• Mas eu estou aqui

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O barulho das taças de vinho se tocando ecoou pelo café vazio, enquanto Anne e Gabriel permaneciam ali, sentados frente a frente, em silêncio. A conversa com Henrique ainda pairava no ar, mas ambos pareciam ter um entendimento tácito de que aquilo era algo que precisavam deixar para trás. Eles estavam ali agora, e era disso que importava.

Anne observava o líquido tinto em sua taça, os olhos fixos nele, mas sem realmente ver. Gabriel estava mais relaxado agora, sua postura ainda tensa, mas algo nele parecia diferente. Talvez fosse o peso da situação com Henrique finalmente se dissipando, ou quem sabe a leve promessa de um novo começo, algo que ele ainda não sabia como construir, mas estava disposto a tentar.

— Eu sei que não é simples, Anne. — Gabriel disse finalmente, sua voz baixa, mas carregada de sinceridade. Ele olhou nos olhos dela, buscando alguma reação. — Sei que tudo o que fiz foi errado, e que talvez eu tenha demorado demais para perceber o que realmente importa. Mas eu estou aqui. E quero que a gente construa alguma coisa sólida. Não vai ser fácil, mas... eu vou tentar.

Anne respirou fundo e levantou a taça de vinho, fazendo um pequeno brinde silencioso entre eles. Ela sabia que as palavras de Gabriel não eram apenas uma tentativa de suavizar a dor dos últimos tempos, mas sim uma promessa. Ele estava tentando, e isso já era mais do que ela esperava.

— Eu não sei se vou conseguir te perdoar de uma vez. — Anne disse, sua voz suave, mas firme. — Mas eu preciso de tempo. Eu preciso confiar em mim mesma primeiro, antes de confiar em alguém mais.

Gabriel assentiu, compreendendo o peso das palavras dela. Ele sabia que não seria fácil reconquistar a confiança que ele mesmo havia quebrado, e que o tempo seria a única medida para isso. Ele se inclinou um pouco para frente, colocando a taça de vinho na mesa e entrelaçando seus dedos.

— E eu vou te dar esse tempo, Anne. Vou esperar o quanto for necessário. — Gabriel respondeu, sua voz grave e determinada. — Mas eu estou aqui. Vou estar sempre aqui, esperando.

Anne olhou para ele, seus olhos suavizando, embora ainda carregando um certo receio. Mas, ao mesmo tempo, havia algo reconfortante na maneira como Gabriel falava, como se ele realmente estivesse disposto a fazer o que fosse necessário para que as coisas entre eles funcionassem.

A conversa ficou em silêncio por alguns momentos, até que a campainha da porta do café soou, sinalizando a chegada de um cliente. Gabriel e Anne se olharam rapidamente, como se algo não dito entre eles tivesse sido finalmente entendido. O peso da briga, das palavras de Henrique, já estava se afastando.

— Vamos sair daqui? — Anne perguntou, quebrando o silêncio. Seu olhar era mais suave agora, e uma pequena ideia de normalidade começava a se formar entre eles.

Gabriel sorriu levemente, com um toque de alívio em seus olhos.

— Vamos. — Ele respondeu, pegando a taça de vinho de Anne com uma gentileza que ela não esperava, e se levantando da cadeira.

Os dois saíram do café, e o ar fresco da noite os envolveu. As ruas de Madrid estavam tranquilas, com as luzes dos postes refletindo nas calçadas molhadas pela chuva que tinha caído mais cedo. Eles caminharam lado a lado, mas agora com algo mais entre eles: uma espécie de entendimento silencioso de que, apesar de tudo, ambos ainda estavam ali, prontos para dar o próximo passo.

— Onde você quer ir? — Gabriel perguntou, quebrando o silêncio novamente, seus passos se sincronizando com os dela.

Anne olhou para ele, pensando por um momento, e então sorriu de leve.

— Que tal uma caminhada? Eu gosto de andar e pensar. Pode ser bom.

Gabriel assentiu, sem hesitar. Ele estava disposto a fazer qualquer coisa para mostrar que estava ali, ao lado dela. Mesmo que fosse apenas uma caminhada, ele sabia que cada momento contava.

Sin límites - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora