capítulo 2

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Kathelaine _______⭐____________

Que merda de lugar era esse?

Cada passo que eu dava parecia me deixar mais irritada. Não era só cansaço físico, era emocional também. Minha paciência estava esgotada, e tudo o que eu queria naquele momento era uma cama macia, meu celular e fones de ouvido tocando alguma música que me ajudasse a esquecer o que quer que fosse isso. A manhã mal tinha começado, mas parecia que o dia já tinha me vencido.

Era apenas oito da manhã, e eu me sentia um caco. Não sabia se era por causa das horas intermináveis que passei no carro, presa naquele banco desconfortável, ou pelo tempo que perdi andando em círculos tentando encontrar a diretoria. Agora, com as pernas doendo a cada degrau, só conseguia pensar em como meus pais foram cruéis ao me mandar para esse lugar.

A escola era imensa. Já tinha percebido isso ao entrar. Dividida em quatro prédios enormes, era uma mistura de opulência e frieza que me incomodava profundamente. O prédio principal, onde ficava a diretoria e outras salas administrativas, parecia um hotel de luxo com corredores infinitos. O segundo prédio, que parecia abrigar as salas de aula, eu só tinha visto de longe – e esperava não precisar entrar nele tão cedo. Era o tipo de lugar onde as salas eram maiores que o meu quarto antigo, o que já me deixava desanimada só de imaginar.

Os dois últimos prédios eram os dormitórios, separados por gênero. Graças a Deus por isso. A ideia de esbarrar com garotos no corredor me dava calafrios. Eu já estava no limite só de estar ali, não precisava de mais incômodos.

O problema é que eu estava subindo escadas há mais de dez minutos, e a diretora parecia incansável. Ela não dizia nada, apenas seguia na frente com passos firmes, enquanto eu tentava acompanhar sem desabar. Minhas pernas latejavam de dor, e eu começava a pensar que esse lugar queria me matar antes mesmo de me matricular oficialmente.

Quando cheguei ao quarto andar, ofegante, notei que o número de portas diminuía em cada andar. No primeiro andar, havia pelo menos trinta quartos. Ali, no quarto, eram apenas quinze. E, como se já não fosse suficiente, a diretora continuava subindo.

"Mais um andar?!" pensei, exausta. "O quinto andar não era só o terraço? Será que ela vai me fazer dormir ao ar livre?"

Minha imaginação começou a trabalhar contra mim. Seria irônico, mas talvez meus pais quisessem que eu me sentisse completamente miserável aqui. Eu subia os últimos degraus como se estivesse carregando o peso do mundo, já sem forças para questionar ou reclamar.

Ao abrir a porta do quinto andar, a luz natural invadiu meus olhos, me cegando por um instante. Pisquei algumas vezes, tentando me acostumar. O espaço era surpreendentemente amplo, com plantas por toda parte e grades altas, provavelmente para evitar quedas. Logo percebi que, além de ser um terraço, havia também um pequeno anexo. Uma mini casa, talvez?

Do lado oposto ao anexo, um elevador brilhava, funcionando perfeitamente. Mentira! Essa mulher me fez subir tudo isso de propósito? Meu corpo estava cansado demais para sentir raiva, mas minha mente registrou aquilo como um ultraje que eu não ia esquecer tão cedo.

A diretora caminhou em direção ao anexo e bateu na porta, mas ninguém respondeu. Resmungando algo como "essa pirralha nunca está onde deveria," ela tirou uma chave do bolso e abriu a porta sozinha.

Ao entrar, me deparei com um quarto pequeno, minimalista. Era limpo e organizado, mas muito longe do que eu estava acostumada. As paredes brancas e o ambiente compacto me fizeram sentir uma pontada de claustrofobia.

O espaço era dividido de forma funcional. De um lado, uma cama de casal, grande e desarrumada, com pôsteres de bandas de rock e times de basquete colados na parede. No chão, um tapete grande ocupava boa parte do espaço. Do outro lado, um sofá grande e uma TV enorme formavam uma espécie de sala improvisada.

Perto da porta, uma geladeira grande dividia espaço com uma mesa pequena para duas pessoas. As janelas amplas deixavam a luz natural inundar o quarto, mas isso não era suficiente para melhorar minha opinião sobre o lugar.

Olhei ao redor, analisando cada detalhe, e não consegui conter a indignação: "Que merda de lugar é esse," murmurei, mais para mim mesma do que para a diretora.

Meus olhos pousaram em algumas roupas largadas em cima da cama. Automaticamente, fiz uma careta de nojo. Aquilo só podia ser o quarto de um garoto.

"Eu vou dividir o quarto com um menino? Tá louca, dona? Você sabe quem eu sou? Se meu pai descobrir que estou sendo tratada assim, esse moquifo fecha! Você sabe disso, né?"

Eu me joguei na beira da cama, mesmo odiando a ideia de sentar ali. Minhas pernas estavam tão cansadas que eu simplesmente não conseguia me importar.

A diretora suspirou, como se já esperasse aquela reação, e respondeu com calma:
"Não é o quarto de um menino, minha querida. Esse é o quarto da minha filha, Amanda. Aliás, não faço ideia de onde ela está agora."

Foi então que a porta se abriu novamente, revelando uma figura que me deixou sem palavras.

A garota era alta e vestia o uniforme da escola de forma despojada, com uma bermuda e uma regata que mostravam braços fortes e definidos. Uma meia alta cobria parte de suas pernas, e seu cabelo loiro brilhava à luz do sol. Era longo, caindo até a cintura como um véu dourado.

Sua pele era clara como porcelana, e os lábios carnudos traziam um piercing prateado que captava a luz de maneira hipnotizante. Brincos brilhavam em suas orelhas, e seus olhos… Meu Deus, aqueles olhos.

Azuis como o céu mais limpo que você possa imaginar, eles pousaram nos meus e me congelaram no lugar. Era como levar um choque, uma onda de eletricidade que percorreu meu corpo inteiro.

Por um momento, esqueci onde estava, quem eu era e todo o cansaço. Só conseguia olhar para essa garota. Amanda. E algo me dizia que minha vida acabava de mudar para sempre.

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