os conselhos certeiros que sempre a ajudavam a tomar decisões difíceis. Clara tinha uma forma de enxergar o mundo que parecia simples, mas profunda, e Anne sabia que, se alguém conseguiria ajudá-la a entender tudo o que estava acontecendo, seria ela.

Anne se sentou no sofá, com o celular em mãos, e discou o número de Clara. O telefone tocou por alguns segundos até a amiga atender.

— Ei, Anne! Tudo bem? — Clara respondeu com a voz animada, como sempre, mas Anne percebeu um tom de preocupação logo em seguida. Clara conhecia sua amiga o suficiente para perceber quando algo estava errado.

— Eu... Eu preciso de você, Clara. Eu preciso conversar. — Anne sentiu a voz embargada, a emoção que ela tentava segurar escorrendo sem aviso.

Do outro lado da linha, Clara imediatamente mudou o tom de voz, ficando mais séria.

— Claro, amiga. Onde você está? Posso ir aí?

Anne hesitou por um segundo, mas sabia que precisava dessa conversa cara a cara.

— Me encontre no meu estúdio, daqui a meia hora. Eu preciso desabafar.

Não demorou muito para que Clara chegasse. Ela entrou com seu jeito descontraído, mas o sorriso sumiu rapidamente ao ver a expressão fechada de Anne. As duas se sentaram no sofá, e Anne respirou fundo antes de começar a falar.

— Eu não sei por onde começar... — Anne murmurou, passando a mão pelos cabelos, visivelmente tensa.

Clara, com seu jeito tranquilo, apenas aguardou, sem pressionar.

— Fala, amiga. O que aconteceu? O que está te incomodando?

Anne fechou os olhos por um instante, tentando organizar seus pensamentos. Gabriel, a notícia sobre o filme, a briga, o cigarro de maconha... tudo parecia tão confuso.

— Eu e o Gabriel... a gente teve uma briga feia. Ele vai embora para outro país, e eu estou aqui me sentindo perdida. O pior é que eu não sabia o que fazer, sabe? Ele foi muito direto, e eu... eu acabei pegando um cigarro de maconha pra tentar aliviar a tensão, e isso foi a gota d'água pra ele. Ele surtou, disse que eu estava fugindo da realidade, e não foi só isso. Ele achou que eu estava escondendo coisas dele, que eu não estava sendo sincera, e foi aí que tudo desmoronou.

Anne sentiu a garganta apertar enquanto falava, como se as palavras fossem mais pesadas do que ela imaginava.

Clara ficou em silêncio por um momento, refletindo. Ela sabia o quanto Anne amava Gabriel, mas também entendia o quão desafiador esse relacionamento podia ser. Os dois sempre pareciam estar em um ciclo de provocações e altos e baixos, e, claro, o medo de Gabriel se afastar não era algo fácil de lidar.

— Ele tem razão em se preocupar com a maconha, Anne. Mas, por outro lado, você não precisa esconder nada dele. Vocês não conversaram o suficiente antes disso, não é? — Clara perguntou, sua voz calma, tentando trazer Anne de volta à razão. — Não estou dizendo que você tem que se justificar, mas talvez fosse o momento de serem mais transparentes, sabe? O que você sente, o que você pensa... sobre tudo. O que ele vai fazer lá fora por tanto tempo... tudo isso é muito para um relacionamento só, e eu entendo a sua reação. Mas o que vocês têm é forte. Não deve ser fácil lidar com isso, mas não parece que ele queira te perder, não é?

Sin límites - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora