• Estou indo embora

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Anne olhou para o celular por um longo momento. O dedo pairava sobre o botão de desbloquear, hesitando. Ela sabia o que estava prestes a fazer, sabia que era o último passo, o fim de tudo. Mas algo dentro dela, uma parte pequena e ainda presa ao que poderia ter sido, ainda a impedia de agir. Ela queria, de alguma forma, que as coisas tivessem sido diferentes. Mas o que estava acontecendo agora entre eles era insuportável, e o único caminho parecia ser seguir em frente.

Ela respirou fundo, apertou o botão e desbloqueou a conta de Gabriel.

As mensagens estavam ali, prontas para ser lidas, mas ela não tinha mais paciência para isso. Não se importava com mais desculpas, mais promessas vazias ou promessas não cumpridas. O que ela tinha a dizer era simples, direto, e muito mais difícil de escrever do que ela imaginava.

Com dedos trêmulos, ela começou a digitar, sem pensar muito:

**"Gabriel, estou deixando o anel que você me pediu em casamento em cima da mesa da sala. Não posso mais continuar com isso. Não posso mais viver assim. Eu me entreguei para você, e isso não valeu a pena. Você me ignorou até eu não aguentar mais. Não vou mais esperar por alguém que não está disposto a lutar. Não quero mais estar aqui. Estou indo embora."**

Ela parou por um segundo, lendo a mensagem. As palavras ainda pareciam pesadas, mas não havia mais volta. Não havia mais desculpas. Não havia mais espaço para as mentiras ou os mal-entendidos. Só havia a dor, e o desejo de seguir em frente.

Anne apertou "enviar" sem olhar para trás. O peso nas suas costas parecia mais leve, mas ao mesmo tempo, uma sensação de vazio tomava conta de todo o seu ser. Ela havia dado tudo o que tinha, e ele não havia valorizado. Ele não a amava mais da maneira que ela precisava.

Ela desceu para a sala, onde o anel de noivado estava sobre a mesa, como uma lembrança dolorosa de tudo o que ela pensou que poderia ser. Aquele símbolo, que em algum momento foi cheio de promessas, agora parecia um lembrete do quanto as coisas haviam dado errado.

Anne pegou o anel com um suspiro pesado, seus dedos tocando a aliança fria, e a deixou com cuidado sobre a mesa. Ela não precisava mais dele. Não precisava daquilo para se lembrar do que tinha vivido. Mas, de alguma forma, ao deixá-lo ali, algo dentro dela parecia finalmente se desfazer.

Ela pegou algumas roupas, colocou-as em uma mochila e, com o coração apertado, se dirigiu à porta. Antes de sair, ela olhou uma última vez para a casa, para o lugar onde tinham vivido juntos, onde as coisas tinham sido boas. Mas agora, tudo estava destruído. Não havia mais espaço para o amor, e a casa que um dia foi cheia de risos e promessas estava apenas vazia.

Anne fechou a porta atrás de si e deu o primeiro passo na rua. O céu estava nublado, e a cidade parecia indiferente ao que acabara de acontecer. Mas para Anne, tudo estava prestes a mudar.

Ela não sabia o que viria a seguir. Não sabia se seria capaz de lidar com a dor de deixar Gabriel para trás. Mas sabia que precisava fazer isso. Ela precisava se reencontrar, encontrar quem era sem ele, sem o peso da frustração e da decepção.

Ela não olhou para trás.

Os primeiros passos de Anne fora da casa, longe de Gabriel, pareciam pesados. Cada rua, cada esquina que ela passava, a lembrava do que ela estava deixando para trás, mas, ao mesmo tempo, sentia um vazio se esvaindo lentamente. A pressão que pesava sobre seus ombros estava começando a desaparecer, ainda que uma parte dela não conseguisse se livrar da dor que a seguia.

Ela não sabia para onde estava indo exatamente. A única coisa clara era que não queria mais estar naquele lugar. Não queria mais aquela rotina que a corroía. Então, ela decidiu seguir o instinto, caminhando sem direção, até sentir os pés cansados e o estômago vazio.

Ela parou em um café pequeno e aconchegante, com as mãos trêmulas enquanto pegava o celular. O nome de Gabriel ainda estava ali, na lista de mensagens, mas ela não teve coragem de abrir. A mensagem estava entregue. Não havia mais nada a ser dito. Ainda assim, o celular em suas mãos parecia pesar mais do que ela poderia imaginar.

Anne se sentou à mesa e pediu um café, mas o aroma não a confortou como costumava fazer. O calor da bebida não aquecia seu coração, que ainda parecia congelado pelo fim abrupto do que havia vivido. Enquanto ela observava as pessoas passarem pela rua, se sentia como uma estranha no próprio mundo, uma mulher que se via pela primeira vez sem um lugar ao qual pertencia.

O som de uma nova mensagem a fez despertar. Era Gabriel.

Ela hesitou por um instante, antes de abrir a mensagem.

"Anne... Por favor, podemos conversar? Me responde."

Os dedos dela ficaram sobre a tela, ainda indecisa. A raiva, a decepção, tudo parecia fervendo dentro dela, mas não queria ser impulsiva. Não mais. Ela já tinha tomado uma decisão.

Ela olhou para o celular, a mensagem piscando de forma insistente. O que ele esperava? Que ela voltasse atrás? Que tudo fosse apagado com algumas palavras? Ela já não tinha forças para isso. Ela já estava exausta de correr atrás de um amor que, no fim, não estava mais ali.

Então, Anne começou a digitar, sem rodeios:

"Não tenho mais o que dizer, Gabriel. Não dá mais. Acabou."

Ela não olhou para o celular novamente depois de enviar. Sabia que a resposta não viria em palavras gentis ou em promessas, mas, talvez, no silêncio. E, se houvesse algo de pior que Gabriel pudesse fazer agora, seria tentar reverter uma dor que ele já havia causado.

Após alguns minutos, a resposta chegou, mas Anne já estava decidida a não ceder.

"Anne, eu estou completamente perdido. Eu não sabia como fazer as coisas. Você tem razão, eu falhei com você... mas não era isso que eu queria."

Ela não respondeu. Havia algo dentro de si que lhe dizia que as palavras eram vazias demais. Já tinha ouvido isso antes. Já tinha acreditado nas promessas.

A verdade era que, enquanto Gabriel tentava entender o que estava acontecendo, Anne começava a entender a si mesma de novo. Ela não precisava de mais desculpas, de mais tentativas. Ela precisava, acima de tudo, de tempo para se reconstruir.

E assim, com o café esfriando ao seu lado e os pensamentos pesados em sua mente, Anne levantou-se, colocou um casaco, e saiu pela porta do café.

Sin límites - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora