• Café

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Os dias se arrastaram em Madri para Gabriel, cada um mais vazio que o anterior. Ele não sabia como lidar com a casa sem Anne. O silêncio parecia ecoar em cada canto, lembrando-o do que ele havia perdido. Ele tinha as coisas dela ainda espalhadas pela casa, um lembrete constante do caos que ele causara. O anel de noivado ainda estava ali, no lugar onde ele o havia deixado dias atrás, como um peso que ele não conseguia tirar de cima dos seus ombros.

Ele passava o tempo no trabalho, em eventos, tentando preencher o vazio com a agitação, mas a cada instante livre, o vazio voltava. As lembranças dela, os momentos em que riam juntos, as noites em que ficavam acordados até tarde, falando sobre tudo e sobre nada, eram agora apenas sombras distantes que o perseguiam. Ele sabia que tinha perdido Anne, mas ainda não sabia como aceitar que ela não voltaria.

Naquela manhã, Gabriel acordou com uma sensação de angústia que não conseguia afastar. Ele sabia que precisava fazer algo, mas o que? Ele já tentara se afastar, já tentara lidar com a dor de ficar longe dela, mas agora, a cada dia que passava, ele sentia que não podia mais viver com a incerteza. Ele precisava de respostas, e as únicas respostas que ele sabia que poderia encontrar seriam aquelas que viessem dela.

Decidiu que, naquele dia, iria atrás de Anne. Não mais com palavras de desculpas, mas com a verdade. Ele sabia que não poderia mais esperar. Ele tinha que tentar, ou perderia ela para sempre.

Enquanto arrumava as coisas e se preparava para sair, a campainha tocou. Ele não esperava ninguém, mas quando abriu a porta, encontrou Clara novamente, com o rosto sério e um olhar que ele já conhecia muito bem. Ela vinha com um recado. Uma visita que ele não poderia mais adiar.

— Anne pediu para você encontrá-la, Gabriel. Ela... ela quer falar com você. — Clara disse, com a voz baixa, mas firme. — Não sei o que ela pensa agora, mas... talvez ainda haja uma chance.

Gabriel ficou parado por um momento, a surpresa e o alívio se misturando dentro dele. Mas ao mesmo tempo, o medo também o dominou. O que Anne queria? E, mais importante, ele estava realmente pronto para encarar as consequências do que havia feito?

— Ela está bem? — foi a primeira coisa que ele perguntou.

Clara deu um leve sorriso, tentando amenizar a tensão.

— Ela está tentando se encontrar, Gabriel. Como você. Só não espere que ela vá te perdoar de imediato. Você precisa ser honesto com ela, mais do que nunca.

Gabriel respirou fundo. Ele sabia que não poderia adiar mais essa conversa. Ele precisava saber o que ainda restava entre eles, se havia algo mais a ser reconstruído, ou se ele já havia perdido a chance de consertar o que estragara.

— Eu sei. — Ele respondeu, tentando disfarçar o nervosismo. — Eu vou lá agora.

***

Quando Gabriel chegou ao local combinado, um pequeno café em um canto tranquilo da cidade, Anne estava sentada em uma mesa perto da janela, olhando para a rua, como se esperasse algo ou alguém. Ela não parecia surpresa ao vê-lo, mas seu olhar estava distante, como se ela estivesse tomando o tempo dela para processar tudo o que havia acontecido. Ela estava diferente, mais calma talvez, mas ainda assim, Gabriel sentia a mesma tensão no ar.

Anne levantou os olhos quando ele se aproximou, mas não sorriu. Não havia acolhimento, apenas uma calma fria, como se ela estivesse se protegendo de algo.

Gabriel se sentou à mesa, mas não disse nada. Por um longo momento, os dois ficaram ali, em silêncio, como se o tempo tivesse parado e agora, só restavam as palavras que precisavam ser ditas.

— O que você quer, Gabriel? — Anne finalmente falou, a voz mais suave do que ele esperava, mas cheia de uma firmeza que ele reconhecia bem.

Ele respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos. Ele não sabia por onde começar, mas sabia que não podia mais esconder seus sentimentos.

Sin límites - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora